ATILA14AGOARTE O DIA

“Quanto mais eu trabalho, mais sorte tenho!” Esta frase resume mesmo a sorte de alguém no tamanho de seu esforço, de sua dedicação ao trabalho? O fato é que quando acontece algo significativo, bom ou mau, é quase certo que se usará a palavra sorte, seja como boa sorte, seja como má sorte.

Qual é o critério, contudo, para acharmos que algumas pessoas têm muita sorte? Por que achamos que a vida lhes sorri? Essas pessoas têm muitos amigos, boa saúde, um bom emprego, uma linda família e muito conforto. Já para aqueles que achamos que têm má sorte, os identificamos como pessoas que vivem enfrentando grandes dificuldades, têm poucos amigos, seus projetos dão com os burros n’água e têm problemas de saúde.

É assim que definimos os que achamos que têm boa ou má sorte. A crença na sorte é antiga. Os estudiosos do assunto consultam a posição das estrelas no momento do nascimento, buscando conjunções propícias. Para outros, entretanto, é uma questão de carma (principalmente, quando tudo dá errado). A parte trágica é se imaginar fadado ao eterno sofrimento, a uma derrota inexorável.

A Lei da Causa e Efeito é a saída para explicar que a sorte e o azar podem gerar consequências, isto é, nosso comportamento de ontem influenciará o que acontecerá hoje. Há a crença de que comportamentos do passado terão efeitos que podem durar muito tempo. Esta é a razão porque se crê que pessoas colhem o que plantam. Pessoas más atraem coisas boas. E as ruins, trafegam por caminhos espinhosos.

Uma boa parcela da população não crê na sorte e no azar. Já os seguidores de religiões reencarcionistas, como espíritas, umbandistas, candomblecistas, hinduístas e budistas, creem que é fruto do merecimento. O que nos acontece de ruim estaria atrelado ao nosso comportamento em vidas anteriores. Óbvio que pensamentos ruins atraem coisas ruins. É inquestionável o mal causado por uma energia negativa. Alguns sentem a vibração ruim quando se deparam com pessoas influenciadas por espíritos atrasados.

O sucesso depende de uma sucessão de eventos favoráveis. Um pequeno detalhe pode mudar o rumo. Nossas decisões determinam nossa sorte ou azar. O trabalho muda nossa sorte, já que sorte é algo que nós criamos com nossos pensamentos e comportamentos. Imagine-se no sofá da sala de sua casa o dia inteiro, dia após dia, trancado, sem se comunicar, sem desenvolver novas amizades ou sem se relacionar com as antigas. Tudo estará longe. Como esperar ser bafejado pelo que chamamos de sorte? Repare que os “azarados” têm um ponto em comum: são pessoas que vivem imobilizadas, sem qualquer iniciativa, sem se dar ao trabalho ao menos, de abrir as janelas para entrar ar e sol.

Considero-me um sujeito intuitivo, mas não afirmo que isso seja fundamental para se ter sorte (embora a maioria dos “sortudos” sigam sua intuição). E mais: é fundamental ser otimista. Aqueles que têm mais chances de experimentar coisas novas, identificam oportunidades e acreditam que tudo pode dar certo. Só que ninguém é sortudo o tempo todo: só lidam de forma diferente dos que não se acham sortudos.
O otimismo faz com que visualizemos coisas boas em vez de ruins. Trabalham para que o ruim se transforme no melhor, cercando-se de pessoas positivas, de bom astral, fugindo dos “vampiros energéticos”, aqueles que sugam nossas energias positivas. “Deu ruim”? O otimista segue em frente. O “azarento” senta na beira da calçada e chora.

Repare que pessoas inconvenientes não se dão conta da proporção da perturbação que causam. E nem sempre podemos evitá-las. A jornalista Nivea Souza é uma estudiosa das influências no cotidiano da Física Quântica, quando somos diariamente afetados por partículas atômicas que emanam ondas, frequências e ressonâncias. Particularmente, acho muito adequada a palavra “frequência” para definir a sintonia (ou falta dela) quando nos relacionamos. Algumas pessoas têm uma frequência diferente da nossa. É como se alguns sintonizassem em FM e outras, em AM.

Somos espíritos reencarnados. Com certeza, nosso espírito já viveu várias vidas e continuará por muitas ainda, só que hoje, habita um corpo perecível: o nosso. Esse princípio inteligente do Universo, criado para ser eterno, deve moldar-se nas suas ações para que a próxima vida seja menos penosa do que essa. É inevitável, todavia, que busquemos desculpas para o que acontece de ruim em nossas vidas.

Então, quer dizer que “Deus não ajuda a quem cedo madruga”? Mais ou menos. Trabalho não é apenas uma ocupação material. É também espiritual. Toda ocupação útil é trabalho, é tudo aquilo que ajuda a evoluir nosso espírito. Aí, chegamos à conclusão que sorte e azar não condizem com a justiça divina, já que partiríamos do princípio que Deus tem preferências, fazendo com que sortudos fossem fruto de seu desejo de privilegiar alguns em detrimento de muitos.

Sorte também é trabalhar, é ser persistente, é não desistir (mesmo depois de fracassos), é ser perseverante ou tinhoso, como se diz popularmente. Sorte é planejar para transformar a criatividade e sonhos em realidades. Sorte é não jogar a culpa dos fracassos no azar, fugindo assim, das responsabilidades. “Puxa, faltou um pouco de sorte, dei azar” é uma desculpa esfarrapada para explicar o que não deu certo, a maioria das vezes, por falta de planejamento e perseverança. Repetindo: planejamento e perseverança.

Todos nós temos talento. Alguns, um pouco mais do que outros. Raros têm um talento excepcional. A maioria esmagadora sofre, rala muito para vencer, mesmo com talento, porque existem muito mais obstáculos do que atalhos que facilitam nossas vitórias. A sorte é diretamente proporcional às nossas atitudes. “A fé remove montanhas”, é verdade, mas não custa empurrar enquanto se reza, não?