Ronnie LessaArquivo O DIA

Rio - A 1ª Vara Especializada da Capital decretou, nesta quinta-feira, a prisão preventiva de Ronnie Lessa, ex-PM acusado de matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, e sua esposa, Elaine Pereira Figueiredo Lessa, pelo crime de lavagem de dinheiro. A decisão se deu após o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), por meio da Força Tarefa do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), enviar denúncia à Justiça.
O inquérito policial que deu origem à denúncia do Gaeco e MP foi instaurado pela DH da Capital e enviado ao Departamento Geral de Combate a Corrupcao, ao Crime Organizado e a Lavagem de Dinheiro (DGCOR-LD), a partir dos indícios na investigação que apurou o envolvimento de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz nos assassinatos de Marielle e Anderson, em 14 de março de 2018. O ex-PM cumpre pena na Penitenciária Federal de Segurança Máxima de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, pelo crime.
Nas investigações dos homicídios, foram produzidos elementos que indicavam a incompatibilidade entre a renda declarada por Ronnie e o padrão de vida ostentado por ele e sua família, o que levou à investigação e confirmação de ocultação de valores e bens por meio do uso de 'laranjas'.
Colaboravam com o esquema os também denunciados Denis Lessa (irmão de Ronnie, declarado primeiro proprietário na compra de uma casa), Alexandre Motta de Souza (amigo, usado como 'laranja' na compra de uma lancha e na realização e movimentações bancárias) e Elaine ('laranja' na documentação de um veículo Jeep Renegade e que também está presa).
A partir da autorizada quebra do sigilo bancário e fiscal, foi identificado que, apesar de apresentar renda mensal média de R$ 7.095,05, Ronnie Lessa movimentou, entre 2014 e 2019, quantia milionária em suas contas bancárias, a maior parcela vinha de depósitos em dinheiro, de origem não identificada.
No mesmo período, Lessa recebeu em suas contas créditos que somam R$ 2.837.566,83 e de R$ 2.891.446,57, resultando na movimentação total de R$ 5.729.013,40, apesar da renda declarada de Ronnie para o período, na condição de reformado da PM, ser de R$ 416.226,17. A situação se agrava pelo fato de que o ex-PM não movimentava recursos apenas em suas contas, mas também em contas abertas em nome de 'laranjas', incluindo os outros denunciados.
A investigação descobriu que inúmeros bens foram adquiridos por ele, incluindo uma casa de luxo na orla da Barra da Tijuca, imóvel em Angra dos Reis, imóvel em Mangaratiba, e uma lancha de 33 pés e veículos de luxo, a maior parte deles ocultada em nome de 'laranjas'.
Além disso, segundo a denúncia do MP, "houve dissimulação em transações imobiliárias, com a declaração de valores menores na compra de um imóvel na Barra da Tijuca, de forma a ocultar a origem suspeita de seus recursos e não despertar a atenção dos órgãos de fiscalização".
"Assim, concluiu a denúncia que a movimentação financeira de Ronnie Lessa e sua evolução patrimonial não encontram mínimo lastro nos rendimentos licitamente percebidos, advindo de outros valores não declarados ao estado brasileiro, e cuja origem está ligada à prática de ações delituosas, tais como homicídios encomendados por terceiros, comércio ilegal de armas de fogo de uso restrito e participação em organizações criminosas voltadas à exploração de jogos de azar", segue o documento do MP.
"A imputação dos delitos de ‘lavagem’ de dinheiro tem como crimes antecedentes aqueles supostamente praticados pelo denunciado Ronnie Lessa e outros, onde destaca-se a possível prática de crimes dolosos contra a vida, sob encomenda de terceiros e mediante pagamento. No que diz respeito à denunciada Elaine Lessa, há indicativos de sua periculosidade e do alto grau de envolvimento nas ações criminosas lideradas por seu marido, tendo sido condenada nos autos do processo nº 0133709-65.2019.8.19.0001 pela prática do crime de obstrução de investigações que envolve organização criminosa, uma vez que, ao lado de outros comparsas, providenciou a retirada de fuzis de Ronnie Lessa, que estavam escondidos em um imóvel, jogando-os em seguida ao mar", diz um dos trechos da decisão.