Por Luarlindo Ernesto
O ano de 2011 foi muito triste, complicado, e terrivelmente inesquecível. Sem contar os ataques da Al Qaeda, nos Estados Unidos, com milhares de mortos. Lembram do temporal na Região Serrana que matou, em janeiro, mais de 900 pessoas? Foi um ano que nos roubou figuras que faziam parte do nosso dia a dia. José de Alencar, o vice do Lula, morreu em março depois de mais de uma dúzia de cirurgias na tentativa de barrar um câncer. Em abril, 11 alunos de uma escola em Realengo foram mortas a tiros por um porralouca de ex-aluno que se matou depois. Itamar Franco, o 33° presidente do Brasil, desencarnou em julho. Sócrates, o craque da bola, partiu no início de dezembro e o Joãozinho Trinta foi também. Não vou incluir os “sem obituários” porque, além de ser difícil lembrar de todos, a lista não caberia neste humilde espaço. Aliás, esse assunto me lembrou que, aqui ao lado da sede do jornal, na Lapa, tem uma funerária cujo nome é Santos&Santos. Sugeri a um dos donos que, na minha opinião, o nome deveria ser Santos&Pecadores. Expliquei ao “papa defuntos” que, da minha maneira, é bem mais abrangente...
Essa prosa, com lembranças mórbidas, tem um motivo. Esses dias, encontrei no Face um amigão, o Varsano. Conversa rolando, acabamos falando sobre o tal 11 de setembro, de 2001. Varsano, na época, era o chefe de reportagem. Eu, de folga, em casa e sem energia elétrica. O telefone fixo, sem fio, obviamente não estava funcionando. O celular, um velho motorola telefone-rádio, sem recursos dos de hoje em dia, de nada me adiantava e eu, ignorando o que se passava no Rio, no estado, no país e, consequentemente, no mundo. Me senti como se estivesse em Serra da Saudade, lá em Minas, com seus pouco mais de 800 habitantes. Conhecem? Ouviram falar? Um recanto só de sossego mas que hoje em dia tem wifi e um “orelhão” na rua principal.
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Pois bem, depois de ligar pelo celular para a empresa de energia elétrica várias vezes e sem conseguir saber quando e se iriam
religar a luz, resolvi telefonar para a redação. Atendeu a secretária, a Natalie. - Naná, tô sem luz, aqui na Água Santa! Ela mandou: -
Peraí. Ô Varsano, o Luar tá dizendo que não tem luz na Água Santa! E veio aquela voz do chefe, lá do fundo do fone: - o mundo acabando, os Estados Unidos sendo invadido e bombardeado e o Luar está sem luz! É o fim do mundo mesmo!!! Ô Natalie, diz pro Luar
parar de beber e acender umas velas. Cortaram a luz? Isso é sinal de que ou ele não pagou a conta ou é manobra de terroristas que vão invadir e bombardear a Água Santa. Manda o Luar procurar abrigo no presídio ou no hospital dos malucos, ali pertinho!
Meus deuses e santos. Nem esperei a secretária repassar a resposta. Desliguei o celular - tinha que poupar a bateria do aparelho - avisei a patroa que os marcianos estavam para chegar, juntei o gato e o cão e fui para ao carro, estacionado no quintal, na sombra do pé de pêssego. Liguei o rádio e procurei emissora com noticiários (só tinha as dos evangélicos). Achei uma que informava sobre os ataques. Nervoso, gritando para a mulher se apressar, fui voltando à terra. Pô, invasão na Água Santa? Oh, que terra prestigiada. Em meio aos impropérios da patroa, fui pensando em sair do bairro. Tá ficando muito habitado. Vejam bem, só de presos, a população passa dos mil.. Somando os moradores efetivos (os presos, são flutuantes), deve passar de 3 mil cabeças.
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Amigos, fui alvo de gozação por uns três meses. Até hoje, sempre aparece um companheiro que pergunta se a Água Santa foi bombardeada. Não adianta argumentar. Bem, assim que puder vou mudar para a Serra da Saudade e ficarei vivendo em um mar de tranquilidade, sem a Al Qaeda, sem ladrões, sem fogos de artifício, sem relógio, sem celular, poucos vizinhos, sem Carnaval e sem as listas de Natal. Sugiro aos amigos procurarem a cidade no Google antes dos comentários maldosos.
*Coluna publicada aos sábados