Luarlindo Ernesto - Agencia O Dia
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Por O Dia

Caminhando pela Avenida Atlântica, Posto Seis, tentando comprar um robalo, ali na Colônia de Pesca, sem o petróleo derramado em nosso Litoral Nordeste, bateu aquela nostalgia. Cadê a TV Rio? E, lá no Leme, onde andará - viva ou morta - a Lindaura, que nos servia o caldo verde no Beco da Fome? Pensei até no Ibrahim Sued, com seu caderninho na pérgola do Copacabana Palace. Pô, soltei o freio e deixei a mente vagar nas ondas de outrora. As musas que passaram pelo Copa, Gina Lolobrigida, Kinn Novak - e que acabou passando uns dias na casa de campo do Samuel Wainer, em Itaipava - e outras e outros tantos que pintaram no pedaço.

A TV Tupi, na Urca, a Continental, em Laranjeiras, a Excelsior, em Ipanema. A Globo estava nascendo...Caramba, quase esqueci do Verão da Lata, do Pier de Ipanema, dos motéis da Barra, do bar do Osvaldo. Barra e Recreio, na Baixada de Jacarepaguá, faziam parte da Zona Rural (com Santa Cruz e Campo Grande juntando os pedaços). O milésimo gol do Pelé, no Maraca transbordando de gente. As pernas tortas do Mané Garrincha...

Vi Juan Manuel Fangio, o italiano Carlos Pintacuda, o brasileiríssimo Chico Landi correram com suas "baratinhas" no Trampolim do Diabo e na Quinta da Boa Vista. Bebi refresco no Bar Simpatia, na calçada da Avenida Rio Branco, ao lado da movimentada e concorrida de gente bem, vestida, na Galeria Cruzeiro, Vi o Palácio Monroe no auge e ao ser demolido. Ah, vi o Aterro do Flamengo ser iniciado, andei de bonde e de ônibus elétrico - os cariocas chamavam de Chifrudo - vi a Casa Rosada, ali na Rua Alice, no auge do movimento.

Encarei a renúncia do Jânio, a posse conturbada e a derrubada escandalosa do Jango, o nascimento de Brasília. Meu Deus, vi a derrota do Brasil para o Uruguai no novíssimo Maracanã, estudei em colégio católico e frequentei, de onda, a macumba. Casei uma porrada de vezes nesse tempo todo. Homessa, nesse tempo, acreditem, não haviam inventado a bala perdida. As favelas eram poucas e pacíficas. Não havia tv colorida, o celular, a internet. Os carros eram de fabricação americana - uns poucos ingleses e ou franceses - e poucos moradores tinham telefones em casa. O Émerson Fittipaldi foi parar em Cuba durante um sequestro de avião da Cruzeiro do Sul.

Os hoje clubes de futebol chamados de pequenos, Bangu, Olaria, Madureira e o Bonsucesso - o América, também - davam espetáculos no futebol e derrotavam facilmente o Flamengo, Vasco, Fluminense. O Torneio Início de Futebol (todos os clubes jogavam no mesmo dia) começava pela manhã no Maracanã e terminava no final da tarde. Porreta ! Eu levava lanche...

Jogava bola na rua, machucava a perna e era atendido, prontamente, no SAMDU (Serviço de Assistência Médica de Urgência) da Rua do Matoso. Tinha médicos, medicamentos, ataduras, mercúrio cromo, vacina contra o tétano e gesso. Tudo a tempo e a hora. E as ambulâncias funcionavam. Na Avenida Brasil, pouco trânsito - comparado com o de hoje - com a Aero Clube do Brasil instalado onde hoje é a Comunidade Magarinos Torres - Nova Holanda, para os mais novos - a praia de Ramos bem pertinho da avenida e a Colônia de Pesca, vendendo os frutos do mar para quem chegasse cedinho. O Galeão recebia os Costellations vindo dos Estados Unidos e Europa nas asas da Panair do Brasil. E as mulheres, ousadas, usavam biquínis cada vez menores.

O lado triste é que os homens matavam as mulheres por ciúme e não eram presos: defesa da honra. E saíam livres. Vou tentar lembrar quantos jornais existiam no Rio. O Dia, A Notícia, JB, Globo, Última Hora, Diário de Notícias, Diário da Noite, A Noite, Gazeta de Notícias - fundada no Império - Luta Democrática, Diário Carioca... O Pasquim, bem, veio mais tarde. Chega de lembranças. Tem muita coisa. Eu era novo, feliz, e não pagava Imposto de Renda. Caramba, quase que esqueci de comprar o peixe...

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