Marlene Oliveira, de 16, e Theo Tavares, de 12, lutam kickboxing em projeto no Complexo da PenhaDivulgação
Jovens atletas do Complexo da Penha pedem ajuda para representar o Brasil em competição no Chile
Theo Tavares, 12 anos, e Marlene Oliveira, 16, são primeiro lugares nos rankings de suas categorias e foram convocados para o Sulamericano de Kickboxing
Rio - Alunos de um projeto social no Complexo da Penha, Zona Norte, os atletas de kickboxing Theo Tavares, 12 anos, e Marlene Oliveira, 16, foram convocados para representar a seleção brasileira no Campeonato Sulamericano. O evento será realizado no Chile, no final de outubro e início de novembro. Ambos estão no primeiro lugar do ranking nacional de suas categorias, mas precisam de ajuda financeira para conseguir pagar a hospedagem, a viagem e outras despesas.
Os jovens talentos fazem parte de um projeto social que integra a Associação Mutantes do Ringue, que não possui ajuda governamental. A instituição foi criada pelo guarda municipal Roberto de Oliveira Claudino, 35 anos, e pela professora de kickboxing Monique Goulart. Em maio de 2023, Roberto morreu depois de ser baleado em um assalto em Cordovil, na Zona Norte.
Ao DIA, Monique contou que a iniciativa surgiu depois de observar que atletas de elite começaram a surgir no Complexo da Penha. Ela conseguiu um espaço emprestado e começou a dar aulas no local. Mesmo sem dinheiro, o projeto formou atletas promissores, como Theo e Marlene.
"Hoje, eu estou à frente da associação. Temos mais ou menos 150 associados, mas não temos caixa, nada. Quando vamos para essas competições, é por meio de rifas e ajuda solidária. Mesmo assim, nós conseguimos formar campeões brasileiros e colocar a associação entre as 10 primeiras na federação estadual de kickboxing. Já estamos em 7º colocado no Rio, no meio de quase 50. Temos um pouco mais de um ano. Isso, para mim, é um orgulho danado", destacou.
Para levar os alunos convocados pela seleção brasileira até Santiago, capital do Chile, a professora criou uma campanha em busca de ajuda financeira. "O Theo está comigo há quatro anos. Ele tem 12 e já é faixa azul. Ele está comigo desde a faixa branca. Sempre gostou de competição. Ele sempre se destacou muito, recebeu premiações. A Marlene é humilde e mora em um lugar bem de difícil acesso na comunidade. Eles treinam diariamente e é de alto rendimento, mesmo com pouca idade. Eles querem realmente seguir como atletas. Infelizmente, nós não temos recursos e, dessa vez, eles foram convocados para compor a seleção brasileira para ir ao Chile. Só que temos até o dia 15 para estar arcando com o pagamento da hospedagem e das passagens. Estamos um pouco desesperados", completou.
As doações podem ser realizadas através do site da campanha. A meta é de R$ 10 mil e, até a noite desta quarta-feira (4), o projeto conseguiu adquirir R$ 2.750.
Orgulho para os pais
Ao DIA, a família de Theo e de Marlene destacou o desejo dos filhos em crescer e vencer na vida através do esporte. Pai de Theo, Jader da Silva, 40 anos, contou que o adolescente participa de campeonatos desde os 6 anos e segue evoluindo, dando orgulho para os familiares.
"Ele já vem de muito tempo na luta, muito tempo participando de campeonato. Para mim e para a mãe dele é o maior orgulho ver a formação e a evolução dele dentro do esporte. Para ele, é como se fosse futebol. Ele gosta muito de praticar, já está desde os seis anos, já participou do Pan-americano no Espírito Santo. Agora, ele foi selecionado para o Sulamericano como primeiro lugar do ranking", destacou emocionado.
Já Janaína Lopes, de 55 anos, mãe de Marlene, explicou que a filha começou no jiu-jitsu e passou a lutar kickboxing no projeto da comunidade. Segundo ela, a adolescente vem projetando o sonho desde criança. Ela conseguiu competir em diversos campeonatos e viajou para vários lugares.
"Eu me sinto honrada. Na comunidade, para muitos, é impossível. Eu tenho visto a preocupação dela em chegar a algum lugar. Se ela conseguir o sonho dela, eu vou aplaudir. Fico feliz de ver. Ela foi a única filha que ficou comigo pois os irmãos dela seguiram a vida. Espero que eles consigam alcançar o objetivo deles e chegar a um lugar melhor. Eles têm buscado muitos patrocínios, treinando. Estão focados", ressaltou.
Legado de guarda municipal
Um dos fundadores da Associação Mutantes do Ringue, Roberto de Oliveira Claudino morreu depois de ser baleado em um assalto na Rua Comandante Coelho, em Cordovil, na Zona Norte, em maio de 2023.
Imagens gravadas por uma câmera de segurança próxima ao local mostram o guarda na porta de casa, de capacete e uma mochila, perto da motocicleta dele, quando um carro se aproxima e ao menos três criminosos armados saem do veículo. Roberto ainda tentou correr, mas foi atingido nas costas. Ele chegou a ser levado à Casa de Saúde Grande Rio, mas não resistiu.
Para Monique, que fundou a associação com o guarda, o crescimento de jovens atletas no projeto representa a realização do sonho do amigo.
"Ele sempre quis trabalhar com esse lado social, ajudar as pessoas e conseguir dar um rumo para quem não tem muita perspectiva de vida na comunidade, tirando das ruas, apresentando um esporte e formando atletas, que futuramente podem se tornar profissionais e viver disso. Isso tudo representa a realização do que o Roberto almejava", finalizou.
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