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Revirando um armário com jornais e revistas do tempo em que o arco íris era em preto e branco, achei um pacote da falecida revista O Cruzeiro. Não sou saudosista, mas bateu uma saudadezinha danada. De cara, achei a matéria da morte de Aída Curi, na noite de 14 de julho de 1958, em Copacabana. Agora, em 2019, estou "até aqui" de violências, mortes, milícias, traficantes, estupros, balas perdidas, criancinhas assassinadas. Nesse ano, 1958, a inflação fechou em 24,39%. Dois trens bateram na altura da Mangueira. Quase 200 mortos, e centenas de feridos. Cruzes!

Foquei em anúncios de remédios, a maioria, milagrosos, e que não resistiram ao tempo e morreram, ih, desculpem, foram descontinuados... Cheguei a usar alguns. Olhem aí o Rhum Creosotado (para asma, bronquite, rouquidão, coqueluche, fraqueza pulmonar. Veja ilustre passageiro...), Emulsão de Scott (óleo de fígado de bacalhau, para carência de vitaminas A e D), 1 Minuto (para dor de dentes), a pomada Minancora (combatia a cravos e espinhas), Pílulas de Vida do Doutor Ross (aliviava a prisão de ventre e aliviava a vida do fígado), Regulador Xavier (nº 1, para excessos. O nº 2, para escassez, o remédio de confiança da mulher)... E Dor? Guaraína, "não ataca o coração", o bom e velho Vinho Reconstituinte Silva Araújo (eu bebia no gargalo) e era um fortificante tomado antes das refeições. Biotônico Fontoura, com fósforo e ferro, Caramba, Óleo de Rícino, poderoso laxante e o inevitável Benzetacil. Para a ressaca eu usava o Necroton, administrado via endovenosa. Páreo duro com o boldo, via oral. E o Emplastro Sabiá?

Não consigo lembrar do remédio para hemorroidas. Bem, teria que tomar o Fosfosol, para a ajudar a memória funcionar. Pomada Onken, "revolucionária fórmula alemã (para acabar com panos, rugas e sardas). Tava com coceiras? Mitigal. Para dor de ouvido, Auris Sedina. Ah, para acabar com a fraqueza, raquitismo, anemia e neurastenia (hoje chamariam de estresses), nada melhor que Nutregenol. É tiro e queda! Por falar em queda, tinha a Loção Phenomeno, que evitava a queda do cabelo e a caspa. Não resisti em falar: quando lançaram a cerveja Caracu, logo descobriram que, batida com ovos (com casca) servia como fortificante e estimulante sexual. O slogan era: "beber Caracu é beber saúde", lembram?. E, a partir daí, todos começaram a acreditar que essa cerveja era uma bebida pura, quase inocente. Cansei de beber durante o trabalho. Afinal, era uma inocente Caracu. Bolas, o teor alcoólico é maior do que uma cerveja normal! Aí, então, eu dizia pros chefes: "só bebo Caracu, a inocente"!Tava justificado. Pior fazia quem bebia Catuaba com Jurubeba. Afinal, não havia um certo comprimido azul da atualidade. Gordinhos eram considerados como "cheios de saúde". E não se conhecia vegano...

...Mas, achei no fundo do armário, em uma edição do Correio da Manhã, anúncio de um laquê, uma mistureba danada, usado em spray pelas mulheres para manter fixos cabelos com os penteados que desafiavam a Lei da Gravidade.. Aliás, demorei muito a entender porque usavam Bombril sob os cabelos. Querem mais? Glostora, Gumex, brilhantina (perfumada, ou não), vaselina (não me venham com maledicência, por favor), além da água oxigenada para clarear cabelos e pelos. Tinha gente que ainda passava na pele mistura, diabólica, de coca cola com limão e raspas de caroço de abacate. Tudo para conseguir um bronzeado praiano...Vades retro! E nem preciso falar nos chás. Afinal, nossa flora é a base de medicamentos e drogas que o ser humano se vale para combater os males que nos levam à sepultura. Eu mesmo tinha uma plantação de boldo de dar inveja. Tem gente que usa as bebidas alcoólicas como remédios. O João Nogueira - que Deus o tenha - fez samba, e gravou "Boteco do Arlindo", que avisa sobre indicações para males que "desaparecem" com as bebidas. Vejam o refrão: Gripe cura com limão, jurubeba é pra azia. Do jeito que a coisa vai, o boteco do Arlindo vira drogaria. Sucesso!

 

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