Último autorretrato de Abigail: Mulher Sentada Diante de uma Escrivaninha, 1889. Rio de Janeiro. Coleção particular.(Reprodução)

No dia em que Vassouras completa 164 anos, o jornal O Dia destaca duas das inúmeras personalidades que nasceram na cidade localizada no Vale do Café. Comumente relacionada à investidora Eufrásia Teixeira Leite (1850-1930), Vassouras é a terra de natal de muitas outras pessoas notáveis de diversas áreas, como o ministro do STF Luís Roberto Barroso e a filantropa Lucinha Araújo. Hoje, destacamos as biografias da pintora Abigail de Andrade e do médico Álvaro Alvim.
ABIGAIL DE ANDRADE (1864-1890)
Filha de um casal a elite vassourense, Abigail nasceu no período em que a população de pessoas escravizadas superava a de pessoas livres na cidade. Ela e sua irmã tiveram educação aristocrática na Escola para Moças de Madame Grivet, mesma instituição em que Eufrásia estudou. Aos 16 anos, Abigail mudou-se para o Rio de Janeiro e foi impedida de estudar na Academia Imperial de Belas Artes, que só passou a aceitar matrículas de mulheres a partir de 1892. Em 1881, quando o Liceu de Artes e Ofícios foi a primeira instituição a aceitar estudantes do sexo feminino, Abigail iniciou seus estudos, conheceu o professor de desenho Ângelo Agostini, com quem viria a se relacionar, e logo começou a se destacar como artista. Em 1884, foi a primeira mulher premiada com Medalha de Ouro de primeiro grau nas Exposições Gerais de Belas Artes. Abigail sofreu grande resistência da sociedade carioca por ter iniciado o romance com Agostini quando ele ainda seria casado. Em 1888, diante da hostilidade ao nascimento da primeira filha dos dois, eles resolveram mudar para Paris. Em 1889, Abigail expôs 6 telas na Exposition Universelle. No mesmo ano, seu segundo filho morreu de tuberculose pouco após o nascimento. Em 1890, Abigail faleceu na capital francesa da mesma doença.
ÁLVARO ALVIM (1863-1928)
Também filho de um casal de posses, Álvaro se interessou pela medicina logo na infância. Após obter as melhores notas no estudo secundário no Rio de Janeiro, ingressou na Faculdade de Medicina. No 4º ano do curso, aderiu ao movimento abolicionista e foi hostilizado, precisando se mudar para a Bahia. Alvim trabalhou por um período no Vale do Café e teve participação ativa para combater a epidemia de cólera-morbus na região. Após especializar-se em eletroterapia em Paris, Alvim voltou ao Brasil em 1897 e inaugurou, no Rio, o Instituto de Eletroterapia, o único da América Latina que usava correntes de baixa frequência, eletricidade estática e outros métodos e aparelhos especiais. Neste mesmo ano, entusiasmado pela descoberta dos raios X, Alvim encomendou a aparelhagem necessária e foi o primeiro a instalá-la no Brasil. Os testes pioneiros foram realizados nas xifópagas Maria e Rosalina Pinheiro Dável, levadas ao instituto porque ninguém conseguiu descobrir o órgão que as unia. Álvaro identificou que as irmãs siamesas de 7 anos eram ligadas pelo fígado e foi celebrado por médicos estrangeiros. No Brasil, no entanto, a reação foi negativa, o que não impediu que a cirurgia de separação fosse realizada em 1900. Álvaro foi responsável por dois ineditismos: a 1ª radiografia de xifópagos e a 1ª separação do tipo bem-sucedida no mundo. Com a 1ª Guerra Mundial, os países que exportavam tubos de raios X suspenderam a fabricação de bens que não tivessem utilidade no front e Alvim resolveu utilizar uma técnica de regeneração de tubos que exigia longo tempo de exposição à radiação. Em poucos meses suas mãos estavam com extensas queimaduras. A radiodermite voltou com intensidade e provocou a amputação de 5 dedos, parte do antebraço e da mão direita a partir de 1922. Por determinação do Congresso, Álvaro foi condecorado com a Medalha Humanitária em 1924 e seguiu trabalhando. Acometido por um câncer de fígado em 1927, Alvim morreu no ano seguinte. Conhecido como o Mártir da Ciência Brasileira, Alvim foi homenageado com selo comemorativo dos Correios no centenário de seu nascimento. "Quando ele passava na rua todo mutilado, o povo parava e tirava o chapéu. Quando morreu, o trânsito parou e o governo cobriu a casa com faixas pretas, foi muito bonito", declarou sua filha, Laura Alvim.