O governador disse ainda que o pai da adolescente é um militar e que os agentes envolvidos na ocorrência foram atacados a tiros na comunidade. "Segundo os policiais, eles foram atacados exatamente na região onde os motoristas de aplicativo têm denunciado. Infelizmente, a menina foi atingida. A informação que eu tenho é que tudo seguiu o protocolo. É essa guerra que a gente vive todo dia no Rio de Janeiro e que a nossa polícia está combatendo. É uma guerra que deixou de ser regional há muito tempo", disse.
Segundo a Polícia Militar, agentes do 17ºBPM (Ilha do Governador) realizavam patrulhamento na Rua Brigadeiro Newton Braga com objetivo de verificar denúncia de que traficantes locais estariam extorquindo motoristas de aplicativo.
Ainda de acordo com Castro, o estado vive uma guerra que precisa ser combatida. "Enquanto nós não endurecermos a legislação, não olharmos as questões de fronteiras, não trabalharmos na lavagem de dinheiro, a gente não vai conseguir dar efetividade a esse trabalho da polícia. E nós não faremos o terrível erro de misturar e de achar que o criminoso é 'bonzinho' e de que o policial é malvado. Temos que coibir os erros, sim, mas temos que saber qual é o nosso lado. O nosso lado é o lado do bem, o lado do povo desse estado", explicou.
A menina, A. B. B. N, é bailarina da ONG Voluntários Fazendo Criança Sorrir, com sede na Freguesia, na Ilha do Governador. Ela foi socorrida e encaminhada ao Hospital Municipal Evandro Freire, na Ilha, mas durante a manhã desta sexta-feira (14) foi transferida para o Hospital Souza Aguiar, no Centro do Rio, onde permanece internada em estado grave.
Entenda o caso
No momento em que foi baleada, a adolescente voltava do balé com uma tia, como todos os dias, quando as duas foram surpreendidas pelo tiroteio na Rua Zaquia Jorge, no sub-bairro da Freguesia. Ao DIA, uma familiar explicou que a menina foi atingida por um tiro de fuzil, que atravessou a barriga.
"A gente está precisando é que tudo seja acionado para saber como a bala entrou, como saiu, de qual arma foi efetuado o tiro na menina, porque tudo indica que a bala que pegou nela veio de policiais, foi tiro de fuzil, entrou de um lado e saiu de outro. Tudo aconteceu aqui na porta da casa da minha tia, e o tiroteio continuou mesmo quando ela foi atingida", disse.
O socorro, após a adolescente ser atingida, foi feito pela mãe e por moradores da vizinhança. "Paramos um carro no meio da rua para levar ela ao hospital. O tiroteio ainda continuou um pouco depois que ela foi baleada e o pessoal arrastou ela para dentro do portão. A mãe dela e a tia ficaram tentando se proteger com ela pedindo socorro, porque não tinha para onde correr. Depois que os tiros pararam, o pessoal tentou para algum carro para poder levar ela para o Hospital Evandro Freire", explicou a familiar.
O que diz as polícias Civil e Militar
De acordo com a Polícia Civil, os PMs narraram que estavam na comunidade da Pixunas para apurar denúncias de extorsões praticadas por traficantes contra motoristas, quando foram atacados a tiros e houve confronto.
O caso está sendo investigado na 37ªDP (Ilha do Governador). As armas dos policiais foram apreendidas e serão encaminhadas para perícia. As imagens das câmeras corporais serão requisitadas para análise. A Delegacia de Homicídios da Capital está auxiliando no andamento das investigações para esclarecer os fatos.
Procurada, a Polícia Militar reforçou que agentes do 17ºBPM (Ilha do Governador) estavam checando uma denúncia na Rua Brigadeiro Newton Braga, quando foram atacados a tiros e houve confronto. Posteriormente, os policiais foram informados que uma menina teria sido atingida por disparo de arma de fogo e encaminhada ao Hospital Municipal Evandro Freire.
Ainda segundo a corporação, os militares foram ouvidos e os armamentos utilizados recolhidos. "A Corregedoria da Polícia Militar instaurou um procedimento apuratório para apurar as circunstâncias do caso, paralelamente às investigações da 37ªDP. Vale ressaltar que a equipe utilizava câmeras operacionais portáteis, e que caso solicitada para colaboração nas investigações, as imagens serão disponibilizadas", disse em nota.
Denúncia de extorsão de motoristas de aplicativo
No início do mês, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) abriu denúncia contra sete narcomilicianos acusados de cobrar taxas de motoristas de aplicativo na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio. Aberto pelo promotor Sauvei Lai, da 2ª Promotoria de Justiça e Investigação Penal Territorial, o pedido cobra a prisão preventiva dos criminosos, que são integrantes da facção Terceiro Comando Puro (TCP) e atuam na comunidade do Dendê, Pixunas e outras localidades.
Segundo a denúncia, as vítimas são ameaçadas pelos grupo criminoso com o uso de armamento pesado, incluindo fuzis, e obrigados a pagar taxas semanais de R$ 150. A partir do pagamento, os motoristas seriam incluídos em cooperativas. Os grupos seriam chamados pelos criminosos de "Cooperativa do Crime" e "Cooperativa da Extorsão".
"Duas vítimas procuraram a Polícia Civil narrando que foram sequestradas por um grupo de criminosos armados, fortemente armados, que tiraram foto deles, filmaram, anotaram os dados pessoais, ou seja, cadastrou e fichou os motoristas e exigiram um pagamento semanal de R$ 150 reais sob pena de morte, sob pena de não poderem trabalhar na Ilha, se não, morreriam", contou o promotor Salvei Lai, em entrevista ao O DIA.
Nas últimas semanas, a Polícia Militar chegou a realizar operações no Complexo do Dendê, na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio. As ações aconteceram dias depois de sequestros sofridos por motoristas de aplicativo, que denunciam criminosos de estarem cobrando taxas para permitir que rodem na região.
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