Por Luarlindo Ernesto
A história se repete. Lembram daquela música do Noel Rosa, a "Conversa de Botequim?" Pois bem, foi em uma prosa dessas, durante um cafezinho, que o Otacílio, um velho conhecido, aposentado gráfico, me chamou a atenção. "Ô, Luar, o remédio mais falsificado do mundo é o Viagra". Preocupado com os males que sempre afligem os mais idosos e, atualmente com a covid-19, custei a atentar para o detalhe que o companheiro alertava. Consegui fazer a ligação que ele apontava. Céus, as vacinas que estão chegando! Se ligaram?
Nós estávamos no hospital para exames de rotina nesse dia. Então, quando voltei para a minha caverna, resolvi pesquisar o assunto Viagra. Senhoras e senhores, pasmem. Eu fiquei surpreso com os números de falsificações que assolaram o mundo, desde o ano de 2000, quando o medicamento, descoberto por acaso, chegou às prateleiras das farmácias e drogarias. Bem, no caso dos falsos, por volta dos anos a partir de 2001.
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A Pfizer, que lançou o Viagra, faturou milhões de dólares desde então. Mas os criminosos de plantão, inundaram o planeta com cada mistura de arrepiar. Com a chegada da notícia dos "milagres" que o novo produto produzia, logo a Europa foi o alvo principal dos bandidos. Em pouco tempo, países de todos os continentes foram inundados de falsificações.
Claro que o poderoso medicamento logo chegou aos jovens - que, teoricamente, não precisam de estimulante sexual - e que foram vítimas, também, das falsificações. Não consegui saber, entretanto, as contra indicações de quem usou o falso Viagra. O que terá acontecido? Mas, a medicação que era pesquisada contra angina no peito nosso de cada um, ficou sendo o alvo predileto dos criminosos.
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Vocês já devem ter percebido o sinal que Otacílio me enviou. A corrida à vacina contra o coronavírus é outro alvo dos bandidos. Claro ! Se falsificam ovos e caneta Bic, porque não ganhar dinheiro com vacinas falsas ? Ô humanidade miserável e má. Os criminosos não querem saber da saúde dos outros e nem mesmo se importam em furar as filas dos mais necessitados, ou os prioritários.
Pelo que me contaram - estava em um fila para entrar em drogaria - quando uma senhora, com sua máscara cheia de flores, falava em voz alta que um conhecido, dono de uma loja de antiguidades, já havia conseguido tomar o imunizante, "gastou um dinheiro, mas conseguiu", contou a mulher. Ih revolta geral na fila da Rua Dias da Cruz, sob um sol escaldante nesse verão mais seco que a caatinga nordestina. Ela deu detalhes: "O comerciante tem uns acertos com pessoal de necrotérios em hospitais. A turma que cuida dos mortos tem prioridade em receber a vacina. Foi assim que ele conseguiu chegar até a dose salvadora".
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Eu telefonei para o Otacílio e contei a manobra do papa defunto espertinho. Ele esbravejou mas, em seguida, bateu na mesma tecla do papo no bar: "Logo vão falsificar os produtos. Quer apostar ?". Caramba, o velho companheiro não esqueceu da conversa, durante o papo no botequim. Ele foi mais adiante: "Os traficantes misturam polvilho e pó de mármore em cocaína. E os usuários cheiram essa porcaria. Já viu algum viciado reclamando da falsificação?" Céus, Otacílio entrou na paranoia.
Como tinha de comprar milho picado para alimentar os pássaros no meu quintal, fui até ao Méier. Curioso, abordei um camelô - gosto de chamar de mascates - e indaguei: "Ô camarada, quando vai ter vacina da covid para vender nas bancas?" O rapaz, com um sorriso maroto no rosto, olhou para os lados e respondeu em tom baixinho: "Em breve, meu senhor, em breve". Entrei na jogada e não resisti: "Posso deixar umas doses recomendadas?" Sabe que o jovem me respondeu? " Calma, vai passando aqui na banca. Estamos de olho na mais recente vacina, uma inglesa, chamada de Novavax, que está quase chegando no Brasil". Acho que Otacílio tem razão.