Ediel Ribeiro, jornalista, caricaturista e colunista do DIA - Divulgação
Ediel Ribeiro, jornalista, caricaturista e colunista do DIADivulgação
Por Ediel Jornalista e cartunista

Este mês, completaram-se 19 anos sem Jovelina Pérola Negra. A cantora, que nos deixou em 2 de novembro de 1998, era uma verdadeira joia da nossa cultura popular.

Cantora e compositora de voz rouca e forte, era considerada herdeira do estilo de Clementina de Jesus.

Nasceu Jovelina Faria Belford, em Botafogo. Ainda muito jovem, mudou-se para a Zona Norte.

Era fã de Bezerra da Silva e, sob sua inspiração, começou a fazer apresentações no Vegas Sport Clube, em Coelho Neto, levada pelo amigo Dejalmir, que, na época, batizou a cantora de Pérola Negra ( o epíteto era uma homenagem à sua cor).

Tempos depois, mudou-se para Madureira, onde, no Império Serrano, integrou, por anos a fio, a Ala das Baianas.

Na Estrela de Madureira, conheceu Aniceto, Roberto Ribeiro, Jorginho do Império, Arlindo Cruz e outros nomes de peso da escola. Começou a cantar ao lado desses artistas e virou atração no Show Botequim do Império.

A cantora também conquistou muita simpatia no meio artístico e tinha Maria Bethânia e Alcione como suas fãs declaradas.

Nos anos 90, eu e Irene Ribeiro entrevistamos Jovelina Pérola Negra para a rádio 96 FM. Jovelina morava em Jacarepaguá. Irene foi buscá-la. Ela odiava o trânsito caótico do Rio e, por isso, falava muitos palavrões. No carro, a caminho da entrevista, Jovelina, sempre que alguém buzinava atrás do nosso carro, ou freava à frente, colocava a cabeça para fora e gritava: "Anda, seu merda!" "Vai buzinar pra tua mãe, seu babaca!"

Chegou à rádio rodeada de fãs.

Sua história é um testemunho de luta e superação. Mas, apesar de toda a adversidade, tinha uma alegria surpreendente. Ela explicou. "Já sofri demais. Chorei demais. Fui empregada doméstica e vendedora de linguiça. Agora, quero sorrir."

Jovelina pertencia à dinastia das grandes vozes femininas do samba. Foi uma das peças mais importantes na condução do samba de fundo de quintal e do pagode de raiz para a linha de frente da MPB.

A artista estreou na música tardiamente, em 1985, quando já tinha 40 anos. Estreou participando em três faixas do pau de sebo (LP com uma coletânea de sambas) Raça Brasileira. No ano seguinte, a cantora gravou seu primeiro disco solo com sambas de sua autoria e de compositores como Nei Lopes e Monarco.

Ao todo, gravou seis discos, entre eles, 'Sorriso Aberto', em 1988; 'Sangue Bom', em 1991, e 'Vou da Fé', em 1993, quando conquistou um disco de platina. Seu maior sucesso foi a música 'Feirinha da Pavuna'. Com ela, foi indicada ao Prêmio Sha p como melhor cantora de samba, ao lado de Elza Soares e Ivone Lara.

Jovelina era alegre e extrovertida. Viveu histórias inusitadas e irreverente na vida e no samba.

Lembro de uma contada por outra grande dama do samba, Dona Ivone Lara, imperiana como ela. As duas haviam acabado de cantar e estavam esperando o contratante fazer o pagamento. Mas o sujeito ficava indo de um lado para o outro e nem olhava para elas. E Jovelina impaciente, já achando que ia tomar um calote. "Calma, irmã, ele já vai pagar", disse Dona Ivone, para acalmar os ânimos. " É bom mesmo, porque senão eu mordo ele", ameaçou Jovelina.

Outra que ela gostava de contar era que uma vez, num de seus shows, ela exigiu que o contratante adiantasse parte do seu cachê. O homem virou-se pra ela e avisou: "Vou botar o dinheiro no seu borderô." E ela: "No meu borderô ninguém bota não!"

Jovelina era assim.

A dama do samba morreu de enfarte, aos 54 anos, enquanto dormia em sua casa, no Pechincha, em Jacarepaguá.

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