Cês já repararam que existem várias "guerras" em nosso país tropical? A das escolas públicas ou particulares (abrem ou não abrem), a do Carnaval (vai ser em junho, ou não), a da galeras das baladas (que insistem em se esbaldar), a das praias (sempre cheias), a das liberações das vacinas (a de São Paulo versus as todas as outras do mundo afora)...
Mas, calma, ainda não acabou. A mais recente é a da mídia. Explico: "A vacinação será iniciada no dia 20 de janeiro" - disse quase com certeza um jornalista da emissora carioca, em pleno programa das 12 horas. Mas, pasmem, acrescentou rapidinho que "pode ser, ainda não confirmei a data". Enquanto isso, em outra emissora recém chegada ao Brasil, o noticiário informava que "o avião que iria decolar para a Índia, em voo direto do Recife, somente partirá do solo brasileiro na noite do dia seguinte". Notaram o choque de informação, na guerra de querer ser o primeiro a acertar o dia que o Brasil dará o Grito da Vacinação?
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Tem mais, não acabou a "guerras". O Ministério da Saúde havia garantido que o estoque de seringas e agulhas seria suficiente para a demanda. Bolas, o estoque é para as vacinas programadas no país, já agendadas nas campanhas de todos os anos. Um usuário de drogas - para não chamá-lo de viciado - me disse que tem seu estoque particular de seringas e agulhas garantido, "esses caras querem me deixar a ver navios, mas não vão..." Pô, o usuário tem estoque. O país não tem estoque para combater a covid !
E, a última, acho eu, é a "guerra" das fotos: quem será que se mostrará recebendo a picada para a imagem que rolará na mídia? É a guerra da imagem. As "guerras" do Enem e a do futebol (a volta dos torcedores aos estádios), eu não vou somar e nem lembrar.
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Fico aqui, na caverna, pensando sobre os mais de 200 mil mortos. E nos outros 200 milhões que ainda estão quase vivos por aí, do Oiapoque ao Chuí, passando por Brasília. Todos vítimas dessas "guerras" loucas. Já não basta eu, e milhares de outras pessoas, viverem enclausuradas enquanto outros tantos desafiam o vírus na mais santa ignorância do que é uma pandemia? E as piadas sobre a coisa? Vou lembrar um detalhe, aliás, que acredito que a maioria não saiba: para sepultar seu ente querido, depois de todas as lágrimas e sofrimentos, e das despesas decorrentes, ainda tem a que chamo de derradeira facada: é a taxa de exumação.
Para o enterro ser consumado, amigas e amigos, a família do "de cujo" ainda tem que pagar uns R$ 800 para que o morto seja exumado daqui a três anos. Se não pagar, não tem enterro. Eis a facada de misericórdia.
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Bem, tô aguardando o taberneiro, aqui do lado Sul, aprontar a empada de ostra. Já preparei o chá de salsaparrilha para acompanhar. O padeiro passou mais cedo. O mascate que amola facas e conserta panelas e chaleiras aparece quando o sol tá quase indo embora. O sinal da internet está ótimo, os vizinhos - três morreram dede o último domingo - estão calmos e silenciosos e os pássaros ainda cantam. Já varri as folhas do quintal, colhi uns cachos de uvas, do tipo sem caroço, enviei o Boletim do coronavírus para o Ibiapina, Simone e Fred.
Ah, mandei limpar os reservatórios de água - todos bem fechados - e lavei o carro. Somente após as 17 horas, diariamente, é que molho as hortaliças. O pé de nêsperas tá prometendo uma safra das boas. A macieira ultrapassou os dois metros de altura e o tronco está engrossando. Para que todos saibam, já decidi: não saio da Água Santa. Afinal, aqui tem quase tudo (vacina, não). Só tá faltando a praia e o cemitério.