O músico Evaldo dos Santos Rosa com a esposa, Luciana dos SantosArquivo pessoal

Rio - A viúva do músico Evaldo dos Santos Rosa, morto em 2019 após 257 tiros serem disparados por militares do Exército contra o carro dele em Guadalupe, Zona Norte do Rio, expressou revolta e tristeza diante da decisão do Superior Tribunal Militar (STM) de reduzir as penas dos oito acusados. Na ocasião, o catador Luciano Macedo também foi baleado e morreu dias depois.
Nesta quarta-feira (18), o STM julgou um recurso apresentado pela defesa dos militares, buscando anular as condenações pelo duplo homicídio de Evaldo e Luciano. O tribunal decidiu reduzir as penas, originalmente de 28 anos, para três anos em regime aberto. O crime passou a ser classificado como homicídio culposo, quando não há intenção de matar.
"A minha reação ao saber que a condenação foi reduzida pelo STM foi de indignação, sensação de impunidade, de que justiça não existe no nosso país! A justiça não foi feita. Três anos de regime aberto? Foram 257 tiros contra uma família do bem", desabafa Luciana dos Santos ao DIA.
Inicialmente, o tenente Ítalo da Silva Nunes, chefe da ação, recebeu uma pena maior e chegou a ser condenado a 31 anos e seis meses por duplo homicídio e tentativa de homicídio, já que havia outras pessoas dentro do veículo.
Outros sete militares também chegaram a receber pena de 28 anos pelos mesmos crimes. São eles: o sargento Fábio Henrique Souza Braz; o cabo Leonardo Oliveira; o soldado Gabriel Christian Honorato; o soldado Matheus Sant'Ana; o soldado Marlon Conceição; o soldado João Lucas Costa Gonçalo; e o soldado Gabriel da Silva de Barros.
"O que eu tenho dizer aos ministros que reduziram a pena é que é lamentável. Eles perderam a oportunidade de mostrar não só para mim e minha família, mas para todo mundo que a Justiça no Brasil existe sim. Eu já não acreditava na Justiça e, de ontem em diante, estou mais desacreditada ainda", afirma a viúva. 
Advogado da família, André Perecmanis explicou que ainda é possível questionar a constitucionalidade da decisão ao Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo ele, caso a família opte por dar continuidade ao processo, isso só ocorrerá no ano que vem. "A Constituição prevê um recurso para o STF. Nós vamos avaliar com a família se eles querem recorrer", declara.
Além da sensação de injustiça, Luciana destaca o impacto permanente da tragédia em sua família. O filho do casal, hoje com 12 anos, estava no carro durante o ataque, quando tinha apenas 5 anos.
"A saudade sempre vai ficar, as lembranças, os bons momentos. Ele sempre vai ser uma pessoa presente em nossas vidas, sempre vai fazer muita falta, falta da alegria dele, do sorriso, falta daquela energia contagiante. Ele foi meu grande amigo, meu companheiro, eu perdi uma pessoa maravilhosa. Sinto muita falta, eu vou amá-lo para sempre", reflete emocionada. 
Indenização
Em abril do ano passado, a Advocacia-Geral da União (AGU) fechou um acordo para pagamento de indenização às famílias das vítimas.

O valor foi dividido da seguinte forma: R$ 493 mil serão destinados à mãe de Luciano, Aparecida Macedo; R$ 123,2 mil para cada uma das três irmãs; R$ 21,7 mil de pensão vitalícia atrasada; R$ 3,5 mil para pagamento de despesas com funeral e R$ 76,4 mil para honorários advocatícios.

Um acordo nos mesmos moldes deve ser fechado com familiares do músico Evaldo Santos.
Relembre o caso
O músico Evaldo Rosa, 51 anos, foi morto a caminho de um chá de bebê com a família quando teve o carro atingido por 62 tiros na Estrada do Camboatá, em Guadalupe. Nove atingiram a vítima. O grupamento militar alegou que teria confundido o carro do artista com o de criminosos. 
Evaldo morreu na hora, mas sua esposa, o filho e o sogro conseguiram escapar. Luciano, que estava nas proximidades e tentou ajudar a família, acabou sendo também baleado e morreu dias depois. A esposa dele estava grávida na época do crime.