Rio - Em depoimento, o rapper Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, o Oruam, de 23 anos, informou não saber que o amigo Yuri Pereira Gonçalves estava foragido da Justiça. O cantor foi alvo de mandados de buscas e apreensão nesta quarta-feira (26), mas acabou preso em flagrante por abrigar em sua casa o traficante procurado por organização criminosa. Apesar disso, ele foi liberado horas depois após assinar um termo circunstanciado, se comprometendo a comparecer ao Juizado Especial Criminal (Jecrim).
Na residência do artista, uma mansão localizada no Joá, na Zona Oeste, foram apreendidas diversas armas de "airsoft", celulares, uma pistola, um kit rajada, munições e rádios comunicadores.
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Dentre os materiais apreendidos, os agentes encontraram ainda um anel com indicação de urso e uma igreja da Penha, na Zona Norte. A comunidade é dominada pelo criminoso Edgar Alves de Andrade, conhecido como "Doca" ou "Urso", um dos líderes do Comando Vermelho (CV).
De acordo com Moysés Santana, titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), a arma estava no cômodo em que Yuri dormia. Na distrital, o traficante assumiu que a pistola o pertencia.
"Ele [Oruam] falou que não sabia da situação do foragido, testemunhas disseram que ele chegou ontem na casa dele. Esse foragido tem um mandado de 2020 na vara de crime organizado, junto com ele foi encontrada uma pistola 9mm, um kit rajada, munições e rádios transmissores. Além do cumprimento de mandado, ele também vai ser autuado pelo porte desta arma, além do kit rajada e munições", explicou o delegado.
Oruam chegou à Cidade da Polícia em um carro particular acompanhado do advogado. Conforme prevê a legislação, se ele assinar um termo circunstanciado se comprometendo a se apresentar ao Juizado Especial Criminal (Jecrim), será liberado.
"É um crime de menor potencial ofensivo e por isso ele pode assinar um termo circunstanciado. A arma foi assumida pelo Yuri. Como o advogado estava presente, nós concedemos que ele viesse junto com o advogado", afirmou Santana.
Sobre a relação de Yuri e Oruam, o delegado acredita ser de amizade. "Eles chegaram ontem na residência para jogar videogame, o que foi corroborado pelas testemunhas, mas ele disse não saber da existência do mandado de prisão. Durante as buscas, a reação dele foi tranquila, se manteve tranquilo o tempo todo. Vamos agora fazer a apreensão de tudo que foi encontrado tanto na casa do Oruam, quanto na casa da mãe dele", contou.
Na mansão do artista ainda estavam presentes outros amigos, que estão sendo ouvidos na delegacia. Apesar de mandados terem sido cumpridos também em endereços da mãe do cantor, Márcia Nepomuceno, ela não é alvo de investigação. As buscas ocorreram apenas por a residência também pertencer ao rapper.
Oruam é investigado por ter atirado, no dia 16 de dezembro do ano passado, no interior de um condomínio residencial localizado em Igaratá, em São Paulo. Ele foi indiciado pela prática do crime de disparo de arma de fogo, após ter colocado em risco a integridade física de diversas pessoas.
"Ele estava numa casa em São Paulo, em uma espécie de festa, pegou uma arma de calibre 12 e fez um disparo. Era uma área residencial com várias pessoas, embora tenha atirado para o alto, a gente sabe que uma pessoa despreparada, sem conhecimento e manuseio de arma de fogo, poderia ter ocasionado um acidente e ferido diversas pessoas", explicou Santana.
A ação desta quarta (26) teve como objetivo localizar e apreender a arma utilizada por Oruam, além de outros materiais que ajudem a identificar o proprietário do armamento. Apesar disso, a pistola não foi localizada.
"Agora nós vamos tentar novamente localizar a arma e o proprietário, vamos fazer um trabalho de investigação sobre o Yuri e porque ele estava na casa do Oruam. Diversos celulares, joias, kit rajada, munição, rádios transmissores foram apreendidos e todo esse material será periciado. Já houve deferimento de quebra de sigilo desses telefones então também serão analisados", acrescentou o delegado.
O que diz a defesa do cantor?
O advogado Fernando Henrique Cardoso, que representa Oruam, reforçou que o cantor não sabia da existência do mandado de prisão contra o amigo e nem da presença da pistola, que foi encontrada na sua casa.
"A casa dele foi alvo de busca e apreensão, ele recebeu a polícia normalmente, que entrou e buscou o que havia no mandado, só que ela encontrou uma pessoa que havia chegado na casa dele na segunda-feira. Eles são amigos de longa data, mas ele omitiu que tinha esse mandado em aberto. Essa pessoa admitiu que tinha esses itens e vai ter um processo próprio. Oruam também não sabia da existência dessa arma", disse o advogado.
Detido por "manobra perigosa"
No última dia 20, Oruam foi detido durante uma blitz da Polícia Militar na Avenida Lúcio Costa, Barra da Tijuca, Zona Oeste. O cantor acabou conduzido à 16ª DP (Barra) em uma viatura após fazer uma "manobra perigosa" na frente da PM e autuado em flagrante por direção perigosa.
Na ocasião, o delegado da 16ª DP estabeleceu um valor de R$ 60 mil para a fiança, permitindo que o rapper respondesse ao processo em liberdade. Na distrital, a polícia verificou ainda que ele estava dirigindo com a carteira de habilitação vencida. Ele foi autuado também por este crime.
Poucas horas após ser solto, Oruam lançou seu primeiro álbum, "Liberdade". O artista aproveitou as imagens da prisão para promover o novo trabalho e se manifestou nas redes sociais, afirmando que responderia às críticas por meio da música. Na capa do álbum, ele aparece ao lado de sua família, todos vestindo camisetas com o rosto do pai.
Quem é Oruam?
Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, conhecido artisticamente como Oruam, foi criado na Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio. O nome artístico "Oruam" é "Mauro" escrito ao contrário. Ele é filho de Marcinho VP, um dos líderes da facção criminosa Comando Vermelho, que está preso desde 1996 por crimes como tráfico, formação de quadrilha e assassinato.
No ano passado, ele provocou polêmica ao tatuar o rosto do pai no peito. "Olha o chefe, meu chefe, Marcinho: esse daqui é o meu pai", disse ao mostrar o desenho nas redes sociais. Além dele, o rapper também tem tatuado o traficante Elias Maluco, condenado pela morte do jornalista Tim Lopes.
A carreira musical de Oruam teve início em 2021, ganhando destaque com diversos hits. Em março de 2024, durante sua apresentação no festival Lollapalooza, o cantor chamou a atenção ao entrar no palco vestindo uma camisa com a palavra "liberdade" e a imagem de seu pai, preso há 20 anos.
No início de 2025, a vereadora paulistana Amanda Vettorazzo propôs um projeto de lei que visa proibir a contratação de artistas que façam apologia ao crime, apelidado de "Lei anti-Oruam". A proposta gerou debates acalorados e levou a vereadora a registrar boletim de ocorrência devido a ameaças recebidas por parte de fãs do rapper.
Além de sua carreira musical, Oruam mantém uma forte presença nas redes sociais. Em uma delas, ele conta com 9 milhões de seguidores.
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