Diogo Souza era capitão da PM antes de entrar para ramo de "investimentos em criptomoedas"Rede social
Depois de quebrar o contrato e reduzir o lucro para apenas 5%, a empresa anunciou o encerramento das atividades, mas os clientes ainda não tiveram o dinheiro devolvido. Apreensivos com o possível ‘calote’ da Spartacus, centenas de investidores prejudicados têm se reunido por meio de grupos nas redes sociais trocando informações sobre o atraso nos pagamentos e cobrando respostas.
Após diversas promessas e justificativas, o ex-policial deu um novo esclarecimento em uma reunião realizada na última sexta-feira (29). No encontro, Diogo mostrou a pretensão de iniciar a devolução do capital pagando o percentual de 5% sobre o capital investido de forma parcelada. Trata-se de uma devolução e não continuação de pagamento da rentabilidade. Ele informou ainda que precisará de um prazo de 15 dias, para anunciar o dia exato em que o pagamento terá início, com previsão para o primeiro dia de dezembro.
O detalhe que essa quebra de contrato com comunicado de encerramento das atividades da empresa, acontece pouco mais de dois meses depois da prisão de Glaidson Acácio dos Santos, o "Faraó dos Bitcoins", preso pela Polícia Federal, acusado de operar de um esquema de pirâmide financeira na cidade que chegou a fazer girar mais de R$ 38 bilhões nos últimos seis anos.
'FOMOS OBRIGADOS A ACEITAR PORQUE A GENTE QUER RECEBER'
A maioria dos clientes que formam o “Grupo Lesados” não concordou com a proposta de pagamento, uma das representantes, Cinara Quina, afirma que eles não receberam nenhum outro tipo de proposta. “Fomos obrigados a aceitar porque a gente quer receber. Nós achamos esse valor de 5% muito baixo, mas antes isso do que não receber nada” contou.
De acordo com Cinara, o empresário alegou não ter dinheiro para devolver o valor pedido pelos lesados, que seria pelo menos de 10% do retorno investido. Diogo afirma que o dinheiro, que seria de mais de R$ 2 milhões, está retido com outro trader e que estaria aguardando o valor de R$ 100 mil de um trader para recomeçar a investir.
Os clientes chegaram a questionar sobre os bens do empresário, mas ele alegou que o bar em que ele tem sociedade com o deputado Filippe Poubel, o Buda Lounge, ‘não dá dinheiro’. Eles também pediram extrato bancário e conseguiram um comprador para o carro de Diogo, avaliado entre R$ 400 mil e R$ 500 mil, mas ele se defendeu dizendo que não se tratava de uma investigação. “Como tinha R$ 98 milhões e agora não tem dinheiro?”, questionou Cinara.
A vítima acredita que as promessas não passam de uma estratégia da empresa para se livrar de processos jurídicos. “O fato dele falar que quer pagar descaracteriza o estelionato. Ele já deu vários prazos e não cumpriu. Tem gente com três meses sem receber e continua sem certeza de pagamento porque o dinheiro ainda não está na mão dele. Eu acredito que ele tenha boa vontade de pagar, mas conseguir é outra coisa, né?!”, completou.
Ela ainda mencionou a responsabilidade do deputado Poubel em toda a ação, já que ele declarou ter total confiança em Diogo Souza e influenciou diversas pessoas a investirem na empresa.
"O filho do seu sócio deputado Poubel, Sr. Kauan Poubel, era trader na empresa Spartacus Consultoria, e mais Salustiano Trader, Arthur Dantas Trader, Nene Leal 77, Sergio DSFX, todos esses se vangloriavam de fazer parte do “Time Spartacus”, onde todos repostavam em suas redes sociais os supostos resultados dos ganhos com as transações da Binance, utilizando de palavras de marketing para convencer as pessoas".
Depois de ver seu nome envolvido em toda a polêmica, Poubel respondeu com uma mensagem de áudio afirmando que Diogo sempre foi seu sócio no Buda Lounge restaurante e que nunca teve relação com empresa de investimento. “Vocês a todo momento tentam me correlacionar à Spartacus. Eu sou único e exclusivamente amigo do Diogo. Cada adulto tem um CPF, cada um responde pelos seus atos, então eu não posso ser culpado ou penalizado”, declarou o parlamentar.
Ele afirmou ainda que tem uma minoria que está tentando politizar a situação, mencionando também o Gabriel Monteiro. A esses, ele proferiu xingamentos e usou palavras de baixo calão.
“Eu não tenho culpa de p* nenhuma. Estou na mesma situação de muitos aqui, porque eu investi, meus pais investiram, meu chefe de gabinete investiu, a mãe do meu filho investiu, meus seguranças investiram, o sócio do meu pai investiu, vários amigos meus investiram e estão na mesma situação. Então parem de tentar me pressionar, me usar”, afirmou, encerrando a fala com mais alguns palavrões. Ele ainda afirmou que vai buscar a identidade de quem está o ligando à empresa Spartacus e vai acionar judicialmente por calúnia.
MEDO DE ABRIR PROCESSO JUDICIAL
Um dos advogados que representa alguns clientes lesados pela Spartacus afirmou que continua sendo procurado, mas as pessoas estão com medo de abrir processos judiciais porque foram ameaçadas de que, “quem entrasse, não receberia ou só receberia no final”.
“Jamais imaginei que hoje estaria vivendo tamanha decepção”, diz uma das vítimas.
Através de um testemunho divulgado para a imprensa, uma das vítimas explica o que a fez investir na Spartacus Consultoria. “Me senti confortável e protegida com a ideia de fazer um investimento com o mesmo, uma vez que estávamos diante de uma figura pública, que já foi candidato a prefeito de Cabo Frio, um Capitão que lutava em defesa da população, tido como probo, sério, e um empresário de sucesso, já que é proprietário do restaurante Buda e da boate Buda Lounge, localizados no Canal de Cabo Frio”.
Ela conta ainda que, a vida de “ostentação” mostrada pelo empresário, a fez acreditar que o negócio estava dando certo.
“Ao começar a acompanhar seu dia a dia que era postado em suas redes sociais de forma ampla e aberta a quem quisesse ver, diariamente postava os supostos resultados de seus ganhos na plataforma da Binance, a maior corretora de criptomoedas existente. Em algumas dessas postagens, em um único dia, faturava mais de US$ 100 mil; US$ 200 mil; e até US$ 500 mil, somado a isso o que era externado riqueza, ostentação, luxo, viagens, passeios de lancha, sempre cercados de um grupo de seguranças, todos lotados no batalhão de Cabo Frio”, diz o depoimento.
Confiante, ela vendeu a casa que era seu único bem e hoje se diz arrependida.
“Hoje só me resta chorar, não tenho onde morar, pois vendi meu único bem, vivo de aluguel, não tenho mais renda, e todos aqueles que estavam em volta do Diogo, que viviam sendo marcados em postagens de operações, viagens, festas, dizem que não tem nada a ver com a Spartacus Consultoria, e agora que irá nos socorrer? Se o próprio representante do Estado que usou o peso da sua farda para enganar o povo hoje vive livremente gastando nosso dinheiro e sem nos dar qualquer satisfação plausível.
Jamais imaginei que hoje estaria vivendo tamanha decepção, e hoje pela influência do policial me sinto abandonada pela Justiça e pela Delegacia de Cabo Frio, que até agora não tomou nenhuma providência”, completa o testemunho.
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