Apesar de ter começado no dia 14 de janeiro, a vacinação infantil contra a Covid-19, que abrange crianças de 5 a 11 anos, tem andado de forma lenta no Brasil. No estado do Rio de Janeiro, por exemplo, de 1.532.766 crianças, apenas 303.550 foram imunizadas, o que totaliza 19,80% dessa população, segundo o Portal Giscard. Esse número se reflete na Costa do Sol, onde a maioria dos municípios não vacinou acima de 50%.
Os últimos dados disponibilizados pelo IBGE indicam que, na região, o número de crianças vacináveis é de aproximadamente 113 mil, onde, de acordo com estimativa feita pelo Portal O Dia, dessa população, menos de 50 mil receberam a primeira dose.
Seja por opção ou não, a adesão à vacina em crianças está menor que o esperado. Em São Pedro da Aldeia, por exemplo, a prefeitura afirma que o índice de cobertura para essa faixa etária está abaixo do previsto, devido à pouca busca pelo imunizante. O levantamento feito pelo Portal aponta que o município é o que menos possui pequenos vacinados, somando apenas 12,30%. O mesmo também ocorre em outras cidades, como Cabo Frio e Arraial do Cabo, que juntos, somam 6.683 imunizados.
Já sobre Saquarema, em nota, a prefeitura conta que a vacinação segue conforme o esperado. Ainda segundo dados levantados pelo Portal O Dia, a cidade é uma das que possui o índice mais alto de imunização, ficando atrás apenas de Macaé, Araruama e Maricá. O município conta com 47,10% de abrangência.
Armação dos Búzios, apesar de ter o índice menor que 45%, também afirma que a aceitação tem sido boa. De acordo com nota enviada pela prefeitura, no início, a procura foi baixa, mas atualmente o cenário foi mudado. “A adesão está conforme o esperado”, pontua.
Para que a busca se tornasse mais efetiva, cidades como Iguaba Grande realizaram o dia D da vacinação infantil, onde o objetivo é incentivar a população a vacinar os pequenos e reforçar a imunização para o retorno às aulas. Durante a ação, segundo a prefeitura, foram vacinadas 270 crianças. No total, em todo o município, 856 pequenos receberam a primeira dose.
Outras medidas de incentivo também estão sendo tomadas. Em Rio das Ostras, por exemplo, os postos de saúde estão sendo enfeitados para receber as crianças. A prefeitura afirma que, com a medida, a procura tem sido conforme o esperado. O município registra 30,74% da faixa etária imunizada.
Confira os dados da Costa do Sol
Responsáveis debatem sobre vacinar ou não
Alguns pais da Costa do Sol têm levantado discussões sobre a obrigatoriedade da vacinação infantil contra a Covid-19. A falta de confiança no imunizante ainda permeia o país, principalmente após o próprio Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, se dizer contra a imunização em crianças.
Em entrevista feita a uma rádio de Pernambuco, o líder de governo levantou algumas questões sobre a vacinação. “Você vai vacinar teu filho contra algo que o jovem por si só a possibilidade de morrer é quase zero? O que está por trás disso?”.
Mas dados contrapõem a afirmativa do presidente. Pesquisas do Butantan afirmam que, desde o início da pandemia, a doença se tornou a segunda maior causadora de mortes infantis. Só no Brasil foram mais de 1.400 óbitos. Para que o quadro fosse revertido, o uso emergencial da vacina para o público pediátrico foi autorizado.
Apesar do alto perfil de segurança, alguns pais ainda batem o pé sobre não vacinarem seus filhos. Esse é o caso de uma mãe de Cabo Frio. A mulher, que preferiu não se identificar, por medo de represálias, tem um filho de 11 anos e acredita que o imunizante ainda não é seguro.
“Não queria vacinar meu filho por conta do medo do efeito colateral e por ser uma vacina muito nova. Ainda não está enraizada. Se ela fosse mesmo tão importante para a idade dele, iria para o cartão de vacinas”, ela pontua.
A mulher ainda comentou sobre a obrigatoriedade da vacina. “Isso me traz um certo temor, porque parece que estamos sendo obrigados a fazer algo nos nossos filhos que a gente ainda não tem confiança”, conclui.
Já Rosângela Pereira, também moradora de Cabo Frio, pensa o contrário. Seu filho, João, de 10 anos, foi vacinado no início de fevereiro. “Eu acho necessário, pois a escola é um local de aglomeração. São muitas crianças em um lugar só e não ficam distantes. É um grupo muito necessário de ser vacinado”.
A mulher afirma ainda que, dentro de casa, sua maior preocupação era ele. “Toda a família estava vacinada, menos ele. Era como se todos se sentassem à mesa para almoçar e ele fosse o único que não. Foi uma alegria quando meu filho foi vacinado”.
Outra moradora do município, Alexsandra Borges, acredita que imunizar seu filho, seja para o que for, é um ato de amor. “Minha mãe me levou para vacinar, eu dei continuidade tomando todas as doses que foram oferecidas e necessárias. Por que seria diferente com meu filho? Imunizá-lo é uma das maiores provas de amor que posso lhe dar.’ Permitir que ele viva em um mundo cheio de vírus e bactérias sem anticorpos para lutar, para mim, é a mesma coisa de dizer que não me importo com sua vida”, enfatiza.
Ela conta ainda que seu filho, Miguel, de 10 anos, testou positivo para a doença, e por isso ainda não se vacinou. “Ele aguarda o período correto para tomar sua primeira dose, pois se contaminou com o vírus. Assim que for liberado, iremos ao posto. E vamos quantas vezes forem necessárias. 1ª, 2ª, 3ª… e mais!”, conclui.
Especialistas comentam
Em entrevista ao Portal O Dia, a infectologista Drª Apparecida Monteiro, que é médica em Cabo Frio, explicou a importância da vacinação em crianças de 5 a 11 anos. “Hoje morre mais criança com Covid do que com meningite ou diarreia. Então, tem que vacinar as crianças sim. Lembrem-se a vacina é uma das maiores conquistas do ser humano. Ela modificou toda a história da humanidade e a vacina Covid entra também nisso. É só lembrar da paralisia infantil, da varíola, por exemplo, doenças que dizimaram populações. Imaginem se não houvesse vacina para isso”, lembrou a médica.
Apparecida frisa ainda que, agora que a faixa etária acima de 18 anos está sendo vacinada, casos mais delicados começam a surgir em crianças. “Como os adultos estão vacinados, os casos mais graves acontecem nos menores de 12 anos”, concluiu.
A vacina é obrigatória
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a lei 13.979/2020, que trata especificamente do enfrentamento à pandemia, a vacinação é, sim, obrigatória.
O ECA aponta que “é obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias”. A lei aprovada em 2020 libera estados e municípios a definirem as suas próprias medidas de enfrentamento à pandemia.
E no caso de pais separados?
Um caso chamou bastante atenção da mídia no início de fevereiro, na cidade de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul. Um pai levou a filha para se vacinar sem o consentimento da mãe – os dois são separados. O ex-casal tinha divergências sobre a imunização da criança. De acordo com o homem, a ex-esposa teria até mesmo o ameaçado de nunca mais ver a criança por isso.
Segundo advogados, quando acontece esse tipo de situação, quando se trata de guarda compartilhada ou unilateral, um deles pode levar o filho para receber o imunizante mesmo sem o consentimento da outra parte, desde que esteja sob sua responsabilidade no momento.
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