Projeto Criosfera na Antártica - Divulgação / Uerj
Projeto Criosfera na AntárticaDivulgação / Uerj
Por WILSON AQUINO

Rio - A ciência fluminense experimenta um período de trevas no Governo Pezão. Desde que o político tomou posse, em 2015, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Faperj), principal financiadora do Rio, vem sendo asfixiada financeiramente. Nos últimos três anos, a Faperj recebeu apenas 15% do orçamento a que, constitucionalmente, tem direito. "Em 2016 e 2017, o governo não repassou nenhum centavo para a Faperj", lamenta o professor Egberto Gaspar de Moura, sub-reitor de pós-graduação e pesquisa da Uerj, a instituição mais castigada pela crise. A dívida com Faperj alcança os R$ 78 milhões.

Porém, não há nada tão ruim que não possa piorar. Não bastasse o tratamento desonroso que recebe do governo estadual, a produção científica na Uerj agora também sofre com o desapreço do governo federal. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a fundação do Ministério da Educação (MEC) de apoio à pesquisa, cancelou o convênio que mantinha com a universidade. Com isso, a Uerj deixa de receber cerca de R$ 3 milhões, que iam diretamente para os programas de pós-graduação da instituição.

A suspensão dos repasses ocorreu por impedimentos legais. É que a Uerj não apresentou a Certidão Negativa de Débitos (CND) com o governo federal. O problema é que a universidade foi condenada por um "crime" que não cometeu, já que era o governo do estado quem deveria honrar os pagamentos de obrigações tributárias, como recolhimento de INSS. "Nós tentamos de todas as formas ficar isentos de apresentar essas CNDs. Usamos como argumento o acordo de recuperação financeira do estado com a própria União, que suspende o pagamento de várias dívidas, mas a Procuradoria Federal, lá na Capes, proibiu. Nesse caso, a Justiça foi meio cega", lamentou o professor Egberto. "Temos em torno de 65 programas de pós. Os repasses da Capes servem para para pagar banca de professores, enviar estudantes para Congressos, trabalhos de campo... Como a gente vai sobreviver 2018 sem esses recursos?", questiona.

Como não descobrem uma fórmula de avançar sem dinheiro, pesquisas promissoras, praticamente, estagnaram. São cerca de 1,5 mil, lideradas por 500 pesquisadores seniores, em áreas como meio ambiente, geociência, mineração, petróleo e gás, nutrição, medicina, odontologia, obesidade, educação e linguística. No entanto, a crise já provocou evasão. "Alguns pesquisadores de renome saíram, mas foram menos de 10%. As pesquisas não pararam completamente", informou o sub-reitor. Porém, não é preciso ser cientista para concluir que se o Governo não regularizar a situação da Faperj, em 2018, as pesquisas correm risco de extinção.

Na Antártica, projetos estão congelados
Publicidade
Uma das explorações mais fantásticas da Uerj acontece a cerca de 8 mil quilômetros do Rio, num dos lugares mais inóspitos do planeta: a Antártica. O Projeto Criosfera 1, fincado no centro do continente gelado, é uma base onde os pesquisadores estudam as ciências atmosféricas, com foco no impacto do buraco da camada de ozônio e nas mudanças climáticas. "O Brasil trabalha há uns 30 anos na borda do continente antártico (onde fica a estação Comandante Ferraz). O projeto Criosfera 1 é uma semente do Brasil no interior da Antártica", destaca o professor da Uerj Heitor Evangelista da Silva, autor do projeto.
Implantado em 2012, a primeira estação polar brasileira registrou grande avanço científico nos primeiros anos, diversificando ainda mais o leque de pesquisas, especialmente após os cientistas realizarem algumas correções. Entretanto, nos últimos três anos, vem sofrendo com a falta de investimento e congelou. "Hoje, a gente está fazendo, basicamente, apenas um trabalho de manutenção", explicou o professor.
Publicidade
Dentre os trabalhos desenvolvidos na Criosfera, um estudo mostra que o buraco de ozônio gera um produto na atmosfera que pode acelerar o processo de derretimento de gelo na Antártica. "A gente também começou a desenvolver um trabalho de microbiologia em gelo, que é interessante porque tem viés biotecnológico", adiantou o cientista.
Você pode gostar
Comentários