O bloco Cordão do Boitatá anima foliões no tradicional baile multicultural na Praça XV  - Fernando Frazão/Agência Brasil
O bloco Cordão do Boitatá anima foliões no tradicional baile multicultural na Praça XV Fernando Frazão/Agência Brasil
Por O Dia

Rio - Foliões que saíram cedo às ruas do centro Rio de Janeiro nesta manhã  contaram com duas opções tradicionais do carnaval da cidade. O Cordão do Boi Tolo se concentrou na Candelária às 7h e desfila desde então. Já o Cordão do Boitatá deu início às 10h ao seu baile multicultural na Praça XV, apenas 600 metros de distância da Candelária.

A proximidade dos nomes não é ao acaso: a história de ambos se confundem. O Boitatá veio primeiro, tendo sido fundado em 1996. Em 2000, o bloco que hoje é formado por mais de 100 músicos profissionais e amadores adotou como palco principal a Praça XV, com o objetivo de levantar a discussão sobre o processo de ocupação e revitalização do centro do Rio de Janeiro. Desde então, anualmente são levados para o local milhares de foliões no domingo de carnaval.

Dez anos depois, surgiu o Boi Tolo de uma maneira inusitada. Na ocasião, a Praça XV reunia muitos foliões aguardando um desfile do Cordão do Boitatá, que acabou não ocorrendo para a frustração dos presentes. Logo, porém, surgiu uma bateria improvisada com trompete, tamborim e outros instrumentos.

"O Boi Tolo não é um bloco. É uma catarse", diz o artista plástico Angelo Morse, que garante sua presença todos os anos. Após se concentrar na Candelária, o bloco se dividiu em vários grupos que seguiram por caminhos diferentes, mas que vão se reencontrar em algum momento. Os trajetos não são pré-definidos e aqueles que têm interesse em acompanhar o cortejo precisam procurar por um dos grupos.

Os dois blocos possuem participantes fiéis. "É o bloco favorito da família", conta a jornalista Ana Serra, que curtia o Cordão do Boitatá. O grupo de familiares trazia uma fantasia bem peculiar: integrantes da Força Nacional. "A situação do Rio não está fácil. Então estamos dando uma reforçada na segurança", disse a foliã entre risadas. "Mas é como um protesto. Ontem presenciamos um arrastão", lamentou.

Segundo Ana, o Boitatá lhe atrai porque reúne diversas tribos e o bloco traz posicionamentos políticos importantes. Pouco antes, no palco, os músicos fizeram críticas ao governo federal e à prefeitura do Rio. A mesma observação é feita pelo assistente administrativo Vinícius de Lima. "Me identifico muito o que eles buscam. E eu acho que carnaval é isso. Nós brincamos, mas também não esquecemos da nossa responsabilidade como cidadãos". 

Vinícius foi mais um que se destacou pela originalidade. Ele e um amigo estavam fantasiados de saco de pipoca. "Estávamos cansado da mesmice", esclareceu. Para produzir a peça, foram gastos três sacos de pipoca. Segundo o folião, a fantasia levou dois dias para ficar pronta, mas valeu a pena. "Até o tempo cooperou. Com esse sol intenso, continuo pipocando. Eu pensei que ia ser fácil, mas está bem salgado", brincou.

Carnaval inclusivo

Assim como o Boitatá, o Boi Tolo também traz um discurso político voltado para inclusão social e levanta a bandeira por um carnaval participativo, com democracia e diversidade. Por outro lado, os modelos de apresentação dos dois são distintos. O Boitatá realizou um desfile pelas ruas da Lapa no domingo (4) de pré-carnaval, mas no domingo de carnaval, o bloco é parado, utilizando uma estrutura de palco na Praça XV.

O Boi Tolo é contrário ao uso de palcos, trio elétricos e até cordas. A separação entre a banda e os foliões é feita por uma roda de pessoas com as mãos dadas. Apesar desse posicionamento, não chega a existir uma rivalidade com o Boitatá na visão do oficial de náutica Thiago Rocha da Silva. "Tem essa divergência, mas é carnaval e o Boi Tolo é só amor".

Thiago desfila no Boi Tolo anualmente e neste ano acompanha o bloco junto com a turma dos pernas de pau. "Boi Tolo é isso: não é ninguém e é todo mundo ao mesmo tempo. É só chegar e participar. É essa loucura aqui no domingo de carnaval. Tem que descobrir onde está o bloco porque não dá pra perder".

O Cordão do Boi Tolo também é conhecido como "o bloco dos desfiles eternos". No ano passado, o cortejo que começou a se concentrar às 7h varou a madrugada. Neste ano, os organizadores afirmam que, além da promessa de virar a noite, irão cruzar o oceano.

É que, em Lisboa, foi criado um bloco por simpatizantes do Boi Tolo. O Bué Tolo, como foi apelidado, já tem até uma marchinha própria. Entre os portugueses, Bué é uma gíria que quer dizer "muito". Os participantes seguem pela Avenida Ribeira das Naus, às margens do Rio Tejo, até a Praça do Comércio. Nas redes sociais, a página que convocou o cortejo já reúne diversas fotos, mostrando que por lá também os foliões estão animados e fantasiados, apesar de estarem um pouco mais vestidos. Afinal, é inverno em Portugal.

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