Rio - Amigos e familiares se reuniram no Estação Net Rio, em Botafogo, durante a manhã e tarde desta terça-feira (14) para prestar homenagens e se despedir do ator e diretor Paulo César Peréio. O artista foi velado de 10h às 15h. O hall do tradicional cinema ganhou cartazes de trabalhos estrelados pelo ator e coroas de flores, inclusive com mensagens bem-humoradas, como "Sem frescura, P%#&@!", um dos bordões de Peréio, que faleceu no último domingo (12), aos 83 anos.
Associações de cinema e atores como Stepan Nercessian e Zezé Motta, presidente e vice do Retiro dos Artistas respectivamente, também enviaram homenagens. Peréio vivia na centenária instituição, localizada em Jacarepaguá, desde 2020.
Em um momento marcante da cerimônia, o filho João Velho derramou pipoca sobre o corpo do pai. "Pipoca é cinema", falou. O irmão Thomaz Velho emendou um "Viva, Peréio", seguido de aplausos e gritos gerais. O veterano atuou em mais de 60 filmes, entre eles "Os Fuzis" e "Terra em Transe". O documentário "Peréio, eu te odeio", de Allan Sieber e Tasso Dourado, que retrata a vida do ator, foi exibido aos amigos e fãs, na sala 5 do Estação.
"Foi o último trabalho que conseguimos terminar a tempo dele assistir", contou a filha Lara Velho. Ao discursar sobre o pai, ela contou que Peréio a tratava como "chefa" e como "filho mais velho".
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O filho Thomaz Velho declarou que estava feliz e destacou o aprendizado com o pai de não se preocupar tanto com os pequenos detalhes, mas de ter uma visão mais ampla da vida. "Não tem tristeza, mas sim emoção da perda, do luto. No fundo, o final da vida do Peréio não foi só aqui no cinema, mas no Retiro dos Artistas, esse lugar incrível, espiritual e maravilhoso. O Peréio me ensinou a caminhar pela vida. Ele pegava a gente de carro e não dizia para onde estávamos indo. Ele ia viajar sem se planejar tanto. É importante a gente não se preocupar tanto com os detalhes e olhar para o todo. Para uma vida maior", declarou Thomaz.
O ator João Velho ressaltou que o pai era um amante de poesia. "O legado do meu pai no cinema, na cultura, no teatro, é inestimável. Ele falava que não era um ator dramático, mas uma personalidade performática. Ele estava o tempo todo vestindo a capa de super-herói, que era uma espécie de 'super anti-herói'. Meu pai era um poeta em seu jeito de encarar a vida", contou o ator.
A atriz e apresentadora Cissa Guimarães afirmou que o ex-marido era reconhecido por ser um ícone da interpretação e da dramaturgia. "Dentro disso, ele tinha uma irreverência, uma transgressão. Um artista que não é irreverente, não é um artista. Ele era corajoso. Não tinha medo de dizer o que achava. Tinha postura sociopolítica. Tenho muito orgulho de ter sido companheira dele. Muita gratidão de ser mãe dos filhos dele. É uma perda para todos nós. O Brasil perde um grande ator e um grande ser humano", declarou Cissa.
O ator Tonico Pereira disse que Peréio era um "provocador interpretativo" e que a relação dos dois não se limitou à parceria profissional. "Ele fazia os outros atores como eu ficarem mais espertos em cena. Era um improviso maravilhoso, uma noção geral e ele nos provocava. Eu tô na esperança de ser um dia um Peréio. A gente viveu experiências loucas e lindas. Hoje tem uma certa caretice na vida, na interpretação. Os atores são muito formais. O Peréio liberava pra gente. Ficávamos felizes com os resultados. Já estou com saudades", contou Tonico Pereira. Os dois contracenaram no filme "A Lira do Delírio", de Walter Lima Jr.
O cineasta Neville d'Almeida definiu o amigo como "brutal e delicado" e discursou contra o etarismo na indústria do cinema. "Peréio teve 65 anos dedicado ao cinema, à cultura, à arte. O etarismo no cinema não pode continuar", disse.
Os atores Antonio Pitanga e Osmar Prado também foram se despedir do ator.
O enterro foi realizado no fim da tarde, no Cemitério São João Batista, no mesmo bairro.
Doença no fígado
Peréio tratava uma doença hepática. O ator deu entrada no Hospital Casa São Bernardo, na Barra da Tijuca, na madrugada de domingo.
Segundo a direção da unidade, ele chegou em estado grave. Apesar de todo o suporte, o artista não resistiu e veio a óbito.
Paulo César nasceu na cidade de Alegrete, no Rio Grande do Sul, em 19 de outubro de 1940. Acumulou trabalhos marcantes na TV, no teatro e no cinema, onde trabalhou com grandes diretores como Glauber Rocha, Hector Babenco, Arnaldo Jabor, entre outros.
Na televisão, Peréio atuou nas novelas "Partido Alto", "Roque Santeiro", "Mandala", o "Salvador da Pátria", "A Viagem" e "Duas Caras".
Peréio foi casado com a atriz Cissa Guimarães durante 15 anos, entre 1975 e 1990, com quem teve dois filhos: Thomaz Velho e João Velho. Com a atriz Neila Tavares, o ator teve Lara Velho. O quarto filho, Gabriel, é fruto do casamento com Suzana César de Andrade. O ator tinha cinco netos.
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