Por O Dia
Foi sexta-feira 13 e sabe o que mudou na minha vida? Absolutamente nada. Não que eu não seja supersticioso.
Sou muito, muito mesmo. Mas sexta-feira 13 não me comove. Pra mim, é a mesma coisa que uma segunda-feira dia 19, um domingo 15... O que pensei mesmo é que faltariam exatas duas semanas pro dia de São Cosme e Damião - Sim, vou falar muito deles esse mês – e, se estivéssemos nos anos 80, a essa altura, as casas dos macumbeiros da rua da minha vó, já estariam em polvorosa. Dona Creusa provavelmente estaria fumando que nem uma caipora com gravidez psicológica, debruçada em sua Singer movida a solavancos de joelho e trombose, costurando lamê e Laise branca pra fazer roupas pro seu erê e pros erês do resto do elenco da casa de Oxóssi.
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Tio Silvio estaria esclerosando de ansiedade pra comprar os doces pra dar nos dias dos Santos. Minha vó estaria escolhendo a entidade mais comilona pra incorporar (minha vó era diabética de marré marré marré e alegava Mariazinha da praia pra comer todos os doces do planeta).
A UFFA, em Quintino, estaria mais lotada e confusa do que cabeça de criança que misturou elixir paregórico com Gardenal. Rebú dos rebús.
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Mas sexta-feira 13 do mês de setembro significava uma coisa muito importante e maravilhosa: dali a duas
semanas haveria FINAL DE SEMANA PROLONGADO. Por que? Porque, se o dia 13 de Setembro cai na sexta, o dia 27 de Setembro também cai. E, como até eu fazer dez anos me era permitido faltar às aulas pra correr atrás de doce, isso significava que teria SEXTA PRA CORRER ATRÁS DE DOCE, SÁBADO PRA SEPARAR TUDO QUE PEGUEI EM POTES E PANELAS E COMER ALGUMAS GULOSEIMAS, DOMINGO PRA COMER O RESTO e SEGUNDA-FEIRA PRA TER A CAGANEIRA DO ANO e faltar a aula também. Sexta-feira 13 de Setembro era esperadíssima pelos pegadores de doce de Pilares e abolição. Só me lembro de ter passado por uma dessas na minha infância. A Glória, a consagração.
Mas... Sim, tem um "mas". Quinze dias antes do Dia de Cosme e Damião também era data limite pra distribuição dos CARTÕES de doação de doces com hora marcada pra um público seletíssimo. Era um ódio atrás de outro ódio, porque eu SEMPRE estava na escola quando distribuíam os cartões melhores. SEMPRE! Aí, no final de semana, eu era obrigado a ver os bolinhos de cartões dos meus amiguinhos privilegiados que conseguiam até 15 cartõezinhos e eu nunca peguei mais de três. Queria enforcá-los com minha cuequinha-saco-de-batata que vinha na latinha de acrílico e que já vinha com coceira embutida, roubar os cartões e correr pra casa. Só não fazia isso porque a Karina da Bruna Lombardi, 39, da minha mãe, ia queimar no meu lombo gordo.
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Eu tenho ódio de doce de cartão. Ódio hahaha. Era a coisa mais empata fodERROR404 do dia 27 de Setembro. Ódio. Eu também odiava doce de mesa. Doce de mesa era muito anti-clímax, horas de expectativa. E, às vezes, você só ganhava um bolo que te sujava todo, um guaraná Skol quente e em algumas ocasiões tinha que se virar pra não ser atingido por manjar azul e rosa jogado em você por algum adulto virado na beijada. Aí, como alegria de pobre é mais curta que pinto de gato e como eu era todo cagado de arara, quando conseguia ganhar cartão, como ele era? Cartão pra doce de mesa, é claro. É pra acabar com a vida do docista CosmeDamiânico.
Chegava o dia 27 e você já se armava: Kichute com cadarço amarrado na canela. Shortinho todo equivocado, camisetinha com um pato Donald pintado pela sua mãe num curso de artes que ela fez com o Stevie Wonder, sacas de papel das casas sendas e bucho cheio pra ter energia e correr pelas ruas de Pilares e da Abolição. A pompa, o glamour.
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Dia lindo. Todo mundo dando doce. Enchia uma saca e corria pra casa pra descarregar e voltar pra rua, mas antes lambia meus doces preferidos pra meus pais não pegarem. Bem fino. Prosperidade, fartura. Dava a hora do doce de cartão. Pausa. O que fazer? Seguir o fluxo de abundância doçal ou parar pra ir pegar o doce elitizado?
Parei e fui.
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Foi o auge da derrota. Conto depois.