Rio - Uma é paisagista, outra, dona de casa, e a terceira trocou a enfermagem pela dança. Com origens distintas e longe dos holofotes da fama, todas sambam (de salto alto) no preconceito. São mulheres maduras, com mais de 50 anos (duas são até vovós, quem diria?) e brilham como musas na Sapucaí. E que musas!
Moradora de Ipanema, Paula Bergamin não é modelo, ex-BBB e atriz. Tampouco é da comunidade. Começou a desfilar aos 52 anos no Império Serrano e na Império da Tijuca. Aos 56, esbanjando corpão e pique de dar inveja a muitas novinhas, é paisagista, avó de duas crianças e será a musa mais velha entre as dez que a União da Ilha levará para a Avenida, à frente do quarto carro, no chão. Prova de que nunca é tarde para sonhar, começou a aventura com o incentivo de um sócio ligado à escola de Madureira, meses depois que passou a treinar samba para manter a forma. Sua inspiração é a cantora Rosemary.
"Vi a Rosemary usando biquíni até os 50 anos na Mangueira, conservada e glamourosa. Acho que cada um deve fazer o que gosta. Se você tem um sonho, persiga-o", diz Paula, que chegou a ser contestada antes da estreia. "No primeiro ano, algumas amigas acharam o máximo, mas outras fizeram perguntas como 'Sua fantasia vai ser como?', 'Você vai desfilar toda coberta'?", lembra.
Nascida e crescida na Zona Norte, a dona de casa Edclea Neves, 53, é cria da festa de Momo. Quando era criança, a família toda saía no Arranco do Engenho de Dentro, que hoje desfila pelo Grupo C na Estrada Intendente Magalhães. Foi rainha de bateria da Portela por oito anos e do Império Serrano, por dois, na década de 90. Há 12 anos no Salgueiro, é a musa mais madura entre as oito da Vermelha e Branca e promete atrair todas as atenções na Passarela fantasiada de pantera à frente do terceiro carro. Foi até convidada para ser rainha de bateria na série A em 2018, mas não aceitou o desafio porque teria que se dedicar muito.
Com "tudo em cima", alguém acredita que Edclea nunca foi fã de academia? "Tenho ido por causa da saúde e da idade. Muita novinha me diz 'Quero crescer e ser igual a você'", conta a mulata, única das três que não é avó.
Musa e diretora da ala de passistas da Mangueira, onde está há 15 anos, Queila Mara, 52, atribui a boa forma ao DNA e aos hábitos saudáveis. "Todo mundo na minha família tem o rosto jovial. Quase não tenho tido tempo de ir à academia e de manter a alimentação balanceada. A sorte é que não bebo e não fumo", revela ela, que disse adeus à enfermagem e começou a dançar profissionalmente aos 28 anos. A estreia na folia foi na Unidos do Jacarezinho, onde ganhou a coroa de rainha de bateria em 1995. Defendeu o posto durante dez anos. Hoje é avó de um menino de 1 ano e 5 meses e virá à frente da bateria.
"Há três anos, achei que estava na hora de parar. Num dia em que eu estava para baixo, disseram que eu estava linda. Isso me deu energia e não parei mais", orgulha-se. Para as passistas mais jovens de sua ala, ela deixa uma lição: "Em casa, os pais ensinam com carinho, mas a vida cobra na porrada. Eu ensino o certo. Quando não aprendem aqui, terão de ouvir críticas lá fora. E crítica dói".