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Rio - O Brasil vive grande vazio de lideranças e de formadores de opinião com base na realidade econômica, política e social que vivemos. A consolidação da democracia abre caminho para uma preocupante fase de desencontro na harmonia de poderes. E isso é no campo fértil para a divisão de brasileiros de maneira radical no que toca às posições políticas e no entendimento do que é razoável de fazer pelo bem do país. Faz lembrar aquela história de o ótimo ser inimigo do bom.

A Reforma da Previdência não é para ser considerada boa ou má, apenas é necessária e inadiável para que não venhamos a ter problemas muito em breve. E, em torno dela, surgem fantasias que fogem à realidade, como a de que os militares têm muitas vantagens. No passado, houve práticas que com o tempo foram corrigidas e, na verdade, nos últimos 30 anos, ocorreu um inexplicável achatamento salarial de nossos militares.

Os casos entregues à Justiça, especialmente aqueles decorrentes das operações da Polícia Federal e do Ministério Público contra a corrupção no setor público (incluindo políticos influentes), não devem ser alvo de posições passionais, de manifestações da sociedade, mesmo que com ordem e nos limites da lei. Devemos, sim, comemorar o fim da impunidade, a postura que desde muito impera nos países mais adiantados em que a lei é para todos. No entanto, temos visto, nas redes sociais e nas ruas, manifestações voltadas mais para a vingança e o ódio do que para se fazer justiça. E aplausos quando a autoridade policial ou mesmo a Justiça exagera ao impor humilhação e constrangimento aos que respondem pelos crimes de corrupção. Não será assim que vamos construir um regime mais justo e fraterno. Muitos poderiam pagar multas em troca da prisão domiciliar. Seria mais racional.

Quando a abertura democrática ocorreu, o equívoco de não se preservarem os acertos dos governos anteriores, inquestionáveis quanto à austeridade, honestidade e grandes projetos foi um erro. O quadro foi sendo deturpado e, em nome da governabilidade, se instalou esta história do toma lá dá cá, de se indicar 'afilhados' para a gestão pública. Atender os políticos, que, afinal, são eleitos pelo povo, não deve implicar em ceder a interesses menores. Mesmo em ano eleitoral, como o que vivemos, existe espaço para um debate sem demagogia do que realmente interessa ao Brasil. É importante interpretarmos o que está acontecendo nos países mais adiantados do que nós.

Distribuição de renda não se faz com demagogia, mas com trabalho, atraindo investimentos, melhorando o preparo do nosso trabalhador. Temos muita coisa em que pensar antes de votar.

Aristóteles Drummond é jornalista

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