Somos educados e obedecemos às determinações sanitárias vigentes. Afinal, é Carnaval e, quase tudo, acaba na Quarta-Feira de Cinzas
Por Luarlindo Ernesto
A máscara é o item mais usado no mundo. Antes, durante e depois do Carnaval. Desde o início do ano passado, incluindo os povos da Ásia, que começaram a usá-las antes da pandemia atual e, hoje em dia, englobam povos de todas as regiões e religiões do nosso velho planeta. O mundo está mascarado.
Bem, tem sempre uns mal educados que não usam. Também tem gente que não lava as mãos e quase nem toma banho. Esses devem ser os mesmos que furam filas, avançam sinais de trânsito, param em locais proibidos, andam nos acostamentos das estradas, fazem "gatos" nos hidrômetros da Cedae (que fornece geosmina e barro na pouca água que cobra), ou os que adulteram os marcadores das fornecedoras de energia elétrica.
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São quase os mesmos que falsificaram documentos para receberem o auxílio emergencial nesta hora de desemprego, miséria, fome e doença. Nem no Carnaval esses desclassificados usam máscaras. Desconfio que, os ladrões que roubaram a grana pública da Saúde, e que por acaso ainda estão na cadeia - a maioria está em casa, com ou sem tornozeleira - não usam o item de segurança sanitária... Bem, pelo menos, nesses casos, as máscaras caíram. Concordam?
Estamos no Ano do Touro, ou Boi, como queiram, no calendário chinês. A vizinhança lembrou logo do churrasco. O preço da carne está na estratosfera. Lembrei da kafta, o churrasquinho que os árabes inventaram. Não deixa de ser churrasco. Carne moída sai mais em conta, deixa o bolso com folga para os "molhos" que o prato solicita. Ou será que tem gente que come churrasco e bebe refresco de groselha? No meu paladar, ou gosto, não combina.
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O vizinho de bombordo está fazendo uma - sem trocadilho - "vaquinha" para amenizar a despesa geral. O vizinho de estibordo, um dos mais fofoqueiros da região, me contou. Consultei o Fred: "Ô Fred, você vai entrar nessa despesa rachada?" O suíço descartou a manobra e foi avisando que vai preparar um Rosti, aquele bolo de batatas amassadas e carne moída e queijo mussarela, entre outros ingredientes, como recheio. Só que Fred ainda coloca pedacinhos de alguns legumes. "Vou colocar até carne seca", sacramentou o amigo.
Deve ser pedido da mulher dele. Mas, o Rosti adaptado à brasileira, somente vai rolar no sábado. E a vizinhança gosta de prolongar o feriado. Então, nessa pandemia-pandemônio, todo mundo sem grana, avisei ao vizinho fofoqueiro para ter cuidado com a kafta. "Lembra daquela carne misturada com papelão?". Ih, o cara lembrou e saiu espalhando o possível golpe. Acho que vai melar a vaquinha do morador de bombordo...
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Consultei o Nélson. Ele gosta mesmo é de comer peixe na brasa. "Não vou mudar meu cardápio. Já comprei um namorado de quatro quilos. Vai ser recheado com camarão e mexilhões. Refrigerante para o neto, cerveja para minha mulher, meu genro e para o velho que aqui, camarada. E não boto os pés nas ruas".
Telefonei para o Ibiapina e indaguei sobre o prato do dia e os planos para os dias de Momo. O velho amigo deu uma de malandro: "Tô viajando para Friburgo, com a família. Lá, quem decide é a sogra. Só levo as bebidas e a sobremesa". Ele sempre gosta de sair do Rio em feriadões. Ou, até mesmo em feriadinhos. A desculpa é a de fugir da confusão, do barulho, da violência. Mas, insisti: "Não vai ter Carnaval?". E ele: "Faz de conta que vai ter". Caramba, vou descartar a kafta comunitária. Ficarei na caverna... Avisei à patroa para fazer um sopão, "com água mineral". Uma panela, das grandes, resolve o problema.
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Vou lavar o estoque de máscara que tenho, para desfilar no quintal, agarrado a vassoura, varrer a área diariamente, e aguardar o cardápio europeu. O que preparamos por aqui é a do tipo Sopa do Cavalo Cansado. Ih, o caldeirão dá para três dias.
Não conhecem? Simples: pegue tudo que tiver na geladeira e freezer, coloque no caldeirão. Se tiver legumes, verduras, carne de peito cortadinha, salgados e feijão branco, também vai. Macarrão, jamais. Não esqueçam da máscara na hora de esfregar o umbigo no fogão. Somos educados e obedecemos às determinações sanitárias vigentes. Afinal, é Carnaval e, quase tudo, acaba na Quarta-Feira de Cinzas, no portão, o aviso: "TÔ COM COVID - NÃO ENTRE".