Operação Polícia Civil no Complexo da Maré, nesta quarta-feira (3)Reginaldo Pimenta/Agência O Dia

Rio - Por causa de ações realizadas pelas polícias Militar e Civil em comunidades das zonas Norte e Oeste do Rio, nesta quarta-feira (3), 36 escolas da rede municipal de ensino e duas unidades estaduais foram fechadas. De acordo com a Secretaria Municipal de Educação (SME), somente na Cidade de Deus, onde seis pessoas foram mortas durante confronto, 12 escolas foram impactadas.

O número foi maior na região do Complexo da Maré, Zona Norte, onde 22 unidades de ensino municipais  interromperam as atividades presenciais. Outras duas escolas da rede estadual também foram impactadas.

O fechamento das unidades na Maré ocorreu por causa da operação da Polícia Civil na comunidade do Parque União contra um esquema de lavagem de dinheiro do tráfico na favela. A associação de moradores foi um dos alvos.

Ainda na Zona Norte, no Morro do Urubu, em Pilares, duas escolas da rede do município tiveram de ser fechadas devido a operação do 3º BPM (Méier) contra o tráfico de drogas que atua na região. Pela manhã, um PM morreu após ser baleado durante troca de tiros na localidade.
Violência provoca evasão escolar
Segundo nota técnica do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (GENI), da Universidade Federal Fluminense, em parceria com o site Fogo Cruzado, enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF), a maioria das escolas impactadas pela violência fica em áreas dominadas pelo tráfico (39%). No caso da milícia, o número de unidades afetadas em regiões controladas por paramilitares representa 11% do total.

O estudo também sinaliza para um maior número de casos de abandono escolar, especialmente no ensino médio, nas unidades onde houve mais três operações policiais num intervalo de um ano. Ao todo, 9% dos alunos largaram os estudos.

O especialista em segurança pública, professor de sociologia e coordenador do GENI Daniel Hirata, afirma que a proteção das unidades educacionais deve ser prioridade para as autoridades.

"Há diversos impactos da violência armada no Rio de Janeiro sobre a educação, um primeiro e mais evidente é a vitimização de pessoas próximas aos perímetros das unidades educacionais, das escolas e creches do Rio. Um segundo impacto, está nas instalações com a interrupção de rotinas, a questão da fixação da rotatividade de profissionais por conta do conflito armado e o impacto associado à performance escolar", avaliou, Hirata.
Prejuízos para a aprendizagem

Ainda de acordo com ele, o aprendizado dessas crianças que vivem em áreas onde a violência é rotina é prejudicado. "As crianças e adolescentes que estudam em áreas com a presença de conflito armado, elas são gravemente impactadas do ponto de vista da aprendizagem, das notas das provas", pontua.

"Tudo isso deve ser levado em conta para que consigamos fazer com que a violência armada tenha um impacto menor, sobretudo a partir da premissa de que as operações policiais são necessárias, mas muitas vezes excessivas. Portanto, a delimitação do como e quando podem acontecer operações policiais é fundamental, assim como seu monitoramento. Isso deve ser objeto pleno no julgamento de mérito da DPF 635 e posteriormente de monitoramento", completa o especialista.