Por aline.cavalcante

A supremacia de Duque de Caxias nas provas de Atletismo dos Jogos da Baixada, na semana passada, foi mantida. Foram 24 ouros nas 28 provas disputadas nas categorias sub-14 e sub-17 na Vila Olímpica de Mesquita. A equipe foi representada no pódio por 44 atletas, levando mais da metade das 84 medalhas.

Não teve uma prova sequer sem a presença de um atleta da delegação entre os três primeiros colocados. A superioridade em comparação com as outras equipes é tão grande que leva a um questionamento: qual o segredo de Caxias?

Há três décadas, a prefeitura da cidade desenvolve os programas de iniciação desportiva e de alto rendimento. Um projeto que envolve parceria com 80 instituições de ensino. E que abre portas a crianças ou adolescentes beneficiados com bolsas de estudo em colégios particulares. Em média, são 200 bolsas para alunos dos sete aos 17 anos por ano. Uma oportunidade de oferecer educação qualificada para jovens carentes.

Ouro nos 100m e salto em distância%2C Rodrigo pega bastão do medalhista de ouro nos 200m%2C Claudio LucasDaniel Castelo Branco

É o caso de Sulamita Serafim, 14 anos, que levou o ouro nos 800m e bronze nos 400m na categoria sub-17. A mãe dela, Ana Lucia de Assis, sustenta a família trabalhando como catadora de lixo em Santa Cruz da Serra, distrito de Duque de Caxias. O feijão com arroz nem sempre está no prato. Mas a esperança de uma vida melhor é alimentada há três anos, quando Sulamita foi descoberta por um professor de Educação Física e passou a ser beneficiada por uma bolsa de estudos no Instituto Loide Martha. “Lá onde eu moro, as pessoas não entendem como eu cato lixo e tenho uma filha num colégio particular. Ela conseguiu isso com esforço e dedicação. É um orgulho, né?”, sorri a mãe.

Não é um caso isolado. Ingrid Gomes Lopes, que levou a melhor nos 200m e 400m sub-17, e Evelyn Cristina, ouro nos 150m, salto em distância, revezamento 4x100m e escolhida como melhor atleta na categoria sub-14, também são bolsistas lá. Claudio Lucas, vencedor dos 200m e do revezamento 4x100m, acompanha a turma de atletas do colégio. Carlos Vinicius, campeão nos 200m, 600m e no revezamento 4x100m, tem bolsa no Casimiro de Abreu.

Aos 27 anos, Diego Nunes já foi bolsista e hoje é professor de Educação Física. Mas a história do garoto criado próximo ao Complexo da Mangueirinha, uma região carente, poderia ter sido outra.

“Tive amigos que se perderam e hoje nem estão mais entre nós. Pela minha criação e motivação do esporte, busquei outro caminho”.

Uma prova de que a vitória de Caxias não aparece só no pódio das provas de atletismo.


Reconhecimento

Ezequiel Castor de Souza, 15 anos, é o maior exemplo recente de sucesso do projeto. Vice-campeão sul-americano numa prova combinada com seis modalidades, ele será um dos atletas que carregará a tocha olímpica em Duque de Caxias, em agosto. Bolsista no Casimiro de Abreu, ele também participou dos Jogos da Baixada no ano passado, levando três ouros.

Em meio à delegação do atletismo de Caxias, havia 30 bolsistas. Mas também há atletas beneficiados em outras modalidades, como vôlei, futsal, handebol, judô, natação e basquete. “A Baixada é um celeiro de atletas. O importante é o trabalho de transformação social na vida dessas pessoas. Virar um atleta de alta performance é consequência”, argumenta Alcimar Teixeira, professor do colégio Casimiro de Abreu e treinador da equipe.


Dedicação exclusiva 

Natural de Caxias, Jaqueline foi convocada para a Olimpíada pela segunda vez. Após ficar em oitavo lugar em Londres, em 2012, e quebrar o recorde brasileiro na categoria até 75kg ao levantar 230 quilos na soma do arranque e arremesso, ela passou a ser patrocinada pela Petrobras. E, assim, pôde se dedicar exclusivamente ao esporte.

Como está a ansiedade para a Olimpíada?

É como se fosse a primeira vez. Estou como criança quando recebe o brinquedo que tanto deseja. Sentir a vibração da torcida aumenta a confiança.

Qual a importância da Petrobras na sua preparação?

Até Londres, eu só tinha bolsa de auxílio. Quando a Petrobras veio, minha vida mudou. O patrocínio criou um novo ciclo, porque há pouco investimento no esporte após os Jogos. Pude me concentrar nos treinos, com dedicação exclusiva. Se não fosse isso, precisaria conciliar treino com trabalho em outra área.

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