Entregadores fazem protesto em frente ao hospital Salgado Filho, onde Nilton Ramon está internadoCleber Mendes / Agência O Dia
Sem querer ser identificado, um colega de Ramon afirmou que a plataforma deixa a desejar em relação à segurança dos entregadores cadastrados. "Nós botamos em pauta a questão do tempo de espera na porta do cliente. Tem um limite muito alto para quem trabalha a noite e em ruas desertas", disse.
Outro trabalhador que compartilha da sensação de insegurança é o Léo Família, presidente do "Família 2 Rodas", associação de entregadores de Niterói. Ele diz que "só quer trabalhar para ganhar o pão de cada dia".
"Essa sensação de insegurança não passa nunca. Está cada dia que passa de mal a pior. Saímos pra ganhar o pão de cada dia e não sabemos se voltamos para casa. Resta orar todos os dias para Deus nos proteger, só assim", completou.
O iFood esclareceu que "a obrigação do entregador é deixar o pedido no primeiro ponto de contato, seja o portão da casa ou a portaria do prédio". E reforçou que essa é a recomendação passada aos entregadores e aos consumidores.
Levantamento do Fogo Cruzado mostra que, nos últimos oito anos, 44 entregadores foram baleados na região metropolitana do Rio de Janeiro, com 36 mortes. A maioria dos alvos tem três pontos em comum: homens, faixa etária de 18 a 25 anos e pele negra.
Mais da metade dos casos ocorreram na capital, enquanto São Gonçalo aparece oito vezes. Maricá, Japeri, Nova Iguaçu, Queimados e Niterói também registraram ocorrências no período.
Entenda o caso
Nilton se negou a entrar no condomínio para entregar o pedido. Com a recusa, ele retornou ao estabelecimento. Minutos depois, o policial foi armado até a loja, na Praça Saiqui.
O entregador filmou os momentos antes de ser baleado, em que o PM já aparece com a arma na cintura. "Não estou armado, sou trabalhador. Estou sendo ameaçado, ele está querendo me agredir, mostrou a arma na minha cara. Tira a arma e faz na mão", disse Nilton.
O agente, por sua vez, alegou que o motoboy foi mal educado com sua mulher, que teria feito o pedido. "Trabalhador, o c..., minha mulher te tratou com maior educação, vai tomar no ... Seja educado, não se propõe a fazer entrega? Então seja educado, minha mulher tem 42 anos e te respondeu na maior educação", falou. Após atirar no rapaz, o PM teria prestado os primeiros socorros e ido embora em seguida.
O motoboy está internado em estado grave no Hospital Salgado Filho, no Méier, Zona Norte, desde a madrugada desta terça. Ele foi atingido com um tiro na coxa. A bala, segundo parentes, atravessou a perna direita e atingiu duas artérias. Ele precisou ser submetido a duas cirurgias e recebeu bolsas de sangue.
A Polícia Civil afirmou que Rony se apresentou na 32ª DP (Taquara) e foi ouvido. De acordo com a corporação, "/imagens do fato estão sendo analisadas e testemunhas serão ouvidas". O caso foi encaminhado para a 28ª DP (Praça Seca). A Corregedoria da PM também abriu um procedimento para apurar o fato. A arma chegou a ser acautelada, mas foi devolvida.
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