Polícia Civil realiza perícia em fábrica da Maximus Confecções após incêndio que deixou 21 vítimasReginaldo Pimenta / Agência O Dia

Rio - A Polícia Civil realizou uma perícia, nesta quinta-feira (13), para analisar se houve furto de energia na fábrica da Maximus Confecções, onde aconteceu o incêndio que deixou 21 pessoas feridas, em Ramos, na Zona Norte. Fantasias de escolas da Série Ouro eram produzidas no local para o Carnaval deste ano.
Segundo a 21ª DP (Bonsucesso), a diligência contou com o apoio de representantes da Light para saber se tinha ligação clandestina de energia no edifício. A concessionária informou que está cooperando com toda a investigação e que, por questões de segurança, interrompeu o fornecimento de energia em ruas da região. Uma outra perícia deve ser realizada no local ainda nesta quinta.
Ainda de acordo com a Civil, envolvidos e testemunhas prestarão depoimentos e a investigação segue em andamento para apurar as circunstâncias do incêndio.
No fim da tarde desta quarta-feira (12), o edifício foi interditado pelos policiais da distrital para apuração de uma possível ação criminosa. A Defesa Civil também interditou o espaço por risco de desabamento. Apesar de não possuir autorização do Corpo de Bombeiros para funcionar e constar como inapta junto à Receita Federal por omissões de declarações, a fábrica tinha licença da prefeitura para atuar com confecções.
Além das apurações da Polícia Civil, o Ministério Público do Trabalho (MPT) também instaurou um inquérito para investigar as condições de trabalho dos funcionários. Testemunhas disseram que haviam trabalhadores que dormiam no local, inclusive adolescentes.
Causa do incêndio
O perito e engenheiro civil Júlio César da Silva, professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FEN/Uerj), esteve na fábrica, na manhã desta quinta-feira (13), para acompanhar a perícia da Polícia Civil.
Para o especialista, o incêndio aconteceu devido a soma de fatores como uma suposta má conservação da instalação elétrica, o uso exagerado de equipamentos - sobrecarregando a instalação - e o acúmulo de materiais inflamáveis, como os tecidos usados para as fantasias.
"Nós não temos uma causa única para incidentes como este. A soma de problemas que vão se agregando e causam o desastre. Obviamente, tudo começa com uma falta de fiscalização das condições do ambiente. Não tínhamos a licença do Corpo de Bombeiros para funcionamento, ou seja, não vieram averiguar se as condições estavam ideais. Começa pela questão do problema de energia elétrica, agravado com o excesso de trabalho, que não foi dimensionado com a instalação que estava aí. Não tinha proteção adequada da instalação elétrica. É um conjunto de problemas e as pessoas não estavam preparadas para isso", explicou.
Segundo o engenheiro, o espaço deveria ter uma brigada de incêndio e os funcionários serem treinados para situações como esta.
"Provavelmente, a gente não tem ali dentro uma rota de fuga, não tem um treinamento, uma brigada de incêndio. A cultura de risco nossa é muito frágil. Os próprios funcionários não sabiam o risco que estavam correndo. As pessoas são contratadas para trabalhar e, infelizmente, trabalham nas condições que são dadas a elas", comentou.
Feridos
Bombeiros resgataram 21 vítimas do incêndio, prestaram os primeiros socorros e as encaminharam a unidades municipais, ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, e ao Hospital Federal Bonsucesso, ambos na Zona Norte.
O Getúlio Vargas, localizado na Penha, recebeu 10 vítimas por queimadura em via aérea após inalação de fumaça. A Secretaria de Estado de Saúde (SES) informou, nesta quinta-feira (13), que oito paciente estão em estado grave (três homens e cinco mulheres). Outras duas mulheres já receberam alta.
Também nesta quinta, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) comunicou que, das oito vítimas que foram para unidades da rede, apenas três seguem internadas: duas no Hospital Souza Aguiar, no Centro, sendo uma grave e outra estável, e uma no Hospital Salgado Filho, no Méier, com quadro estável.
Quatro pessoas já receberam alta, duas no Souza Aguiar e duas no Hospital Evandro Freire, na Ilha do Governador. Uma saiu de alta à revelia no Hospital Salgado Filho.
Além destas, três deram entrada no Hospital Federal de Bonsucesso. De acordo com a direção da unidade, as duas mulheres estão estáveis e respiram sem o balão de oxigênio. Uma delas receberá alta nesta manhã e a outra continuará em observação e, por enquanto, não há previsão de alta. O homem teve alta na tarde desta quarta-feira (12).
*Colaboração de Reginaldo Pimenta