Operação no Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, em 2021 terminou com 28 mortos Arquivo / Agência O Dia

Rio - O estado do Rio de Janeiro foi condenado pelo Tribunal de Justiça do Rio a pagar indenização de R$ 80 mil por danos morais à mãe de um dos 28 mortos na operação do Jacarezinho, na Zona Norte, em maio de 2021. A ação policial é considerada a mais letal da história do Rio. A investigação sobre a morte de Márcio da Silva Bezerra, de 43 anos, foi arquivada pelo Ministério Público do Rio um ano depois da operação.
Na decisão, assinada na terça-feira (3), a juíza Neusa Leite, da 14ª Vara de Fazenda Pública do Rio, considera que em casos de mortes em operações policiais, quando a perícia é inconclusiva sobre a origem de disparo, o estado é responsável pela indenização.
"O Estado é responsável por morte ou ferimento decorrente de operações policiais nos termos da Teoria do Risco Administrativo. A perícia inconclusiva sobre a origem de disparo fatal durante operações policiais e militares não é suficiente, por si só, para afastar a responsabilidade civil do estado, por constituir elemento indiciário", escreveu a magistrada. 
No processo, Edluze da Silva Bezerra, mãe de Márcio, alega que o filho estava em sua casa, na comunidade do Jacarezinho, quando por volta das 6h30 do dia 6 de maio de 2021 saiu para comprar frutas no mercado. Em seguida, ele iniciaria, segundo Edluze, mais um dia de trabalho como feirante. A mãe narra que no caminho o filho foi baleado por disparos feitos por policiais que realizavam a operação na comunidade. 
O corpo de Márcio foi levado em um veículo blindado da Polícia Militar junto com diversos outros corpos para o Hospital Municipal Evandro Freire, na Ilha do Governador. Edluze diz que o filho já estava morto ao chegar na unidade. 
Inicialmente, a Justiça determinou o pagamento de R$ 650 mil de indenização, mas o estado recorreu. Ao questionar a decisão, o estado do Rio disse que o objetivo da operação no Jacarezinho era unicamente prender criminosos que "constantemente incidiam em violação dos direitos humanos, praticando crimes como tráfico de drogas, extorsão e homicídio". Também alegou que o exame cadavérico de Márcio não apontou nenhuma evidência de execução.
"Além da 'bombinha de asma' encontrada com a vítima, foi retirado dos bolsos substância semelhante à maconha embalada em um plástico. A Folha de Antecedentes Criminais da vítima apresenta várias anotações", destacou o Estado. A Justiça atendeu o pedido de recurso e determinou o pagamento de R$ 80 mil à família de Márcio.