Sofrimento e revolta marcam velório de gerente comercial morta em Caxias; viúvo culpa PMs
Gilian Martins, marido de Quetilene Soares Souza, chorou bastante durante a cerimônia de despedida. A corporação do 15º BPM alega que houve confronto na região
Gilian Martins, marido de Quetilene Soares, e a mãe da vítima no sepultamento dela - Renan Areias/ Agência O Dia
Gilian Martins, marido de Quetilene Soares, e a mãe da vítima no sepultamento delaRenan Areias/ Agência O Dia
Rio - Revoltado com a trágica morte da gerente comercial Quetilene Soares Souza, Gilian Martins, viúvo da vítima, voltou a afirmar que os responsáveis pelos disparos foram os policiais do 15º BPM (Duque de Caxias). Segundo ele, os agentes teriam entrado na comunidade do Dique, em Duque de Caxias, fazendo disparos. Gilian, a mãe da vítima, outros familiares e vizinhos compareceram ao velório, na manhã deste sábado (22), na capela da Igreja Nossa Senhora Aparecida, em Magé. O sepultamento aconteceu às 13h, no Cemitério de Raiz da Serra, no mesmo município.
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Aos gritos e chorando bastante, Gilian pediu por justiça e disse que a equipe envolvida na ocorrência estava despreparada. Na tarde de sexta-feira (21), o viúvo foi recebido pelo comandante do 15º BPM e teve uma conversa a portas fechadas. Do lado de fora do batalhão, moradores realizaram um protesto pacífico. Ele levaram cartazes com os dizeres "A favela pede paz" e "Justiça para Quetilene".
A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania (CDDHC) da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) também está em contato com a família de Quetilene. A informação foi confirmada pela deputada estadual Dani Monteiro (PSOL), presidente da Comissão. "A CDDHC se solidariza com a família da vítima e acompanhará as investigações do caso", disse a deputada.
Linhas de investigação
Até o momento, duas versões foram apresentadas à polícia e estão em investigação na DHBF. A primeira é a versão dos PMs do 15ºBPM. A equipe presente na ocorrência alega que durante um patrulhamento pela Avenida Governador Leonel de Moura Brizola-Gramacho, na altura da comunidade do Dique, a viatura foi alvo de vários disparos de arma por parte de criminosos, e houve confronto. Ao fim dos disparos, a equipe teria sido informada de que uma mulher havia sido baleada. A gerente comercial foi socorrida pelos próprios policiais para o Hospital Moacir do Carmo, mas não resistiu e morreu. Nenhuma arma, drogas ou suspeito foi apresentado à Polícia Civil.
A segunda versão é de alguns moradores e do marido da vítima, que afirmam que não havia criminosos na rua no momento dos disparos e que somente a polícia atirou na comunidade, por volta das 19h de quinta-feira (21).
Polícias civil e militar apuram o que aconteceu
A Polícia Civil interrogou os policiais militares envolvidos na ocorrência que terminou na morte da gerente comercial, na noite de quinta-feira (20), na comunidade do Dique. As câmeras corporais dos agentes também estão sendo analisadas e as armas já passaram por perícia. A Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) tenta descobrir de onde partiu o tiro que matou Quetilene e se realmente houve confronto na região. A Polícia Militar também instaurou um procedimento apuratório para averiguar as circunstâncias do fato.
Horas depois de Quetilene morrer, ainda na noite de quinta-feira (20), moradores protestaram contra PMs que estavam na região. "Vão atirando desse jeito, olha a garota morta, não é possível", disse uma vizinha.
Em imagens que circulam nas redes sociais é possível ver que a população ficou em meio ao fogo cruzado. Passageiros de um ônibus precisaram se abaixar dentro do veículo ainda durante o confronto. Um coletivo da viação Santo Antônio, linha 499 (Caxias x Parque São José), chegou a ser incendiado. Segundo a Semove, esse é o 11º veículo queimado somente este ano na Região Metropolitana.
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