Alta mortalidade de botos na Baía de Sepetiba intriga cientistas e pesquisadores - Divulgação/ Instituto Boto Cinza
Alta mortalidade de botos na Baía de Sepetiba intriga cientistas e pesquisadoresDivulgação/ Instituto Boto Cinza
Por O Dia

Rio - A alta mortalidade de botos cinzas na Baía de Sepetiba, na Costa Verde, tem intrigado pesquisadores e defensores da espécie. Já são 88 botos mortos desde dezembro de 2017. A principal suspeita é de que os animais estejam infectados por um vírus ou bactéria, mas isso só vai poder ser confirmado no final do mês de janeiro, quando os resultados dos exames de laboratórios, realizados pelo Maqua, da UERJ, ficarem prontos.

Diariamente, tem sido recolhidas de 4 a 5 carcaças do animal. Antes, esse número era mensal. Até o momento, essa perda já representa 10% da espécie, somente em 17 dias de observação.

A baía de Sepetiba é cercada por condomínios, estaleiros e terminais marítimos, mas não há sinais de contaminação na água que possam estar causando a morte dos botos. Além disso, um nível elevado de poluição e contaminação química por derramamento afetaria diversas espécies, como peixes, crustáceos, tartarugas, aves, e não somente os botos cinzas, como é o caso, segundo o Instituto Boto Cinza.

No entanto, a veterinária Andreia Sofiatti, voluntária no atendimento de animais selvagens na Universidade Federal Fluminense (UFF), diz que mesmo a poluição não sendo a causa principal da morte dos botos, ela pode ter, de algum modo, contribuído com o quadro atual.

“O vírus não foi identificado ainda. Ele pode ter se proliferado por vários motivos. Aconteceu um aumento muito grande na navegação marinha nos últimos 20 anos naquela região e não há, por exemplo, controle na limpeza do porão dessas embarcações.”, disse.

“ Não há o controle do despacho da água dos porões na Baía de Sepetiba. Vem água do mundo todo ali, não é difícil o vírus ter vindo de lá, do mesmo jeito que acabam levando vírus, bactérias daqui para outros lugares”, completou a médica.

Outra hipótese descartada pelos pesquisadores do Maqua é a chamada captura acidental, quando os animais ficam presos, sem intenção, nas redes de pesca. Antes, esse era um dos motivos mais comuns que levavam à morte dos botos. Contudo, as carcaças recentemente recolhidas não apresentam sinais que indiquem a captura acidental como motivo da alta mortalidade.

Ao todo, desde novembro, 146 botos morreram em Ilha Grande e em Sepetiba. As análises feitas nos 58 animais da Baía de Ilha Grande indicaram que a causa da morte era uma infecção por um vírus que ataca exclusivamente os mamíferos aquáticos. Os pesquisadores trabalham com a possibilidade dessa doença ter alcançado os botos de Sepetiba.

Esse vírus não apresenta qualquer risco para os humanos e nem para as atividades de pesca na região, já que é uma doença exclusiva da espécie. Para Andreia, isso também é um problema. Segundo ela, o fato do vírus não apresentar risco para os humanos e suas atividades, pode causar um descaso da situação.

“Não trazendo risco algum pros humanos, ninguém vai ligar. Ninguém vai tentar descobrir como esse vírus foi parar ali, ninguém vai cuidar dos níveis absurdos de poluição que estamos vivendo agora, poluição marinha, que é o melhor preventivo contra o que está acontecendo agora. Temos um descuido muito grande da população e das autoridades em relação a isso. Vão descobrir se de fato existe um vírus ou não, concluir a causa da morte dos botos e a vida vai seguir”, alertou.

Os botos cinzas vivem em comunidade, grupos com cerca de 200 animais, que nadam juntos pela Baía. Na hora da pesca, da procriação e da proteção, essa característica da espécie é uma grande vantagem. Mas, se as mortes em massa estão sendo provocadas por uma doença, causada por vírus ou bactéria, essa doença irá se disseminar mais rapidamente.

Recentemente, o padrão de mortalidade também mudou. Antes, as vítimas eram machos adultos, e agora em fêmeas e filhotes. Pesquisadores declararam que os botos vivos estão magros e os filhotes apresentam lesões na pele, que podem ajudar a desvendar o mistério.

Caso a doença se confirme, não há possibilidade de tratamento no ambiente selvagem, podendo levar a perda de 70% a 80% da população.

A Baía de Sepetiba, loclizada a 80 Km do Rio, é o lugar com a maior concentração de botos cinzas do mundo. Há 20 anos, a baía era o lar de 2.500 desses animais. Hoje, eles não passam de 800.

Reportagem da estagiária Alice Cravo sob supervisão de Cadu Bruno

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