Por Luarlindo Ernesto
Depois da chuva, estava no final da tarefa diária em varrer o quintal. Nesses meses de confinamento, descobri que é o momento ideal para baixar o arquivo da memória dos anos passados. E não falha. O lado negativo da coisa é que surgem os maus e piores momentos. Afinal, já melhorei o sistema e, atualmente, somente lembro das coisas em cores. Antes, tudo era em preto e branco.
Várias histórias que contei aqui nesse pedaço, voltaram à vida durante a faxina das folhas no quintal. Por isso, sempre estou com um caderninho e caneta nos bolsos da bermuda velha de guerra, exclusiva da tarefa matutina.
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Apertei o botão de 1978 e comecei a ver o "filme" passar. Geisel era o presidente de plantão, o divórcio já estava valendo no país. Será que os mais jovens sabem da história do decreto que permitiu o divórcio ? Pois foi nesse ano, em outubro, que o Ato Institucional 5, o mais violento da época militar, foi extinto no país.
Mas, também, veio o Decreto-Lei que proibia greve nos setores de segurança nacional e serviços públicos em toda a nação. Lembram? Ou não sabiam? Querem mais de 1978 ? Anotem: final de dezembro, surge a nova Lei de Segurança Nacional (LSN). Dois dias depois, o outro e último general-presidente, o Figueiredo, assina o decreto que revoga o banimento de 122 brasileiros. Eita memória! Eu vivi tudo isso - e algumas outras encrencas, anos e anos antes, é claro - Escrevi no bloquinho e entrei na casa para o desjejum.
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O exercício físico revigora os músculos e a mente. Mas, abre o apetite. O banho matinal e, em seguida, o velho e bom trabalho em procurar as notícias da madrugada que se foi e as da manhã, É hora do home office. Seis horas da matina, já estou no zap com o chefe. As anotações de 1978 vão aguardar a noite para serem confirmadas. Coisa de jornalista que, por profissão, tem que ter certeza em fatos, nomes, datas e outras coisinhas que não parecem importantes. Mas são.
Rádio e televisão ligados em noticiários, computador e celular funcionando - quase toda parafernália que não existia em 1978 - Já acostumei ao ritmo frenético das notícias. São mais de 60 anos cuidando do Rio, do Brasil e do Mundo. Não consigo ficar longe das informações. Afinal, além de fazer o que gosto, é o meu ganha pão. Acompanho esse dia e vejo a briga da vacinação no Brasil. Enquanto descubro um tiroteio em São Gonçalo, um acidente da Via Dutra, as operações policiais da Federal, da PM e da Civil no Rio de Janeiro, vou armazenando as declarações dos governantes neste dia de hoje.
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A da vacinação prometida para dezembro, foi fenomenal. Mas, as vacinas somente chegarão em janeiro! Aí, aparece o presidente na  TV e declara que a pandemia está no finalzinho. Não posso perder o fio da meada do trabalho. Fiz um trato comigo mesmo: daqui há uns 20 anos, vou rever a memória e escrever essa história para vocês.