Arte coluna Atila_ Alem da vida 07_08_2021Paulo Márcio

Quem não gostaria de ter o dom mágico de chamar o espírito de alguém querido que já fez sua passagem? No linguajar mediúnico, isso se chamaria ‘evocar’ espíritos. Qualquer um pode fazer isso? Podemos evocar qualquer espírito? Podemos evocar os bons e os maus? Podemos evocar os que nos deixaram recentemente e os que viveram em outras épocas? Podemos evocar grandes personalidades ou só os mais simples? Podemos entrar em contato com nossos familiares, amigos e até mesmo com aqueles que nos maltrataram em vida?
A rigor, não existe nada que impeça a evocação de espíritos, mas...esse chamamento deve ser extremamente cuidadoso. Uma coisa é um espírito ir ao encontro de um médium espontaneamente. Outra coisa é a evocação contínua, quase que irreverente de espíritos que estão em outra dimensão. Como os humanos, espíritos precisam de paz, muita paz, e ao evocá-los com frequência, estaremos perturbando seu processo de evolução.
Publicidade
Um exemplo fácil de entender é quando alguém muito querido nos deixa. Dependendo da dor, uma mãe que perde o filho prematuramente, passa por um sofrimento tão grande, que sai à procura de centros espíritas e terreiros em busca de algum médium que possa estabelecer uma ligação espiritual com o filho. Agora, imagine o espírito desse filho, que certamente está num mundo de paz, vendo sua mãe se derramando em lágrimas e sofrimento atroz por causa da saudade? Pior: ambos nada podem fazer, a não ser por algum poder superior. Não se sabe quem sofre mais: a mãe que sente saudade ou o filho que a vê sofrendo.
Meu saudoso amigo, o médium mineiro Francisco Cândido Xavier era procurado frequentemente pelos que perderam entes queridos. Multidões batiam à sua porta para que ele lhes transmitisse mensagens de entes que deixaram este mundo. Eram tantos os pedidos, mas tantos, que um dia ele disse que “o telefone toca de lá para cá”, isto é, os espíritos entram em contato conosco quando lhes é permitido.
Publicidade
Isso não significa que não devemos chamar os espíritos numa sessão mediúnica. Até porque, as manifestações espontâneas exigem mais cuidado das que são resultado de evocações. É óbvio que uma comunicação espontânea é a ideal, porque não se perturba o repouso do espírito que está em outro nível, num processo de evolução. Daí a dizer que não se deve evocar espíritos é um equívoco.
Quando falamos de evocação de espíritos, é impossível não falar de obsessores, que nos causam muito constrangimento e até mesmo, forte perturbações. Algumas ligações chegam a ser mórbidas e, por isso, devem ser rompidas. Obsessores podem ser a causa de alterações emocionais, já que podem ser espíritos sofredores desencarnados que ainda não compreenderam completamente que expirou seu período em nosso plano espiritual.
Publicidade
Chamamos de obsedado aquele que é perturbado pelo obsessor. Há casos graves em que a ‘vítima’ fica tomada por um fluido ruim que neutraliza os bons. E esses fluidos ruins precisam ser expulsos. Fluidos perniciosos só podem – e devem – ser expulsos com a ajuda de fluidos melhores. É como espalhar um detergente sobre um prato gorduroso.
Nem sempre, entretanto, isso funciona, isto é, através de orações e conversas com obsessores. Esse tipo de ação pode não funcionar, pois o espírito que insiste em nos perturbar só nos deixará se perceber uma superioridade moral. Quanto maior for essa superioridade (moral), maior será a autoridade percebida pelo obsessor. Não é uma tarefa fácil, porque os obsessores têm que ser convencidos a deixar de perturbar suas vítimas, renunciando aos seus maus intentos, buscando o bem que ainda existe dentro deles. E isso, só médiuns experientes são capazes de realizar. Não é fácil libertar alguém obsedado.
Publicidade
Por isso, a importância das evocações nos centros espíritas e demais centros e da Umbanda. São nesses lugares que se realiza a libertação obsessiva. A desobsessão sempre tem causas, por essa razão, em alguns centros, equipes de médiuns são formadas para descobrir as causas que levaram o paciente à obsessão. Além disso, é necessário orientar o espírito desencarnado, levando-o ao equilíbrio. E, é claro, não dá para fazer isso sem a evocação.
Quase todo médium é capaz de receber vários espíritos. Não me lembro do registro de um médium que receba um só espírito. O normal é que recebam uma variedade de espíritos. Não só em centros chamados de kardecistas isso ocorre. Nos centros umbandistas, essa prática é corriqueira, com a incorporação de caboclos e pretos velhos. E o que deve ser evitado a qualquer custo? Evocações para atender a interesses particulares, principalmente os de natureza material. Espíritos não podem ser evocados para informar o futuro resultado da megasena e muito menos, para trazer o ser amado em sete dias. Cá entre nós, isso chega a ser um insulto.
Publicidade
É sempre um risco para os médiuns novatos evocarem os espíritos sem acompanhamento de algum médium experiente. Os mais radicais acham que não devemos evocar espíritos, sendo preferível esperá-los se comunicarem. Só que isso não faz sentido, haja vista que sempre estamos cercados de espíritos (a maioria, é verdade, inferiores), todos desesperados para se comunicarem. Isso, contudo, não significa que a evocação deve ser desenfreada, ‘abrindo a porteira para passar a boiada’. Até mesmo porque, o espírito evocado pode não estar disposto a falar.
Ao contrário de antigamente, vejo nos centros espíritas e umbandistas uma certa passividade dos médiuns nas sessões, com as entidades assumindo o controle. Tem que se tomar muito cuidado porque não sabemos as reais intenções desses espíritos, nem todos bons. Não podemos ser dependentes de espíritos. Médiuns têm que ter discernimento e jamais abrir mão do aprendizado para poder avaliar corretamente se seu corpo está sendo usado indevidamente por um espírito mal intencionado. Nenhum médium pode ser dependente de um espírito. Nem nosso Chico Xavier foi dependente de Emanuel.
Publicidade
Para finalizar: na obsessão simples, o médium sabe que está lidando com um espírito mistificador. Ele não se disfarça, e nem mesmo dissimula de maneira alguma de suas más intenções. E o médium reconhece a mistificação, não sendo enganado. O médium deve evocar seu guia espiritual e perguntar se é seguro. Pedir ajuda a outro médium pode ser recomendável porque se for um espírito obsessor, será identificado. Eles só dominam os que se deixam dominar. Quem for assistido por espíritos bons nada tem a temer, porque se impõe aos espíritos inferiores e não, ao contrário.