Rio - Celular e tecnologias como central multimídia vieram para facilitar a vida de todos os motoristas. Contudo, a utilização desses equipamentos no trânsito pode representar um risco e tanto. Segundo a Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), o uso do celular ao volante já é a terceira maior causa de mortes nas ruas e estradas. São cerca de 150 por dia no país. Ou quase 54 mil por ano.
"Mexer no celular enquanto se dirige é uma ação que o condutor deve evitar. Não pelo perigo de autuação, mas como um princípio de defesa da vida", diz Renato Campestrini, gerente técnico do Observatório Nacional de Segurança Viária.
O problema é mundial. Um levantamento feito, na Alemanha, pelo Centro de Estudos da Allianz Seguros indica que 74% dos motoristas se distraem com celulares ou itens de comodidade instalados em automóveis. "Quanto mais dispositivos de tecnologia no veículo e mais complexo o manuseio deles, mais distraído estará o motorista", diz Jochen Haug, diretor de Sinistros da Allianz.
De acordo com dados da pesquisa, 60% dos motoristas que sofreram acidente nos últimos três anos afirmaram que estavam usando celular enquanto dirigiam. Ler uma mensagem provoca, no mínimo, cerca de cinco segundos de desatenção. Se o carro estiver a 80 km/h, esse intervalo é suficiente para percorrer um campo de futebol.
Por pouco
O estudante de engenharia mecânica Davi Coppe quase pagou caro por dividir sua atenção entre o tráfego e o celular. "Eu estava dirigindo pela Linha Vermelha, quando meu celular vibrou. Como estava naquele ritmo de anda e para, tentei aproveitar um momento de fluxo liberado para poder ler a mensagem. No momento em que voltei os olhos para a pista, meu carro já estava praticamente embaixo da traseira de um caminhão".
De acordo com especialistas, 10% dos acidentes de trânsito com fatalidade são causados por motoristas distraídos. O trânsito brasileiro é o quarto mais violento do continente americano, segundo dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O número não especifica a participação da tecnologia nesse resultado, mas, segundo informações do Laboratório de Psicofísica e Percepção da Universidade de São Paulo, 98% desse total é provocado por fatores humanos e, desses, 72% por falhas de atenção.
Para Jochen Haug, o uso do celular deveria ser punido com o mesmo rigor dado a motoristas flagrados dirigindo sob a influência de bebidas alcoólicas. "Na Alemanha, por exemplo, mais de 20 mil pessoas morreram nas rodovias em 1970, e o governo respondeu a isso introduzindo limites de velocidade nas estradas e estabelecendo o nível máximo de álcool no sangue em 0,8. A bebida alcoólica passou a não ser mais socialmente aceitável. Precisamos adotar a mesma atitude em relação ao uso do celular", diz Haug.