Álvaro Malaquias, o Peixão é apontado pela polícia como chefe do tráfico do Complexo de IsraelDivulgação

Rio - Traficantes do Complexo de Israel, na Zona Norte, pagaram propina de mais de R$ 170 mil para policiais militares em apenas uma semana. Em documento obtido pelo ‘Fantástico’, da TV Globo, os valores são descritos como "arrego" seguido dos apelidos dos agentes. A região, que vive uma intensa onda de violência, foi palco de uma operação na última quinta-feira (24) que provocou momentos de terror na Avenida Brasil. Na ocasião, três inocentes foram mortos.
Dominada por Álvaro Malaquias Santa Rosa, o 'Peixão', líder do Terceiro Comando Puro (TCP), a região é formada por cinco comunidades: Parada de Lucas, Vigário Geral, Cidade Alta, Pica-Pau e Cinco-Bocas.
Adepto de símbolos de Israel, como a Estrela de Davi, o traficante é conhecido por sua intolerância contra praticantes de religiões de matriz africana e costuma expulsar esses moradores de suas áreas de influência, além de determinar a invasão e depredação de centros religiosos. Contra ele, há nove mandados de prisão em aberto, a maioria por tráfico de drogas, homicídio e ocultação de cadáver.
A religiosidade de Peixão é tamanha que ele se autointitula como Arão, o profeta de Deus, irmão de Moisés. O nome foi assumido também pela sua quadrilha que se autodenomina "Tropa do Arão". O próprio Complexo de Israel, seria uma referência à terra prometida.
Além disso, o traficante também usa símbolos para marcar seus territórios, que geralmente estão colocados em pontos altos das comunidades. Na Cidade Alta, por exemplo, foi instalada uma Estrela de Davi que pode ser vista a mais de 2,5km de distância. 
Procurada pela reportagem de O DIA, a Polícia Militar informou que, de acordo com a Corregedoria Geral, existe uma investigação em andamento sobre corrupção envolvendo policiais militares que está sob sigilo e que na esfera administrativa, "os agentes são submetidos a processos administrativos disciplinares que podem resultar na exclusão dos quadros da instituição".
A corporação declarou ainda que o comando "não compactua e nem tolera quaisquer desvios de conduta, cometimento de crimes ou de abuso de autoridade praticados por seus entes, punindo com rigor os envolvidos quando constatados os fatos". 
Tiroteio na Avenida Brasil
Na última quinta-feira (24), um intenso confronto durante uma operação da Polícia Militar nas comunidades da Cidade Alta, Cinco Bocas e Pica-Pau, no Complexo de Israel, Zona Norte, deixou três homens mortos e outras três pessoas baleadas. O tiroteio interditou a Avenida Brasil e afetou a circulação de trens, linhas municipais de ônibus e do BRT. O município do Rio chegou a ficar em Estágio 2, quando há risco de ocorrência de alto impacto.
Dentre os mortos estão o motorista de aplicativo Paulo Roberto Souza, de 60 anos, o passageiro de um ônibus, Renato Oliveira, 48, e o motorista de caminhão, Geneilson Eustaque Ribeiro, 49.
- Paulo Roberto sofreu uma perfuração no crânio e chegou ao Hospital Municipal Doutor Moacyr Rodrigues do Carmo (HMMRC), em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, sem vida. O motorista de aplicativo estava com um passageiro em seu carro, que tentou o socorrer quando ele foi atingido. O idoso deixa filhos, netos e a mulher.
- Renato Oliveira estava dentro de um ônibus da Transportadora Tinguá, que fazia a linha 493 (Ponto Chic x Central), quando foi atingido por um tiro na cabeça. De acordo com um amigo da vítima, eles vinham de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, para trabalhar no Rio, quando o coletivo em que estavam foi atingido por disparos e Renato baleado.
- O motorista de caminhão Geneilson Eustaque Ribeiro também deu entrada no Hospital Municipal Doutor Moacyr do Carmo, em Duque de Caxias, depois de ser baleado na cabeça durante o confronto. A vítima foi entubada e transferida para o Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes, na mesma cidade, mas não resistiu. Ele era funcionário da Secretaria Municipal de Educação e estava fazendo entrega de material para escolas do município. 
Traficante morava em 'Resort'
Em outubro, a Polícia Civil encontrou um imóvel de luxo de Peixão em Parada de Lucas, na Zona Norte. O espaço foi descrito pelos policiais como um "resort".

Na ocasião, o delegado Fábio Asty, titular da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC), que realizou a ação, explicou que 'Peixão' morava no imóvel de luxo, mas que conseguiu fugir antes da chegada dos policiais. O espaço conta com um grande lago artificial com carpas, área de lazer e uma academia de ginástica totalmente equipada. O local tem inúmeras Estrelas de Davi, símbolo de Israel do qual o chefe do Terceiro Comando Puro (TCP) é adepto.

Em outra casa também usada por Peixão, em Vigário Geral, aparelhos de ginástica de última geração foram encontrados por policiais. No espaço, algumas máquinas tinham uma Estrela de Davi estampada.
As investigações descobriram que, além do tráfico de drogas, o grupo atuava ainda com extorsões, roubo de cargas, homicídios e na disputa territorial contra facções criminosas rivais.