Moradora mostrou a bala que quase atingiu seu maridoRede Social/"Maré não vive"

Rio - A operação de demolição de imóveis irregulares no Parque União, no Complexo da Maré, Zona Norte, segue pelo sétimo dia seguido neste domingo (25). Durante a manhã, um intenso tiroteio foi registrado na região e na comunidade vizinha, a Nova Holanda. Em imagens que circulam nas redes sociais, uma moradora chegou a mostrar um projétil que atingiu sua residência.

"Foi Deus que livrou meu marido. A gente escutou o primeiro tiro, quando ele levantou para olhar veio o segundo e atravessou a parede, só que a bala pegou no braço dele já sem força e amassada", relatou.



A ação da Polícia Civil e da Secretaria de Ordem Pública (Seop) conta com apoio da Polícia Militar. Moradores chegaram a flagrar a presença de diversos blindados da corporação nas comunidades.

Segundo a Seop, as equipes já finalizaram a demolição do pavimento de um dos prédios, o que permite a entrada das máquinas, restando apenas a desocupação dos prédios vizinhos para o trabalho com a retroescavadeira. Até o momento já foram descaracterizados 32 prédios, com mais de 162 unidades (apartamentos). A demolição das construções irregulares seguirá nos próximos dias.

No sábado, uma equipe da Secretaria de Habitação esteve na comunidade Parque União, na Maré, e cadastrou cerca de 40 unidades. Nos próximos dias será feita a análise dos cadastros feitos, verificando quais se enquadram no direito de receber o Auxílio Habitacional Temporário, sendo considerada inicialmente a lista da Associação de Moradores no primeiro dia de atuação da Seop na comunidade.

Manifestação de moradores
Nesta sexta-feira (23), mais de mil pessoas ocuparam a Avenida Brigadeiro Trompowski com faixas pedindo paz e afirmando que os apartamentos demolidos são propriedades da população local, e não do tráfico. Os comércios locais ficaram fechados. Ao todo, o condomínio de luxo abriga 40 imóveis.
Em paralelo, também nesta sexta, profissionais de educação de escolas municipais da Maré protestaram em frente à prefeitura do Rio, pedindo a suspensão das aulas, já que somente as atividades das unidades estaduais haviam sido suspensas. Eles alegaram que o protocolo de segurança não foi mantido.
Devido as operações sequenciais, escolas e clínicas da família tiveram o funcionamento afetado ao longo da semana. Duas unidades estaduais de ensino que atendem 1.424 alunos da região não abrem desde segunda-feira (19), conforme informou a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc).

Já os colégios municipais retomaram as aulas na quinta-feira (22), após 24 unidades ficarem fechadas na terça (20) e na quarta (21). A ONG Redes Maré estima que, ao todo, 9 mil alunos foram prejudicados.
Tráfico lava dinheiro com as construções

As investigações da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) apontam que o Parque União vem sendo utilizado há anos, por meio da construção e abertura de empreendimentos, para lavar o dinheiro acumulado com o comércio de drogas. Ainda conforme a Civil, no esquema, há a participação de funcionários de órgãos representativos da região, como a própria Associação de Moradores.

"As ações revelaram uma estratégia da facção criminosa de colocar ao menos uma pessoa em cada unidade habitacional para fingir que são moradores e dificultar as demolições. Na primeira fase da operação, cerca de 90% dos prédios estavam vazios", afirma a corporação.

Além da demolição, as ações resultaram na recuperação de mais de dez veículos que, segundo a Civil, são produtos de roubo ou furto, e na apreensão de grande quantidade de entorpecentes, como maconha, cocaína, crack e ecstasy, que estão sendo contabilizados.

Também ao longo da semana, foram apreendidos um fuzil, três pistolas, uma espingarda, um silenciador, seis bombas, 22 carregadores e munições. Os policiais ainda encontraram material roubado, incluindo 500 caixas de produtos de beleza, 37 galões e latões de tinta e peças de carros.