Por Fernando Mansur
Em muitas praias, ainda cedo na tarde, o sol já não bate mais. Passo por uma rua e o sol está solto, vívido, cálido, cristalino. Caminho mais um pouco e o perco de vista: um edifício impede o viço, o vínculo, a conexão. E me pergunto: será que já nos questionamos por que é permitido que os raios de sol se percam, principalmente agora em que a vitamina D é tão necessária, tão essencial para nos manter ativos?
Sim, os prédios altos cortam o sol pela raiz, impedindo-nos de absorver seu prana revitalizante e de termos na pele sua marca indelével. Um absurdo! Poderão exclamar as futuras civilizações, quando souberem de nossos costumes bárbaros e de nossas preferências, inimagináveis para uma mente saudável.
Publicidade
Não sabemos do futuro que nos avizinha, mas não parece promissor. A avareza não costuma produzir bons frutos, pelo menos a longo prazo. E o que vemos grassando são blocos de insensatez. Feliz será o tempo em que os horizontes belos serão perceptíveis à grandes distâncias, desimpedidos pela ganância humana, queria poder, de minha janela, lançar meu olhar ao longe, e avistar rasgos de luz, de verdes e de azuis.
Há lugares em que o sol inclemente pode matar. Mas há outros em que, sem ele, não há vida. Neste último caso, quando faltar o sol, que possamos prover a luz com nosso brilho interior. Somos sóis, brilhemos, desimpedidos das paredes que cercam a alma, obscurecida temporariamente pelo torpor dessa era.
Publicidade
Que consigamos enxergar além das aparências, além das excrecências. Podemos. Vamos!