Armas que atiram bolinhas de gel viram febre entre os jovens Reprodução / Redes Sociais

Rio - Guerras com armas que disparam pequenas bolinhas de gel viraram febre entre os jovens na cidade do Rio, especialmente em comunidades das zonas Norte e Oeste. O que deveria ser apenas uma brincadeira para as crianças e adolescentes é motivo de muita preocupação para moradores e autoridades.
Vídeos que circulam nas redes sociais mostram um desses confrontos na Vila Kennedy, em Bangu, Zona Oeste. Na gravação, dezenas de pessoas aparecem andando em grupos, carregando fuzis e outras armas de gel pelas ruas da comunidade. Muitos dos jovens estavam sem camisa, enquanto outros usavam a peça para tampar o rosto. Até motos foram utilizadas na 'batalha'.
Segundo relatos de moradores, na Vila Aliança - comunidade vizinha à Vila Kennedy - uma criança foi vítima de uma das balas de gel e quase ficou cega. Nas redes sociais, muitas pessoas se mostraram assustadas e preocupadas com a movimentação. "O medo é o Caveirão bater de frente. Até ver que é brinquedo, tchau", comentou uma internauta.
Uma outra usuária alertou para os perigos que as armas podem trazer: "Mães, não deixem seus filhos participarem dessas brincadeiras. Isso machuca, se pegar na vista pode cegar. Depois do acontecido, não tem mais volta. Protejam seus filhos".
De acordo com informações da Polícia Militar, ainda não há registro, ocorrência ou apreensão envolvendo estes tipos de armas. Isso porque a venda desses produtos não é proibida, pois não se caracterizam como réplicas, como prevê o artigo 26 do Estatuto do Desarmamento. Sendo assim, os militares não podem intervir nessas batalhas, uma vez que não há infrações.
Apesar disso, as brincadeiras preocupam as autoridades. Em entrevista ao DIA, Victor dos Santos, secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, reforçou que as armas coloridas são fáceis de identificar, mas que o comportamento dos jovens nessas guerras podem colocá-los em risco.
"Nas imagens que temos visto, não é só a arma. Eles se caracterizam como criminosos e isso é um risco para eles. A compra desses materiais não é proibida, mas a forma de utilizar pode ser perigosa. Pode colocar em risco a vida deles", disse.
No sábado (21), um caminhão da Comlurb foi invadido por jovens que brincavam com essas armas no Complexo da Maré, na Zona Norte. Vídeos publicados nas redes sociais mostram os adolescentes com fuzis, subindo no veículo e exibindo as armas.
Durante a ação, pessoas aparecem correndo e gritando ao redor do caminhão, enquanto outras acompanham de moto. Depois de alguns metros percorridos em cima do veículo, eles descem e saem correndo. A companhia informou que o motorista não teve tempo de reação e a ação durou apenas alguns segundos.
Na semana passada, um influencer assustou diversas pessoas que andavam pelas ruas de Bangu, na Zona Oeste, com um exemplar de um fuzil. Em vídeo publicado em sua conta no Instagram, é possível ver um grupo de jovens em um carro de luxo com armas de gel apontadas para fora do veículo. Em certo momento, dois ocupantes chegaram a atirar pelo teto solar.
Armas não são brinquedos
O Instituto Nacional de Metrologia, Tecnologia e Qualidade (Inmetro) informou que esses objetos não são classificados como brinquedos, uma vez que não são mercadorias destinadas à crianças menores de 14 anos. Portanto, esses produtos não podem ser comercializados com o Selo de Identificação da Conformidade do Inmetro.
No entanto, o instituto entende que eles se assemelham às armas de airsoft e paintball, que a comercialização é permitida e a regulação não é de competência do Inmetro. O órgão reforça, ainda, que todas as armas de brinquedo, com ou sem projéteis, devem cumprir os requisitos e indicações de segurança estipulados.
O Instituto orienta a população que, caso encontrem no mercado formal, brinquedos e réplicas de armas de fogo com selo de identificação do Inmetro, denunciem à ouvidoria do órgão no site oficial.
*Reportagem do estagiário João Pedro Bellizzi, sob supervisão de Marcela Ribeiro