A dupla teria se envolvido em uma briga de trânsito e o motorista fugiu sem prestar socorro à vítimaReprodução

Rio - O taxista Eduardo Henry Nogueira Gripp, investigado por provocar o acidente que matou o motoboy Alan Rodrigues Sales, de 22 anos, disse em depoimento que não socorreu a vítima e fugiu do local porque ficou com medo de ser linchado por grupos de motociclistas. O caso aconteceu no dia 31 de maio, em Vila Isabel, na Zona Norte. Ele foi liberado após o depoimento. 
O motorista disse à Polícia Civil que, naquela noite, Alan esbarrou com a moto no retrovisor do seu carro, causando um forte impacto. Ele então, disse que passou a seguir o motoboy, piscando o alerta do carro, na tentativa de tentar parar e resolver o prejuízo. Eduardo afirmou que o rapaz teria diminuído a velocidade antes da Rua Emília Sampaio, mas tornou a acelerar logo em seguida, na Rua Teodoro da Silva, cruzando a pista para a direita. 
Ele conta que, ao olhar para o retrovisor da direita, a fim de ver se poderia virar na pista sem colidir com outro veículo, Alan diminuiu a velocidade da moto muito rápido, e que ao olhar para a frente novamente, ele tentou frear mas acabou atingindo o veículo do rapaz. O taxista afirmou que, por reflexo, virou o volante para a esquerda, e que não viu o que o rapaz havia caído no chão. 
Ainda em depoimento, Eduardo Henry contou que olhou o retrovisor e viu a moto de Alan no chão, que pensou em voltar e ver o que aconteceu, mas que ficou muito 'nervoso' com a situação. Ele declarou que temeu por sua integridade física, visto que sabia de 'linchamentos' após acidentes com motociclistas. 
Em seguida, Eduardo disse que retornou até a loja onde trabalha como instalador de acessórios, e que guardou o veículo no local. Logo depois, ligou para um amigo advogado para pedir orientação sobre como proceder. Perdido e sem saber o que fazer, o taxista disse que foi para casa e, mais tarde, ficou sabendo de um protesto que aconteceu em frente à loja.
Câmera no veículo
Ainda durante o depoimento, Eduardo afirmou à Polícia Civil que seu veículo tem uma câmera interna, e que filmou todo o ocorrido. As imagens serão analisadas pelo delegado Leandro Gontijo, titular da 20ª DP (Vila Isabel), responsável pelas investigações. 
O taxista continuou os relatos afirmando que o carro estava com o paralamas dianteiro direito amassado devido a uma colisão com outro veículo, ocorrida em fevereiro, na Barra da Tijuca.
Ameaças de morte
O suspeito finalizou o depoimento afirmando que o ato foi um acidente, e que não tinha pretensão de causar nenhum mal a Alan. Ele disse ainda que vem recebendo ameaças de morte e que vários grupos de pessoas estão aparecendo em frente a sua casa, gritando 'assassino'. Por medo, ele não retornou mais à residência.
Logo após prestar depoimento, Eduardo Henry Nogueira Gripp foi liberado. Conforme o delegado da distrital, as investigações ainda não estão 'maduras' o suficiente para enquadrá-lo em algum crime.
Inicialmente, ele havia dito que, após analisar novas imagens de câmeras de segurança que registraram o acidente, foi possível identificar que o taxista encostou com o carro propositalmente na motocicleta, fazendo com que Alan se desequilibrasse e perdesse o controle da direção, atingindo um poste, na Rua Teodoro da Silva. Inicialmente, relatos apontaram que Eduardo também havia atropelado a vítima, mas a informação não foi confirmada. As imagens disponibilizadas pelo suspeito podem alterar o curso das investigações. 
"Eu vou analisar as filmagens que ele fez, vou pedir perícia, relatório de imagens... Não está maduro ainda para decidir", analisou.
Protesto
Mais cedo, familiares e amigos do entregador fizeram uma nova manifestação pedindo justiça pelo jovem, nesta terça-feira (4), na Praça Barão de Drumond, em Vila Isabel. Com cartazes, camisas e faixas, o grupo cobra que o motorista Eduardo Henry Nogueira Gripp, envolvido no acidente, seja preso e responda pelo crime.
"Nós queremos que esse homem pague pelo que fez. Nós acreditamos que foi de forma proposital. Ele esperou o momento certo para pegar o Alan de surpresa e imprensar ele no poste. Estamos todos destruídos e sofrendo pelo que ele fez", disse a avó do entregador, Lourdes Rodrigues, de 69 anos.
Entenda o caso
Na noite de sexta-feira (31), segundo testemunhas, Alan estava trabalhando como entregador quando, após uma discussão, foi perseguido pelo taxista, que provocou o acidente que matou o jovem. O Corpo de Bombeiros chegou a ser acionado, mas encontrou a vítima já sem vida. Depois do crime, policiais militares do 6° BPM (Tijuca) encontraram o táxi na Rua Barão de Mesquita e, no sábado (1º), motociclistas fizeram um protesto em frente ao estabelecimento.
Além do taxista, testemunhas devem ser ouvidas nos próximos dias. O corpo de Alan foi sepultado no último domingo (2), no Cemitério São Francisco de Paula, no Catumbi, na Região Central, e a despedida teve fogos, cartazes e pedidos de justiça. O funeral contou com a presença de motociclistas que chegaram ao cemitério com a motocicleta da vítima, que ficou estacionada em frente ao local. O jovem era motoboy há cinco anos e vivia com os pais e dois irmãos em Vila Isabel.