Após ser solto, Oruam reafirma amizade com traficante: 'Ele é uma pessoa normal'
O rapper demonstrou tranquilidade ao deixar à Cidade da Polícia; ele foi preso em flagrante por abrigar em sua mansão o foragido da Justiça Yuri Pereira Gonçalves
Oruam é liberado após ser preso por abrigar foragido da Justiça - Reginaldo Pimenta/Agência O DIA
Oruam é liberado após ser preso por abrigar foragido da JustiçaReginaldo Pimenta/Agência O DIA
Rio - Após ser solto, o rapper Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, o Oruam, de 23 anos, reafirmou a amizade com o traficante Yuri Pereira Gonçalves, encontrado em sua mansão no Joá, na Zona Oeste, na manhã desta quarta-feira (26). O cantor foi preso em flagrante por favorecimento ao abrigar o amigo que estava foragido da Justiça desde 2020 por organização criminosa. Na ação, agentes da Polícia Civil apreenderam diversas armas de airsoft, celulares, uma pistola, um kit rajada, munições e rádios comunicadores.
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Oruam é alvo de uma investigação que apura um disparo feito em um condomínio de São Paulo, no dia 16 de dezembro do ano passado. Em meio ao tumulto na saída da delegacia, ele alegou que a bala era de borracha e enalteceu o seu novo álbum "Liberdade", lançado logo após ele ser detido em um blitz da Polícia Militar no último dia 20.
"Foi tranquilo, chefe. Ele não é traficante não, cara. Ele é uma pessoa normal e é meu amigo. Eu não sabia que ele estava foragido. Naquele dia, era bala de borracha. Vou voltar tranquilo para casa, chefe. O meu álbum está bombando e está do jeito que eu queria", disse.
Ainda na saída da especializada, fãs gritaram o nome do rapper. À imprensa, a defesa reforçou que Oruam não sabia da existência do mandado de prisão contra o amigo e nem da presença da pistola, que foi encontrada na sua casa.
"Nada ficou decidido, quem decide é o juiz. Não há defesa porque não há acusação formal contra meu cliente. A casa dele foi alvo de busca e apreensão, ele recebeu a polícia normalmente, que entrou e buscou o que havia no mandado, só que ela encontrou uma pessoa que havia chegado na casa dele na segunda-feira. Eles são amigos de longa data, mas ele omitiu que tinha esse mandado em aberto. Essa pessoa admitiu que tinha esses itens e vai ter um processo próprio. Oruam também não sabia da existência dessa arma", disse o advogado Fernando Henrique Cardoso.
O rapper foi liberado após assinar um termo circunstanciado, se comprometendo a comparecer ao Juizado Especial Criminal (Jecrim). De acordo com a Polícia Civil, a arma encontrada na casa do cantor estava no cômodo em que Yuri dormia. Na distrital, o traficante assumiu que a pistola o pertencia e foi autuado por porte ilegal de arma.
Ainda na ação, os agentes encontraram um anel com indicação de urso e uma igreja da Penha, na Zona Norte. A comunidade é dominada pelo criminoso Edgar Alves de Andrade, conhecido como "Doca" ou "Urso", um dos líderes do Comando Vermelho (CV).
Durante a manhã, mandados também foram cumpridos em endereços da mãe do cantor, Márcia Nepomuceno. Apesar disso, ela não é alvo de investigação. As buscas ocorreram apenas por a residência também pertencer ao rapper.
Crime em São Paulo
De acordo com o delegado Moysés Santana, titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), responsável pela investigação, Oruam foi indiciado pela prática do crime de disparo de arma de fogo, após ter colocado em risco a integridade física de diversas pessoas.
"Ele estava numa casa em São Paulo, em uma espécie de festa, pegou uma arma de calibre 12 e fez um disparo. Era uma área residencial com várias pessoas, embora tenha atirado para o alto, a gente sabe que uma pessoa despreparada, sem conhecimento e manuseio de arma de fogo, poderia ter ocasionado um acidente e ferido diversas pessoas", explicou Santana.
A ação desta quarta (26) teve como objetivo localizar e apreender a arma utilizada por Oruam, além de outros materiais que ajudem a identificar o proprietário do armamento, mas a arma não foi localizada.
"Agora nós vamos tentar novamente localizar a arma e o proprietário, vamos fazer um trabalho de investigação sobre o Yuri e porque ele estava na casa do Oruam. Diversos celulares, joias, kit rajada, munição, rádios transmissores foram apreendidos e todo esse material será periciado. Já houve deferimento de quebra de sigilo desses telefones então também serão analisados", acrescentou o delegado.
Detido em blitz
No última dia 20, Oruam foi detido durante uma blitz da Polícia Militar na Avenida Lúcio Costa, Barra da Tijuca, Zona Oeste. O cantor acabou conduzido à 16ª DP (Barra) em uma viatura após fazer uma "manobra perigosa" na frente da PM e autuado em flagrante por direção perigosa.
Na ocasião, o delegado da 16ª DP estabeleceu um valor de R$ 60 mil para a fiança, permitindo que o rapper respondesse ao processo em liberdade. Na distrital, a polícia verificou ainda que ele estava dirigindo com a carteira de habilitação vencida. Ele foi autuado também por este crime.
Poucas horas após ser solto, Oruam lançou seu primeiro álbum, "Liberdade". O artista aproveitou as imagens da prisão para promover o novo trabalho e se manifestou nas redes sociais, afirmando que responderia às críticas por meio da música. Na capa do álbum, ele aparece ao lado de sua família, todos vestindo camisetas com o rosto do pai.
Quem é Oruam?
Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, conhecido artisticamente como Oruam, foi criado na Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio. O nome artístico "Oruam" é "Mauro" escrito ao contrário. Ele é filho de Marcinho VP, um dos líderes da facção criminosa Comando Vermelho, que está preso desde 1996 por crimes como tráfico, formação de quadrilha e assassinato.
No ano passado, ele provocou polêmica ao tatuar o rosto do pai no peito. "Olha o chefe, meu chefe, Marcinho: esse daqui é o meu pai", disse ao mostrar o desenho nas redes sociais. Além dele, o rapper também tem tatuado o traficante Elias Maluco, condenado pela morte do jornalista Tim Lopes.
A carreira musical de Oruam teve início em 2021, ganhando destaque com diversos hits. Em março de 2024, durante sua apresentação no festival Lollapalooza, o cantor chamou a atenção ao entrar no palco vestindo uma camisa com a palavra "liberdade" e a imagem de seu pai, preso há 20 anos.
No início de 2025, a vereadora paulistana Amanda Vettorazzo propôs um projeto de lei que visa proibir a contratação de artistas que façam apologia ao crime, apelidado de "Lei anti-Oruam". A proposta gerou debates acalorados e levou a vereadora a registrar boletim de ocorrência devido a ameaças recebidas por parte de fãs do rapper.
Além de sua carreira musical, Oruam mantém uma forte presença nas redes sociais. Em uma delas, ele conta com 9 milhões de seguidores.
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