André Gabeh - Luciano Belford/Agência O Dia
André GabehLuciano Belford/Agência O Dia
Por André Gabeh
Rio - Não sei se acontece a mesma coisa com vocês, mas eu fico, realmente, abobalhado com o avanço das empreitadas empadistas de conquistar o mundo.

Um dia eu fui dormir em um mundo normal, básico, sonhei com minhas maluquices habituais e, quando acordei encontrei um planeta novo, dominado por empadas, empadistas e empadólogos.
André Gabeh, colunista do O DIA - Luciano Belford/Agência O Dia


Antes da onipresente vovó do bolo que tem loja de bolo até dentro de boca de fumo, houve uma invasão de lojas de empadas: Casa da Empada, Canto da Empada, Gira da Empada, Empada do Zezé, Empada lúdica, Empada Safada. Me pergunto: como foi que isso aconteceu? Eu não sabia que os cariocas nutriam esse amor por empadas. Nunca imaginei. Pra mim, acima de coxinha de galinha, só Deus, e logo abaixo dela, empatadinho, vem o joelho de queijo e presunto. Seguindo o ranking, antes da empada – que deve ocupar o vigésimo quinto lugar da minha lista, ainda tem o cachorro quente de forno, o folheado de costela, o risole/rizzoli/rissóli (não sei escrever o nome desse troço) de camarão, o pão de queijo, o quibe de espinafre, o pau, a pedra, o fim do caminho, o resto de toco, um pouco sozinho.

Como isso começou?

Empada é um alimento nada prático. Empada entope, resseca, suja nossa roupa inteira e dá uma sede tão grande que o rim vira um azulejo de tão desidratado.

Empadão eu amo. Empadão é outra coisa. Empadão com arroz e feijão é um beijo de Deus. No empadão o potencial da empada se revela, porque a massa não fica lutando por espaço com o recheio e a gente consegue curtir o melhor dos dois mundos. A azeitona no empadão é uma ilha de sabor que você encontra aqui e ali, na empada é tipo atravessar uma rua pequena e ter que escalar um obelisco pra chegar até a outra calçada. Implico com empada.

A coisa é tão séria que na esquina da minha velha rua, Barbosa Rodrigues, se materializou um carrinho de empada. DEUS!

Fui lá. Decidido. Querendo diálogo. Aberto a conversa.

O vendedor, simpático e redondinho que nem o produto que vendia, me ofereceu uma empada de queijo.

- Seu coisinha, por que empada??

- Tem muita saída. Baratinha. Alimenta. Prova a de queijo. Cortesia pra você experimentar.

- Odeio empada, mas vou comer porque adoro brinde.

- Come!

Comi.

Gente!! Molhadinha, macia, sensual, toda se querendo. Pra casar. Minha intolerância a lactose cantou o hino da Croácia dentro de mim, mas já não importava: A EMPADA INTERGALÁTICA HAVIA ME SEQUESTRADO PRO SEU REINO DE LUXÚRIAS GASTRONÔMICAS.

Virei sommelier de empada.

A de frango, do meu vizinho, é um espetáculo à parte. A massa é tão fina que dá pra fazer um véu de noiva com ela. E é tão bem feitinha que quase não cai farelo, então o aproveitamento é tipo de 99%.

E esse mundo globalizado é tão fascinante e a expansão do império Empádico é tão avassaladora, que seus braços chegaram DICUMFORÇA aos transportes públicos e , nos trens, BRTS e ônibus, já temos 4 facções Empadobléicas: a empada gourmet, a empada do Crente, a empada do tio do isopor e a empada da Menina-que-está-se-formando-e-precisa-pagar-boletos-da-festa-de-formatura.

Conhecem??

A empada gourmet é a mais cara: dois reais. Gostosa. De gourmet não tem nada, mas os vendedores usam uniforme, tem um texto todo desenvolvido por coachs empreendedores e, às vezes, pra validar o preço, vem recheada de bacalhau.

A do moço crente custa um real. Vem numa embalagenzinha de plástico que facilita pra quem quiser levar pra comer depois. O moço que vende diz que a renda obtida é pra ajudar a tirar jovens das drogas. Tem pouco recheio e é um pouco seca. Mas por um real? Tá ótima. Só compre se tiver um suquinho por perto.
A do tio do isopor e a da menina da faculdade mudam de preço conforme vão acabando. Começam o dia custando dois reais , depois é três por cinco e no fim do turno, você leva qualquer uma por um real.
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Imensas. Deliciosas. A da menina é sempre um pouco mais úmida. Ela conta tanta história triste que acho que a umidade vem das lágrimas. Tenho quase certeza que os dois têm o mesmo fornecedor empadal.

Gosto.

Bipolar e faminto. Sou.