O mesmo Jardim Botânico que o Ministério do Meio Ambiente deseja transformar um Museu em Hotel.
Voltando a quem interessa.
Na revista Manchete publicou "Diálogos Possíveis com Clarice Lispector", entrevistas com figuras importantes da cultura do País, de maio de 1968 a outubro de 1969.
Pausa para a interação entre a escritora e o poeta Vinicius de Moraes.
Clarice Lispector – Como é que você se deu dentro da vida diplomática, você que é o antiformal por excelência, você que é livre por excelência?
Clarice tem uma longa caminhada junto às crianças. A literatura dela voltada para o público infanto-juvenil é muito rica.
“Clarice Lispector escreveu quatro histórias para crianças: "O mistério do coelho pensante" (1967), "A Mulher que matou os peixes" (1968), "A vida íntima de Laura" (1975) e "Quase de verdade" (1978). Por meio de uma linguagem que se aproxima de uma conversa, Clarice instiga o pensamento crítico e criativo das crianças. Suas histórias envolvem bichos que fazem parte do cotidiano delas e da própria autora que iniciou na literatura infantil escrevendo para seus filhos sobre os bichos deles. Em "O mistério do coelho pensante", instiga os leitores a pensarem sobre o mistério instaurado na história: como o coelho, Joãozinho, conseguia fugir de sua casinhola todas as vezes que não havia comida nela? Mais importante que desvendar o mistério é a busca que as crianças fazem para isso. Instigar a curiosidade e a reflexão dos leitores é uma das marcas claricianas. Os vazios do texto literário vão sendo preenchidos pelos leitores e na produção para crianças não é diferente. Em "Quase de verdade", traz seu cachorro Ulisses como narrador. Realidade e fantasia se misturam numa pseudo-autoficção”, explica Cintia Barreto, escritora, professora e coordenadora da pós-graduação em Literatura Infantil e Juvenil da universidade Candido Mendes.
Grande biógrafo de Clarice, o americano Benjamin Moser conta uma história saborosíssima no livro “Clarice” (editora Cosac e Naify) envolvendo o inseparável cachorro Ulisses:
“Em 1974, uma mulher que foi entrevistar Clarice (para o mesmo O Pasquim, em que Henfil a atacara) ficou aturdida com o cachorro, ‘que engolia loucamente todos os tocos de cigarro, às vezes ainda meio acesos, que os entrevistadores deixavam no cinzeiro… Ela calmamente o deixava fazer o que quisesse’. Ulisses fazia parte de seu retorno à infância, e à maternidade. Ela contou a uma entrevistadora: Comprei Ulisses quando meus filhos cresceram e seguiram seus caminhos. Eu precisava amar uma criatura viva que me fizesse companhia. Ulisses é um mestiço, o que lhe garante uma vida mais longa e uma inteligência maior. É um cachorro muito especial. Fuma cigarros, toma uísque e CocaCola. É um pouco neurótico”.
O ano seguinte, 1975, foi marcado por um convite especial: participar da I Conferência Mundial das Bruxas, na Colômbia.
Era a única brasileira que seria ouvida por uma plateia atenta.
O que fez Clarice? Pediu que alguém lesse o conto “ O ovo e a galinha”. “De manhã na cozinha sobre a mesa vejo o ovo” é o comecinho do famoso texto.
Aplausos. Gritos. Bis.
A impressão foi que ninguém entendeu nada.
Clarice Lispector faleceu aos 56 anos, em 1977, muito antes de imaginar que viraria sensação nas redes sociais, com citações, memes e até registros fotográficos.