Rio - A cada hora, 503 mulheres são agredidas em todo o território do país. O número impressiona e mostra o quanto ainda estamos longe de reverter este quadro, explicitado em pesquisa Datafolha publicada no ano passado e encomendada pelo Fórum Nacional de Segurança. Se aparentemente todos se dizem contrários a este tipo de violência, as estatísticas não mentem: a mulher ainda é vítima do machismo que impera no nosso cotidiano e que marca o dia a dia da nossa sociedade.
No ano passado, a Caixa de Assistência dos Advogados do Estado do Rio de Janeiro (Caarj) pôde ver de perto o que as estatísticas ilustram. Durante ações de panfletagem de uma campanha contra o assédio, desenvolvida em blocos de Carnaval, a entidade precisou trocar as promotoras mulheres por homens, tamanha a perseguição que sofreram nos grupos atendidos pela iniciativa. Não faltaram piadas, gracinhas e até agressões físicas, que deixaram claro o risco a que estas profissionais foram expostas. Este ano, porém, a Caixa de Assistência dos Advogados do Rio não se acovardou e, novamente, trouxe o tema à discussão, com o mote 'Não brinque com os meus direitos', através de um concurso de marchinhas. O tema escolhido motivará o baile organizado pela instituição, realizado às vésperas do feriado.
Quisemos trazer para o campo lúdico da maior festa de nosso calendário a necessidade de discutir um dos assuntos mais urgentes da atualidade. O mapa da violência contra a mulher mostra, por exemplo, que 61% dos agressores são conhecidos. A mulher não está segura nem dentro de suas casas, já que em 49% dos casos é no lar que os ataques têm lugar. Pelo menos 12 milhões de mulheres foram vítimas de violência verbal, e mais de um milhão sofreram espancamentos ou tentativas de estrangulamento. Além disso, apenas 11% das vítimas procuraram a polícia após serem atacadas.
É preciso tirar esta discussão das sombras, é preciso trazer luz para que o problema seja encarado de frente. Escolhemos o período do Carnaval pois muitas vezes a irreverência da festa ajuda a fazer com que a urgência de temas como este seja enxergada como se deve. A mulher tem direitos, e todo dia é dia de ressaltar esta premissa: não mexa com os nossos direitos, pois respeito é de direito.
Naide Marinho é secretária-geral da Caarj