Nas imagens, o entregador levanta a camisa para mostrar que não estava armadoReprodução

Rio - O entregador Nilton Ramon, 24 anos, baleado por um policial militar após uma discussão por causa de um pedido, permanece internado em estado grave na manhã desta terça-feira (5). Ao DIA, a irmã da vítima, Stefany Ramos, 28, revelou que a família está em desespero e pediu por Justiça, já que o agente não foi preso. Segundo a Polícia Civil, ele apenas se apresentou à delegacia, foi ouvido e liberado, enquanto as investigações estão em andamento.

Emocionada, a irmã contou que Nilton levou um tiro na perna, que atingiu a veia femoral, que garante que o sangue dos membros inferiores seja levado até a veia cava, a principal do corpo.

"Ele está no CTI, grave, não está acordado, está entubado, já passou por cirurgia. Eles conseguiram conter o sangramento, mas no momento ele ainda não acordou", lamentou.

Segundo Stefany, o irmão trabalhava pelo Ifood fazendo entregas na região e o pedido do cliente foi de uma loja de açaí.

"Eu peço Justiça porque além do meu irmão ter ido embora, o policial foi atrás dele não satisfeito porque ele não quis entregar o pedido. Eu estou muito triste, minha família está abalada, minha mãe mora em Saquarema e está vindo pra cá, está todo mundo tenso por isso, porque ele pode não voltar", disse enquanto segurava o choro.

A família segundo Stefany é composta por seis irmãos. No momento, a tia paterna do jovem o acompanha no Hospital Salgado Filho, no Méier. "Eu ainda estou pegando algumas informações, como ele não está em condições, a gente não sabe detalhes. Só sei que tiraram a arma dele (do policial) e ele foi liberado”, contou.

Ainda segundo a Polícia Civil, imagens do fato estão sendo analisadas e testemunhas serão ouvidas. O caso foi encaminhado para a 28ª DP (Praça Seca). Investigações estão em andamento para esclarecer os fatos.

Entenda o caso

Nilton fazia entregas de bicicleta, mas se negou a entrar no condomínio, com a recusa do cliente de encontrá-lo na portaria retornou ao estabelecimento. Minutos depois, o policial identificado como Roy Martins Cavalcanti foi até o local armado, localizado na Praça Saiqui, em Vila Valqueire.

O entregador filmou os momentos antes de ser baleado, em que o PM já aparece com a arma na cintura.

"Não tô armado, sou trabalhador. Estou sendo ameaçado, ele está querendo me agredir, mostrou a arma na minha cara. Tira a arma e faz na mão", disse Nilton.

Já o agente, alegou que o entregador foi mal educado com sua mulher, que teria feito o pedido. "Trabalhador o caral****, minha mulher te tratou com maior educação, vai tomar no seu **. Seja educado, não se propõe a fazer entrega? Então seja educado, minha mulher tem 42 anos e te respondeu na maior educação", falou.

Após ser baleado, o PM teria prestado os primeiros socorros e ido embora em seguida. O Corpo de Bombeiros foi acionado e encaminhou a vítima à unidade de saúde.

Segundo a Polícia Militar, a Corregedoria abriu um procedimento apuratório para averiguar as circunstâncias do fato.
À reportagem não conseguiu contato com a defesa do PM. O espaço está aberto para manifestações.]
O que diz o Ifood?
Após mais um episódio de violência contra entregadores, O DIA conversou com a gerente de impacto social da marca, Tatiane Alves, que repudiu o caso e esclareceu que a empresa está à disposição da família.
"O que aconteceu com o Nilton é inaceitável, condenável e a gente espera que não fique impune. Já entramos em contato com a família e nos colocamos a disposição no que for necessário, oferecendo apoio jurídico e psicológico. Vamos continuar acompanhando de perto para prestar todo suporte", disse.
Em relação ao cliente, ele já foi banido da plataforma. "O ifood tem uma política contra discriminação e violência onde a gente prevê quais condutas não são aceitas, como a gente age em relação aos agressores e também para proteger a vítima. Então já tomamos as medidas para desativar a conta e prestar todo suporte a família do Nilton", reforçou Tatiane.
Como o entregador pode pedir apoio em casos como esse?
Ainda segundo a gerente comercial, a empresa tem um projeto de apoio júridico e psicológico aos entregadores, com possibilidade de atendimento presencial no edifício sede das Black Sisters in Law (BSL) - coletivo de advogadas negras - que fornece assistência para profissionais vítimas de qualquer tipo de violência.
"Dentro do aplicativo existe uma possibilidade de reporte de casos graves, então basta o entregador descrever o caso e uma pessoa do time do ifood entra em contato, faz o primeiro acolhimento e depois oferece apoio. Quando o entregador aceita, uma sister, que é uma advogada do projeto, entra em contato com ele", explica.

Dentre os casos que recebem apoio são os de discriminação, ameaça, agressão física e que envolvam violência sexual.
"No Rio, especificamente, esse ano inauguramos um espaço na Penha, onde os entregadores podem se dirigir para reportar esses casos, sem nem precisar reportar na plataforma, pode ir lá direto que vai ter atendimento por uma advogada. Todos os casos elegíveis são atendimentos, para quem mora longe, a gente entra em contato, disponibiliza uma advogada mais perto e sessões de psicoterapia online", disse.
Entregador não é obrigado a entrar em condomínio
Por fim, Tatiane reforçou que os entregadores e clientes são orientados a realizarem e receberem a entrega no primeiro ponto de contato, ou seja, se for em uma residência, no portão, se for em um condomínio na portaria.

Além disso, o ifood também tem uma parceria com o Secovi Rio (Sindicato da Habitação do Rio de Janeiro), para conscientização de moradores e capacitação de porteiros e síndicos de condomínios da cidade. Em algumas cidades como Fortaleza, por exemplo, esse pedido virou lei.