Por O Dia

A história que pensei em contar hoje deixei para depois. Iria falar de um tempo em que ninguém pensava, jamais, em internet. Mas nós, os pobres, comíamos bacalhau, carne seca e comprávamos galinhas no galinheiro da esquina.

Até o ex-deputado Tenório Cavalcante, aquele de Duque de Caxias, chegou a vender os bichos no sítio que tinha lá na Vila São Luiz, no município vizinho. Tempo 'bão', como dizia meu tio-avô, o Seu Barbosa.

Vamos deixar o saudosismo para depois, para os sobreviventes do pandemônio, que as autoridades declararam ser de pandemia. Prometo que, diante da atual conjuntura, vou deixar a história escrita, com bastante antecedência, para evitar surpresa maior.

Não irei para o túmulo levando esse 'causo' que já está na mente e que vou passar para o papel.

Mas, com a permissão de vocês, vamos para a historinha que lembrei, enquanto bebia um cafezinho, agorinha mesmo. Antes, é bom lembrar que completamos 30 anos, mês passado, do confisco da grana na conta corrente, e na poupança. Lembram ? Foi em 16 de março de 1990, o tal Plano Collor... Engraçado, ninguém questionou se a grana 'delle' estava confiscada. Aí, meu Deus. Amanhecemos com R$ 50 na conta. Foi um pandemônio?

Não contei os dias, mas tem mais de um mês que o bichinho chegou, via Itália, enquanto nós aguardávamos que ele viesse da China. Começou enganando as defesas dos brasileiros e brasileiras. Enquanto nós tomávamos conta de um bichinho com os olhos rasgados, ele veio com os olhos abertos, cantando La Traviata, de Verdi. Mas a principal figura feminina da ópera, a Violetta, morre de tuberculose. Não seria vítima da covid-19?

Sei lá, naquele tempo, ninguém conhecia muita coisa além do amor, traição, roubalheira, reis, rainhas, intrigas, conspirações. Bem, mas a tal peste chegou. Com alarde dos irmãos do Norte e do Velho Mundo, além dos parceiros comerciais da Ásia. O Mandetta (ainda lembram dele?) avisou pra gente ficar em casa, lavando as mãos, passando álcool gel e tomando banho.

Ih, tenho que comprar panelas. As que eu tinha, a mulher do vizinho, o de bombordo, pediu emprestada e as usou para três panelaços. As dela, já eram. Então, acabou com as daqui de casa. Já vou ter que comprar panelas, pela internet, é claro.

Tô, nesse exato momento, sentindo cheiro forte de churrasco. Vem de outro vizinho, o de estibordo. O som, que vem junto, é de funk. Volume muito alto para combinar com o cheiro. Vou me vingar.

Ainda tenho umas sardinhas portuguesas no freezer. Vou prepará-las na brasa. O cheiro vai longe e é mais forte do que o do churrasco. Música? Pedi a patroa para limpar o LP da divina Elizeth Cardoso e, com ele, vou combater o funk.

Mas, amigas e amigos, já molhei as plantas, limpei o quintal, falei sozinho, deixei o celular cair, tropecei na gata, acabou o carvão, o carro do ovo tá passando... Ih, o da pamonha, também.

Caramba, apareceu a vizinha das panelas e tô fingindo que não tô vendo. Não tem jeito. Descobri, nesses pensamentos de quem não tem mais nada para fazer que, até o adultério - não é mais crime! - caiu nas pesquisas do Ibope.

Caramba, ninguém (?) está praticando o adultério! Melhor espantar esse pensamento. Não é pensamento de um senhor chefe de famílias... Bolas, acredito que, em mais um mês de entocado na caverna, vou acabar virando santo. Afinal, não estou bebendo nem xarope. Acreditam?

 

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