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Por Geraldo Nogueira

A politização das deficiências encontra-se enfraquecida no Brasil. O fenômeno ocorre pela ausência de novas lideranças como modelo alternativo e positivo da deficiência. Isso tem contribuído para o processo de reconstrução da identidade das pessoas com deficiência, tendo por base somente o modelo do atleta paralímpico. Nós mesmos temos experimentado, quase que diariamente, o questionamento sobre qual esporte praticamos, numa quase obrigatoriedade de uma resposta afirmativa.

A maioria das pessoas com deficiência, apesar de manter contato com seus pares, sobretudo através das redes sociais, não tem uma atividade de intervenção política pela inclusão do segmento. Faltam ativismo e militância. Percebe-se, assim, a ausência de um canal de partilha e coletivização de experiências. Um canal que permita desenvolver a consciência política da realidade, bem como uma atitude proativa face à sua situação como indivíduo com deficiência.

Nas décadas de 80 e 90, esse processo foi facilitado pelo surgimento das organizações não governamentais que atuaram fortemente na área das deficiências. O enfraquecimento da rede institucional de apoio às pessoas com deficiência, tanto em nível de estruturas criadas pela sociedade civil (ONGs), como de respostas sociais para a uma efetiva inclusão na família e na comunidade, constitui barreira adicional ao processo de reconfiguração da identidade horizontal. No Brasil, fora do âmbito paralímpico, a identidade do indivíduo com deficiência é frágil. Um homem ou uma mulher com deficiência, respectivamente de terno ou de tailleur, descendo de elevador para ir ao trabalho, certamente ouvirá a pergunta: "...está indo passear?". E, diante da resposta de que está indo ao trabalho, vai ouvir a frase: "...é bom para distrair a cabeça".

Clarifica-se a necessidade de retomar a politização das questões que envolvem a deficiência, possibilitando o surgimento de modelos alternativos de identidade para pessoas com deficiência. É necessário a instituição de políticas públicas para facilitar a inclusão do indivíduo com deficiência em todos os setores da sociedade, principalmente com notoriedade e visibilidade social. Fortalecendo a imagem de sujeito ativo no processo de construção social. E cabe à grande mídia abordar questões da deficiência fora da hegemonia da normalidade e do ambiente meramente esportivo, permitindo que os múltiplos caminhos da experiência que se manifestam naturalmente no seio da sociedade tornem-se visíveis.

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