Eugênio Cunha, professor e jornalista, colunista do DIA - Divulgação
Eugênio Cunha, professor e jornalista, colunista do DIADivulgação
Por Professor e jornalista

Rio - Início de ano letivo traz muitas expectativas para pais, professores e principalmente para educandos. Lembro-me da ansiedade que eu sentia quando se iniciavam as aulas. Era um misto de desejo e pavor. Desejo, porque o novo trazia a curiosidade. Pavor, porque a escola poderia significar uma clausura.

Um fato ocorrido quando eu lecionava no curso de Pedagogia numa instituição no Rio de Janeiro pode ilustrar o que digo. Uma aluna fazia seu estágio numa escola do Ensino Fundamental, localizada próximo a um presídio. Lá havia um menino que permanentemente ficava arredio, com olhar para o nada, não aparentando ter algum prazer de estar ali, e de quem quase não se ouvia a voz. Depois de alguns dias observando o garoto amatutado no canto da sala, ela quis saber da professora regente o motivo daquela situação. "Tem algum problema?", "Tem alguma deficiência?", perguntou. "Nada!", respondeu a mulher, sem muito se importar, "Está aqui há tempos, não passa de ano, não tem interesse".

Decidiu então ajudar o garoto ou, pelo menos, tentar fazer algo para mudar o quadro. Depois de alguns dias buscando se aproximar, sorrindo, conversando sobre coisas que talvez fossem do seu interesse, ele sorriu. Foi quando ela aproveitou a deixa e perguntou: "Por que você fica aqui, tão isolado, não participa das aulas, não se interessa..."

Antes que ela terminasse as interrogações, o menino levantou-se, apontou para fora da janela em direção onde estava localizado o presídio e falou: "Sabe aqueles caras que estão lá? Sabe? Eles jogam bola, pegam sol, fazem ginástica, brincam o tempo todo! E eu? Eu, eu fico preso aqui nesta escola..."

Como sempre acontece nas mediações afetivas, o fim dessa história foi positivo. A professora estagiária aproximou-se afetuosamente do estudante, conheceu sua alma, seus afetos, deu asas aos seus sonhos. Como educador, penso que não temos o molde da perfeição. Temos virtudes, é certo, mas a maior delas é o amor. O amor jamais carrega o ego da escravidão, mas para a liberdade educa e conquista o aprendente. O afeto gerencia as relações com o saber, que perdurarão ao longo da vida não com as digitais do professor, mas com as marcas da amorosidade que possibilitarão ao aprendente conquistar sua autonomia. É para a liberdade que educamos, e onde há liberdade há identidade e amor.

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