João Baptista Ferreira de Mello, coordenador dos Roteiros Geográficos do Rio da Uerj e colunista do DIA - Divulgação
João Baptista Ferreira de Mello, coordenador dos Roteiros Geográficos do Rio da Uerj e colunista do DIADivulgação
Por João Baptista Ferreira de MelloCoordenador dos Roteiros Geográficos do Rio - Uerj

Rio - O Rio de Janeiro conjuga em sua toponímia a referência a um acidente geográfico e ao mês no qual foi primeiramente aportado pelos brancos na aurora do século 16, em janeiro de 1502. Sua origem, no entanto, carece de sustentabilidade, na medida em que os lusos, exímios cartógrafos e desbravadores de terras e mares até então incógnitos, dificilmente confundiriam a estreita entrada da Baía de Guanabara com a foz de um curso fluvial.

Neste contexto, torna-se pertinente lembrar o vocábulo 'rio'; no idioma português arcaico, sinonímia de barra, possui uma amplitude semântica superada na atualidade, ou até mesmo podendo confundir-se, mais remotamente, à ideia de 'ria', braço de mar com recortes profundos que se presta à navegação. Seu nome composto singra, igualmente, ambiguidades por contemplar o mês inaugural de cada ano, prática inusitada entre os portugueses. Na realidade, assim procediam os franceses nomeando os lugares com datas. De toda sorte, foram os franceses, humanistas-protestantes, determinados em promover a utopia tropical da França Antártica, que criaram a Henriville, situada nos domínios de Uruçumirim, atual bairro do Flamengo, e nas ilhas da Guanabara.

Neste cenário, a cidade nasce com tal distinção e oficialmente batizada de São Sebastião do Rio de Janeiro, vicejando mais exatamente no dia 1º de março de 1565 sob os vigores de uma radiante e meândrica geopolítica, em meio aos pulsares de encantadoras flora, fauna e dadivosa natureza, bem como as súplicas dos portugueses, além das providenciais bênçãos de São Sebastião. O evento objetivava eliminar os arroubos do projeto francês de uma civilização plena de respeito às diferenças e sob o comando do católico Villegagnon. Este entendia ser possível a união entre os seguidores das igrejas cristãs, a partir desse período vivendo os embates da Reforma.

A posição da urbe (na Urca) era extraordinária, porquanto na entrada da Baía era possível avistar os intrusos estrangeiros, bem como os índios da Confederação Tamoio em aliança com os franceses, e permitia um efetivo controle da Baía de Guanabara. Ao lado disso, se derrotados, os portugueses poderiam escapar pelo Oceano Atlântico. No entanto, a exiguidade do sítio provocou a transferência da cidade para a encosta do Morro do Castelo, um notório terreno natural de observação cercado de áreas alagadiças e o próprio mar, ou seja, de grande serventia para as estratégias militares.

A transferência da urbe aconteceu justo em 20 de janeiro de 1567, momento da expulsão dos invasores, somada à submissão indígena e dia do padroeiro da cidade legalmente intitulada, vale repetir, de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mais que uma homenagem ao infante Dom Sebastião e ao santo, os lusitanos, assim, recorriam ao soldado-mártir, morto a flechadas e chumbo derretido, e suplicavam sua proteção contra as armas de arremesso dos nativos da Terra de Santa Cruz, estabelecidos no entorno da sinuosa Baía de Niterói (água escondida), mais tarde, Rio de Janeiro e Guanabara.

João Baptista Ferreira de Mello é coordenador dos Roteiros Geográficos do Rio - Uerj

 

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