Cesário Melantonio NetoDivulgação

Os líderes da Rússia e da China estão unidos pela certeza de que os EUA estão decididos a levar a cabo um plano para enfraquecer e derrubar os seus governos. Os esforços do Ocidente para isolar e punir Moscou tendem a ser enfraquecidos pelo apoio da China à Rússia. Muitos comentaristas acham que a nova ordem mundial encabeçada por Washington está desaparecendo e, em seu lugar, começará uma nova ordem mundial multipolar.
O próprio presidente Xi, da China, colocou a questão de forma clara ao afirmar que o Oriente está em ascensão e o Ocidente em declínio. Para a Rússia e a China, a instauração de uma nova ordem não é apenas uma questão de poder. É igualmente uma luta entre ideias. Enquanto a tradição liberal ocidental promove o ideal dos direitos humanos universais, russos e chineses creem que se deve permitir que diferentes tradições e civilizações culturais se desenvolvam de maneiras diferentes.
Eles rejeitam o modelo de pensamento único e imposições por sanções ocidentais. A Rússia está, no momento, mais disposta a correr riscos militares do que a China, mas conta sempre com o apoio velado ou ostensivo de Pequim. Para os russos, o emprego de força militar na Síria, Ucrânia e em outros países é uma forma de repudiar a afirmação de que Moscou não passa de uma potência regional.
O apoio repetido de Xi a Putin reflete uma identificação de visões de mundo e interesses comuns entre os dois países. Em Pequim, há uma forte sensação de que o tempo e a história estão do lado da China. Os chineses têm muitos instrumentos econômicos para aumentar sua influência que não estão disponíveis para os russos.
Um projeto característico e exemplar, com conteúdo simbólico, dos anos Xi é a iniciativa do Cinturão e da Rota, um enorme projeto internacional de obras de infraestrutura financiado pela China e que se estende pela Ásia Central, África, Europa e América.
A Rússia e a China podem pensar que serão capazes de concretizar suas ambições por meio de guerras por procuração. Uma vitória russa sem oposição na Ucrânia poderia indicar uma nova ordem em termos de segurança europeia com uma esfera de influência russa. Uma invasão com sucesso chinesa de Taiwan seria interpretada como um sinal de que o domínio norte-americano, no Pacífico, teria chegado ao fim.
Nesse caso, muitos países da região asiática que hoje se apoiam em Washington para a sua segurança, como o Japão e a Coreia do Sul, podem optar por se acomodar em uma nova ordem dominada pela China. Nessa nova ordem mundial que Moscou e Pequim demandam, os EUA teriam de aceitar o domínio russo e chinês de suas vizinhanças.
A impaciência da Rússia fica clara com a disposição de Putin de forçar uma crise no caso ucraniano. As perspectivas de uma nova ordem mundial podem depender de que a aposta da Ucrânia dê certo para Moscou e Pequim. Mas a Rússia não tem riqueza suficiente para sustentar uma nova ordem mundial sem a China.
Hoje o tamanho da Economia russa é igual aproximadamente ao da Itália. Enquanto a China se aproxima de ser a maior Economia do planeta. É igualmente a maior potência exportadora e também a maior potência industrial. Sua população de um bilhão e quatrocentos milhões de habitantes é cerca de dez vezes a da Rússia. Consequentemente, para a China é realista aspirar a ser o país mais poderoso do mundo.
Embora as diferenças entre os potenciais econômicos dos dois países tornem Xi mais ambicioso do que Putin, no curto prazo também o tornam mais cuidadoso e cauteloso do que Putin. Há algo de estranho na compulsão bélica russa ao usar a força militar para mudar o equilíbrio de poder europeu. Putin vê a Ucrânia como a sua última trincheira depois de ver a OTAN se expandir em boa parte do que foi o bloco soviético.
Cesário Melantonio Neto