Por GUSTAVO RIBEIRO

Rio - Adeus, troncais e integradas 1, 2, 3, 4... A atual forma de comunicação dos trajetos dos ônibus, que deixa muitos cariocas e turistas confusos, está com dias contados. Os nomes “troncal” e “integrada”, criados durante a chamada racionalização, implantada pela gestão passada da prefeitura, serão eliminados. A decisão será determinada em breve pela Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) em resolução. As linhas extintas, modificadas e criadas na ocasião também estão sendo revistas. Terão prioridade nesta revisão as que ligam a região da Penha e Olaria ao Centro, Rio Comprido e Zona Sul, que foram encurtadas ou extintas e alvos das maiores reclamações. 

Os letreiros terão só o número da linha e o destinoAlexandre Brum / Agência O Dia

Os resultados da revisão dos percursos serão entregues ao prefeito Marcelo Crivella ainda este mês e as datas das mudanças serão anunciadas posteriormente. Na tentativa de melhorar a comunicação ao passageiro, o letreiro principal dos coletivos passará a indicar o número e o destino da linha de forma fixa, sem ficar mudando a mensagem. Segundo a SMTR, o objetivo é não confundir o usuário, como vem acontecendo desde o início do reordenamento.

Muita gente não sabe, mas cada linha troncal e integrada possui um número correspondente, que vai aparecer no letreiro acompanhado do destino, sem as inscrições como ‘TRO1’ ou ‘TRO 02’. Os números terão três digitos e começam com 1, no caso das troncais e com 5, nas integradas. (veja os números correspondentes no quadro ao lado). Troncais são linhas que percorrem os principais corredores da cidade, como Aterro do Flamengo e Túnel Santa Bárbara. As integradas circulam entre a Zona Oeste e a Zona Sul.

Os letreiros terão só o número da linha e o destinoAgência O Dia

As novas mudanças serão escalonadas em etapas de acordo com as alterações de linhas mais reclamadas. Uma das campeãs de queixas foi a redução do trajeto da antiga 484 (Olaria-Copacabana), que virou a 284 (Olaria-Centro). Agora, a prefeitura estuda qual o melhor itinerário para restabelecer essa ligação Olaria-Copacabana.

Diferentes bancos de dados são considerados para analisar as demandas dos usuários: pesquisas de quantidade de passageiros realizadas na época da reestruturação das linhas, ouvidoria, pesquisa nas ruas e mapeamento da movimentação dos sinais de celulares para observar deslocamentos da população.

Semanalmente, equipes itinerantes da pasta vão a pontos finais e terminais com maior movimentação de pessoas. Pesquisas registrando as demandas dos passageiros já foram realizadas em bairros das zonas Sul e Norte. Na quarta-feira, o vice-prefeito e secretário municipal de Transportes, Fernando Mac Dowell, foi à Penha ouvir a população no terminal de ônibus da Avenida Lobo Júnior, por onde circulam as linhas 483, 497 e 498, que seguem da Penha para Copacabana e Laranjeiras.

Lorena gostaria que voltassem as linhas de antes da racionalizaçãoAlexandre Brum / Agência O Dia

“Uma das premissas é melhorar a comunicação das mudanças para os usuários do serviço de ônibus, tendo em vista que uma das maiores reclamações diz respeito às mudanças demasiadamente rápidas, não dando chance para que a população acompanhasse o processo”, explicou o órgão em nota. A secretaria destaca ainda que se trata de um trabalho complexo, tendo em vista as mais de 450 linhas de ônibus da cidade, as modificações viárias do Centro e as dificuldades em compilar inúmeros dados com diversas variáveis em questão.

Durante a implantação do projeto de racionalização dos ônibus que cortam a Zona Sul, 25 linhas foram criadas, 26 modificadas e 51 extintas. O processo começou em outubro de 2015 e foi até o primeiro trimestre de 2016, seguido de ajustes operacionais. Cerca de 700 coletivos foram retirados das ruas, segundo a gestão anterior da prefeitura.

Racionalização melhorou o trânsito em grandes eixos

A chamada racionalização das linhas acumulou reclamações sobre o aumento da necessidade de baldeações, mas retirou ônibus das ruas e melhorou o trânsito, principal objetivo da mudança. Último balanço da SMTR de 2016 mostrou redução de 9,2% do volume diário de ônibus no BRS Nossa Senhora de Copacabana e de 15,6% na Barata Ribeiro.

No Centro, a queda foi ainda maior no eixo entre a Presidente Antônio Carlos e Primeiro de Março: 20,5%, com ganho de tempo de percurso de 22,8%. Ou seja, a velocidade média dos coletivos passou de 9,2 km/h para 11,3 km/h. Com isso, o veículo que antes levava 6 minutos e 37 segundos para atravessar o eixo Presidente Antônio Carlos-Primeiro de Março passou a levar 5 minutos e 20 segundos.

AUMENTO DA PASSAGEM

Justiça realiza audiência hoje

A juíza Luciana Losada Albuquerque Lopes, da 13ª Vara de Fazenda Pública, marcou audiência para discutir o aumento das passagens de ônibus para hoje, às 14h. Foram convocados representantes da prefeitura e do Ministério Público.

PASSAGEIROS

À espera de melhor orientação

Desde que as mudanças nas linhas de ônibus começaram em 2015, passageiros reclamaram muito da comunicação sobre as alterações e os novos itinerários. Ontem, ao serem informados que as troncais e integradas deveriam sair de cena, eles chegavam a comemorar, pedindo o retorno das linhas antigas. Muitos dizem que, até hoje, ficam perdidos nos pontos e que passaram a dar preferência ao metrô.

A professora de idiomas e de flamenco, Marina Roland, de 53 anos, mora em Botafogo e disse que usava constantemente os ônibus antes da alteração para troncal. Mas, “devido à falta de orientação”, ela teve dificuldades de identificar as linhas e preferiu fazer alguns trajetos pelo metrô ou a pé. “Sempre dei preferência ao ônibus, mas depois da mudança, fiquei completamente perdida. Se agora voltar a ser como era antes será muito melhor. Vai facilitar a vida dos cariocas”, opinou.

Morador de Nova Iguaçu, Luis Cláudio Avelar, 56, pega dois coletivos — sendo um deles da linha troncal — diariamente para chegar ao trabalho, em Botafogo. Ele reclamou que no início da alteração do nome da linha houve muita confusão. “Agora já me acostumei”, contou Luis, que criticou as mudanças recorrentes nos coletivos. “Se for para alterar, que tenha explicação para que os passageiros não sejam prejudicados”, exclamou.

A estudante Lorena Fitipaldi, 23, acredita que será melhor se as linhas voltarem a ser identificadas como antes da racionalização. “Fico perdida olhando os letreiros dos pontos de ônibus. Prefiro até não pegar essas linhas troncais porque não há informação alguma”, declarou.

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