Moradores ressaltam as atividades ao ar livre como um dos principais passatempos do bairroArmando Paiva / Agência O Dia
A presidente da Associação de Moradores do Jardim Sulacap, Renata Almeida, de 46 anos, ressaltou a calmaria como um dos pontos fortes da vizinhança. "A gente preza para que o bairro se mantenha com as características, não deixando de evoluir, obviamente, mas que mantenha esse ar bucólico, é um bairro sossegado. Eu tenho muito orgulho, tenho um sentimento de pertencimento muito grande ao Jardim Sulacap", afirmou.
"[O bairro] não deixa de ter diversão, lazer, mas a gente sempre procura respeitar os limites e a boa convivência. Temos muita área verde. O grande diferencial daqui é o ar bucólico, que não deixa de receber o progresso, mas a gente consegue dosar isso de uma forma que as mudanças sejam gradativas", disse.
Séculos de história
O território do Jardim Sulacap foi ocupado desde o início do século 17 por índios tupinambás da aldeia Sapopemba. Ele fez parte da Freguesia de Irajá, que abrigou a zona rural conhecida como Fazenda dos Afonsos, desmembrada em vários sítios até a fundação do bairro, em 25 de janeiro de 1945.
A partir desta data, obras deram início à modernização na área entre a antiga Estrada Real de Santa Cruz, hoje conhecida como Avenida Marechal Fontenelle, e as montanhas do Maciço da Pedra Branca.
O Jardim Sulacap também contou com ajudas comunitárias para se desenvolver. A psicóloga Allania Bicego, 50, conta que sua família é uma das pioneiras na região. "O meu avô era da polícia especial. Ele foi a pessoa que conseguiu trazer a primeira reforma para a Praça H, que hoje em dia se chama Praça Fernando Petico, e trouxe a primeira iluminação pública para lá. Ele botava os adolescentes para ajudar, fazer quadras, brinquedos, faziam muita coisa", explicou.
Já a avó de Allania, Maria Abduch Xavier, que era médica do ex-presidente da República Getúlio Vargas (1882-1954), ajudava as pessoas mais necessitadas. "Pessoas que não tinham condição de comprar medicação, às vezes encontravam com ela mesmo sem receituário, ela receitava em papel de pão", lembrou.
Tranquilidade e áreas verdes
A conexão com a natureza é uma das grandes marcas do Jardim Sulacap, rodeado pelo Parque da Pedra Branca, uma das maiores florestas urbanas do mundo. As praças, que contam com quadras esportivas e academias ao ar livre, são consideradas um dos maiores atrativos pelos moradores. Projetos de sustentabilidade e preservação ambiental são criados e incentivados por residentes. Um deles, o "Dossel, Despertando Olhares Sensíveis, Sustentáveis, Ecológicos e Lúdicos", atua na área do Morro do Cachambi. O programa "Jardim Sulacap pelo Bairro Sustentável" (JSBS) tem como objetivo gerar renda por meio da economia verde.
A beleza natural da região sempre chamou a atenção do corretor de imóveis Ério Brito, 66, que se mudou para o bairro há 17 anos. "Eu passava aqui em direção a Jacarepaguá porque fui funcionário de uma empresa de telecomunicação e o meu clube era lá. Eu falava: 'Um dia, ainda vou morar aqui'. A princípio, o que me atraiu foi a paisagem. Essas montanhas, é uma coisa que você não encontra por aí, não. E a calma, é um bairro muito calmo", disse.
"Com relação ao lazer, são mais de cinco praças, quadras, campos, espaço à vontade. É uma área estritamente residencial, praticamente um condomínio. Aqui moram poucas pessoas, porque a geografia, na parte da prefeitura, do estudo urbanístico, não permite prédios altos, a não ser nas vias principais", explicou.
O Jardim Sulacap também conta com o Museu Aeroespacial, maior museu de aviação do Brasil, e a presença de instituições militares como a Academia de Polícia Militar Dom João VI. A segurança é um dos aspectos mais elogiados pelos moradores. Um homem, que preferiu não se identificar, avaliou que o bairro é privilegiado nesse aspecto, em comparação a outros pontos do Rio.
"A questão da segurança, volta e meia acontecem alguns fatos aqui, mas fazendo um balanço geral, a gente está com uma qualidade de vida muito boa."
Ele também elogiou a infraestrutura de transportes. "Nós temos uma qualidade de vida muito boa aqui, muito verde. Não tem aquele congestionamento de trânsito. Nós temos aqui um terminal BRT, com a Transolímpica, que facilitou bastante para sair no Recreio. Moro aqui há 23 anos", ponderou.
O aposentado Milton Martins, 84, vive no Jardim Sulacap há 14 anos e não pretende se mudar. "A tranquilidade é boa, não tem assaltos que normalmente acontecem em todos os bairros. Não que não aconteça nada, mas passa despercebido, de tão tranquilo que é. Condução fácil, o acesso é fácil. Se você andar de noite aqui, vai ver as pessoas sentadas no portão, conversando. Eu gosto de fazer a minha caminhada e me exercitar na academia ao ar livre", afirmou.
Comemoração
As celebrações das oito décadas do Jardim Sulacap vão acontecer neste sábado com a exibição de um episódio do programa "O Meu Lugar", da Rio TV Câmara, dedicado à história do bairro no cinema do Parque Shopping Sulacap. Antes, haverá uma apresentação da Cia Fino da Música, grupo formado por vários artistas locais e uma homenagem especial a alguns moradores.
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