Rio - A Justiça condenou oito militares do Exército pela morte do músico Evaldo Rosa e do catador Luciano Macedo, em abril de 2019, em Guadalupe. O carro que Evaldo dirigia foi atingido por mais de 80 tiros, e Luciano, ao tentar socorrê-lo, também foi baleado e morto. A condenação de oito dos 12 militares envolvidos foi aceita após pedido do Ministério Público Militar (MPM), em julgamento que durou mais de 15 horas, das 9h à meia-noite, e foi marcado pelo clima de tensão - a viúva de Evaldo chegou a passar mal.
O tentente Ítalo da Silva Nunes, chefe da ação, recebeu pena maior e foi condenado a 31 anos e seis meses por duplo homicídio e tentativa de homicídio, já que havia outras pessoas dentro do veículo. Nunes foi responsável pela maior parte dos 82 disparos contra o carro do músico, e o laudo pericial identificou 652 partículas de pólvora em sua mão. Ele também foi o primeiro a atirar, além de ser o responsável pela equipe
Outros sete militares receberam pena de 28 anos pelos mesmos crimes. São eles: o sargento Fábio Henrique Souza Braz; o cabo Leonardo Oliveira; o soldado Gabriel Christian Honorato; o soldado Matheus Sant'Ana; o soldado Marlon Conceição; o soldado João Lucas Costa Gonçalo; e o soldado Gabriel da Silva de Barros.
Os oito condenados responderão em liberdade até o fim legal do processo. Outros quatro militares julgados foram absolvidos porque, segundo as investigações, não dispararam contra o carro de Evaldo: Vitor Borges Barros; William Patrick Nascimento, motorista da viatura; Paulo Henrique Araújo, responsável pela segurança da retaguarda; e Leonardo Delfino Costa, rádio operador.
A Justiça também aceitou o pedido do Ministério Público Militar (MPM) para absolver, por falta de provas, os 12 julgados por crimes de omissão de socorro e de tentativa de homicídio por excesso de força.
Na saída, a viúva de Evaldo, Luciana dos Santos Nogueira, admitiu o sentimento de alívio pela condenação dos réus. Muito emocionada durante todo o julgamento, ela chegou a passar mal dentro do plenário, e precisou ser acudida por presentes e enfermeiros.
"Vou poder honrar a imagem do meu esposo. Chegar em casa dar a notícia para o meu filho é satisfatório. Meu medo era de não acontecer uma justiça digna, mas a justiça está sendo feita. Precisava disso", disse Luciana.
Luciana não se demonstrou insatisfeita com o pedido de absolvição dos militares que não efetuaram os disparos. "Acho que não é justo os que não fizeram pagarem pelo erro dos outros", comentou.
Promotor do MPRJ critica estratégia do advogado responsável por defesa dos militares
"Ele não enfrenta, em momento nenhum esse fato principal, ele cria um espantalho ataca e demoniza. Totalmente falacioso. A defesa limitou-se a trazer testemunhas que não presenciaram nada. Aquelas sem relevância jurídica, do tipo: 'ouviu dizer'. A defesa procura desacreditar o acusador. Não enfrenta o fato principal, os 62 tiros deflagrados contra o carro", pontuou o jurista.
Segundo ele, o advogado de defesa também dá a entender que a denúncia do MP imputa a todo Exército culpa pela ação dos oito militares.
"Quem aqui imputou ao Exército algum fato criminoso? Ninguém. Ela usa o apelo para emocionalmente embaraçar a mente dos senhores juízes militares. Os senhores estão condenando 8 acusados que violaram o código penal", disse o promotor, que conclui: "A defesa não ataca o fato principal e coloca o Exército no banco dos réus".
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